Mostrar mensagens com a etiqueta ovídio. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta ovídio. Mostrar todas as mensagens

domingo, 20 de janeiro de 2013

Nas Bancas






HERO E LEANDRO - Leituras de um Mito
Preço de capa: 18€, 192 páginas.
(ler aqui as primeiras páginas)

O mito de Hero e Leandro é uma história de amor e de morte. Os protagonistas são Hero, sacerdotisa de Afrodite (Vénus para os Romanos), que habitava numa torre em Sesto, e Leandro, um jovem de grande beleza, natural de Abido. Habitavam em margens opostas do Helesponto (hoje, estreito de Dardanelos) e o seu amor não colhia a aprovação dos pais dela, nem a sua condição de consagrada ao culto lhe permitia o casamento. Mas, como o amor encontra sempre uma via para unir os que querem, todas as noites Leandro atravessava a nado o estreito para estar com a amada. Na travessia, era guiado por uma luz que Hero acendia no alto da torre em que morava. Numa noite de tempestade, porém, a luz apagou-se e ele não encontrou o caminho: as vagas arrojaram-no de encontro aos rochedos. No dia seguinte, quando o mar devolveu o corpo, Hero, incapaz de sobreviver sem o amado, precipit ou-se do alto do penhasco onde à noite o esperava. Ao longo dos séculos, este mito, na sua beleza trágica, tem seduzido inúmeros escritores, músicos e artistas plásticos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Ovídio, Amores II.5

No love is worth this much. Cupid, take your quiver
and go. Get out of my life! My usual prayers
these days are for death, which seems a better option
than the torment in which I suffer from that girl!
The evidence is clear. I did not have to infer
from equivocal clues or see my uncertain way
through ambiguities. These are no mere suspicions,
and not even a fool would try to refute them.
Happy is he who can in good conscience defend
his darling, who can swear, “I didn’t do it!”
But stronger than I am in mind and heart is he who can be
satisfied by proving his mistress guilty,
winning the bloody battle and losing the damned war.
I saw what you did. You thought I was drunk and asleep,
but through my half-closed lids I watched you play the coquette,
nodding, flirting, and making that little moue
you sometimes use. I watched your fingers write on the table
messages that you once traced for me.
And your talk was full of suggestive jokes and double-entendres.
Then, when the party broke up and most had left,
and only a few of us drunks were still in the room dozing,
I saw you and him kissing, no mere pecks
of the kind a brother and sister might very well exchange
(Diana and Phoebus, say) but deep probings
as if you were trying to swallow one another’s tongues
(for example, Venus and Mars in the heat of passion).
“What in hell is this?” is what I shouted out.
“Why are you sharing the joys that should be mine?
I assert and will defend my rights. Those kisses are ours,
unencumbered by claims of any third party.”
(Elaborate, but remember I had been drinking a lot.)
She blushed. Of course, she blushed, crimson with shame
with the tint of Tithonus’s spouse, like the flush of a virgin bride
on her wedding night, like roses among the lilies,
or the moon as it sometimes shows itself when it is in labor,
or Assyrian ivory Lydians dye to preserve it
and keep it from turning yellow . . . But you see my desperate condition,
with metaphors running wild to describe her color,
which, I have to admit, was absolutely lovely.
She kept her eyes on the ground, which was also becoming,
and the grief and shame on her face made an appealing picture.
Still, what I wanted to do was tear her hair
and rowel her gorgeous cheeks with my desperate fingernails.
But as I stared at her face my arms dropped
as if she were wearing armor. No longer enraged but humble,
I begged her for kisses no less sweet than those
I had observed. She smiled at me and then she kissed me
in a way that would make great Jove let fall from his hand
his three-forked thunderbolts. Again, I was wretched, thinking
that he had enjoyed embraces just as sweet,
or, even more disturbing, these kisses she gave me
were better than before, inventive now,
or say that she had been taught and now knew how to please
voluptuously. I enjoy them, but they gnaw
at my vitals as I think how she was lewdly taught
and how much pleasure her tutor must have taken.

Tradução de David Slavitt, daqui.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fragmentos de Dois Discursos Amorosos

Traga escrita esta mensagem em toda a extensão da tabuinha: "Vem!"
e eu não tardarei a cingir de louro as minhas tabuinhas vitoriosas
e a colocá-las bem no meio do templo de Vénus;
e nelas hei-de escrever: "a Vénus, estas suas servas que tão fiéis lhe foram, Nasão
as dedica, apesar de, até há pouco, serem um reles pedaço de madeira".

[hoc habeat scriptum tota tabella 'veni!'
non ego victrices lauro redimire tabellas
nec Veneris media ponere in aede morer.
subscribam: 'VENERI FIDAS SIBI NASO MINISTRAS
DEDICAT, AT NUPER VILE FUISTIS ACER.']


Ovídio, Amores 1.11
Cotovia, Lisboa: 2006. (trad.: Carlos Ascenso André)

*

OBJECTOS: Todo o objecto tocado pelo corpo do ser amado torna-se parte desse mesmo corpo e o sujeito sente-se apaixonadamente atraído para ele.

1. Werther multiplica os gestos de fetichismo: beija o nó da fita que Carlota lhe dera nos anos, o bilhete que ela lhe manda (correndo o risco de ficar com areia nos lábios), as pistolas que ela tocou. Do ser amado sai uma força que nada pode deter e que impregna tudo em que ele toca, até mesmo com o olhar: se Werther, não podendo ir ver Carlota, lhe manda o criado, é este mesmo criado sobre quem ela poisou o olhar que se torna para Werther uma parte de Carlota («Eu bem teria gostado de segurar a cabeça dele entre as minhas mãos para o beijar, se não fosse o respeito humano»). Cada objecto assim consagrado (colocado no seio de Deus) assemelha-se à pedra de Bolonha que irradia, à noite, os raios que armazenou durante o dia.

Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, s.v. Objectos
Edições 70, Lisboa: 2006. (trad.: Isabel Pascoal)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ovid in the third reich

non peccat, quaecumque potest peccasse negare,
solaque famosam culpa professa facit.
—(Amores, III, xiv)

I love my work and my children. God
Is distant, difficult. Things happen.
Too near the ancient troughs of blood
Innocence is no earthly weapon.

I have learned one thing: not to look down
So much on the damned. They, in their sphere,
Harmonize strangely with the divine
Love. I, in mine, celebrate the love-choir.

Geoffrey Hill, daqui.

terça-feira, 22 de junho de 2010

À La Bibliotecário de Babel #1

Desafio de Hoje:
15:00- Ovídio contra Keats

O quê? Não vês como o ano se desenrola em quatro fases
no seu percurso, à imitação da nossa própria vida?
Pois, no início da Primavera é terno e lactente, semelhante
à idade da meninice. Então, a erva jovem, sem vigor, é
rechonchuda e tenra, e delicia os lavradores com esperanças.
Então, há flores por toda a parte, e com as cores das flores
brinca o nutriente prado, e não há ainda pujança nas folhas.
Depois da Primavera, o ano, mais robusto, passa ao Verão,
e torna-se um jovem forte. Na verdade, não há estação
mais robusta, nem outra mais luxuriante, nem mais ardente.
Sucede o Outono, que, pondo de lado o ardor da juventude,
é maduro e calmo, moderado, a meio caminho entre jovem
e velho, mas já com as suas têmporas salpicadas de cãs.
E lá chega o Inverno, a tremer de frio, senil, o passo trémulo,
despojado de cabelo, ou então, se algum tiver, todo branco.

Ovídio, Metamorfoses 15.199-213
Cotovia, Lisboa: 2007. (trad.: Paulo Farmhouse Alberto)

['Quid? non in species succedere quattuor annum/ adspicis, aetatis peragentem imitamina nostrae?/ nam tener et lactens puerique simillimus aevo/ vere novo est: tunc herba recens et roboris expers/ turget et insolida est et spe delectat agrestes;/ omnia tunc florent, florumque coloribus almus/ ludit ager, neque adhuc virtus in frondibus ulla est./ transit in aestatem post ver robustior annus/ fitque valens iuvenis: neque enim robustior aetas/ ulla nec uberior, nec quae magis ardeat, ulla est./ excipit autumnus, posito fervore iuventae/ maturus mitisque inter iuvenemque senemque/ temperie medius, sparsus quoque tempora canis./ inde senilis hiems tremulo venit horrida passu,/ aut spoliata suos, aut, quos habet, alba capillos.]

Four Seasons fill the Measure of the year;
Four Seasons are there in the mind of Man.
He hath his lusty spring when fancy clear
Takes in all beauty with an easy span:
He hath his Summer, when luxuriously
He chews the honied cud of fair spring thoughts,
Till, in his Soul dissolv'd they come to be
Part of himself. He hath his Autumn ports
And Havens of repose, when his tired wings
Are folded up, and he content to look
On Mists in idleness: to let fair things
Pass by unheeded as a threshhold brook.
He hath his Winter too of pale Misfeature,
Or else he would forget his mortal nature.

in Keats - The Complete Poems.
Londres, 1970: Longman. (Ed.: Miriam Allott)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ovídio Ilustrado

A Universidade da Virgínia, fundada em 1819 por Jefferson, no terreno que James Monroe, quinto presidente dos EUA, vendeu quando se mudou para a Casa Branca (nada disto interessa para o que se segue, mas achei um pormenor curioso), disponibiliza online um magnífico centro de recursos sobre as Metamorfoses de Ovídio, obra-maior da literatura clássica, colocando acessíveis várias edições latinas da obra, do século XVI a 1914, bem como uma série de traduções antigas, inclusive em português. A joía da coroa, a meu ver, é, porém, a colecção de ilustrações que acompanharam as primeiras edições impressas da obra, da autoria de alguns dos maiores gravadores de então, como Virgil Solis. O site peca apenas por não ser sobremaneira instintivo e pela profusão de janelas que abre. Ainda assim, creio, vale uma visita.

imagem: A Morte de Adónis (Canto X), de Virgil Solis,
para a edição de Sigmund Feyerabendt, Frankfurt, 1581.