1.
Deito os pedaços para trás de mim
por cima dos ombros e não olho à volta
nem sem nem pessoas nem animais
cada pedaço uma história
cada palavra no pó
atrás de mim
forma o rasto
2.
Não há caminho para o Olimpo
para as pessoas
apenas arbustos cardos silvas
um cão
guarda o deserto
acorrentado sob um sol já alto
ladra rouco
continua a ladrar
3.
Se me atiro da falésia de Leucade
permaneço no lugar do salto
contando apenas com o mar
esvaziado sem ir até ao fundo
não te atravessei a nado
ó mar tu eu mar
4.
Eu sou Ulisses e tu, sereia, um homem
cantas-me por sobre a água
remo com os braços:
junto ao remoinho sem falar
na sede da tua voz
com a minha fuga te enfeito
na margem do outro lado
Eva Christina Zeller, Sigo a Água, Maria Teresa Dias Furtado (trad.), Relógio d'Água, 1996
Sociedade Civil
Há 2 dias
Sem comentários:
Enviar um comentário