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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

cujos olhos faiscavam terrivelmente (Ilíada I.200)

Pallas Athene, de Gustav Klimt, 1898


Atenta antena
Athena
De olhos de coruja
Na obscura noite lúcida

Sophia de Mello Breyner, "Vieira da Silva", in Musa, Caminho, Lisboa, 1994, p.40


Em 2012, comemoram-se os 150 anos de Gustav Klimt e uma vasta colecção das suas obras (cerca de 400 exemplares) encontra-se no Museu de Viena em exposição até ao dia 12 do presente mêS, com destaque para Pallas Athene e o Retrato de Emilie Flöge.

sábado, 9 de junho de 2012

Escuta a canção de Penélope







Loreena McKennitt - Penelope's Song - Live (Nights from Alhambra, 2007)


Penélope

Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I

quinta-feira, 22 de março de 2012

em Hydra: a realidade divina de Sophia

Em Hydra, evocando Fernando Pessoa

Quando na manhã de Junho o navio ancorou em Hydra
(E foi pelo som do cabo a descer que eu soube que ancorava)
Saí da cabine e debrucei-me ávida
Sobre o rosto do real - mais preciso e mais novo do que o imaginado

Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto
Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto de uma ilha grega
Murmurei o teu nome
O teu ambíguo nome

Invoquei a tua sombra transparente e solene
Como esguia mastreação de veleiro
E acreditei firmemente que tu vias a manhã
Porque a tua alma foi visual até aos ossos
Impessoal até aos ossos
Segundo a lei de máscara do teu nome

Odysseus - Persona

Pois de ilha em ilha todo te percorreste
Desde a praia onde se erguia uma palmeira chamada Nausikaa
Até as rochas negras onde reina o cantar estridente das sereias

O casario de Hydra vê-se nas águas
A tua ausência emerge de repente a meu lado no deck deste barco
E vem comigo pelas ruas onde procuro alguém

Imagino que viajasses neste barco
Alheio ao rumor secundário dos turistas
Atento a rápida alegria dos golfinhos
Por entre o desdobrado azul dos arquipélagos
Estendido à popa sob o voo incrível
Das gaivotas de que o sol espalha impetuosas pétalas

Nas ruínas de Epheso na avenida que desce até onde esteve o mar
Ele estava à esquerda entre colunas imperiais quebradas
Disse-me que tinha conhecido todos os deuses
E que tinha corrido as sete partidas
O seu rosto era belo e gasto como o rosto de uma estátua roída pelo mar

Odysseus

Mesmo que me prometas a imortalidade voltarei para casa
Onde estão as coisas que plantei e fiz crescer
Onde estão as paredes que pintei de branco

Há na manhã de Hydra uma claridade que é tua
Há nas coisas de Hydra uma concisão visual que é tua
Há nas coisas de Hydra a nitidez que penetra aquilo que é olhado por um deus
Aquilo que o olhar de um deus tornou impetuosamente presente -

Na manhã de Hydra
No café da praça em frente ao cais vi sobre as mesas
Uma disponibilidade transparente e nua
Que te pertence

O teu destino deveria ter passado neste porto
Onde tudo se torna impessoal e livre
Onde tudo é divino como convém ao real

Hydra, Julho de 1970

Sophia de Mello Breyner in Cem poemas de Sophia, Editorial Caminho, Colecção Visão 2004.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Auriga: O Cartoon & O Poema

Untitled, de Rousso para Epsilon
(do World Press Cartoon 2010)

A nudez dos pés que o escultor modelou com amor e minúcia
Mostra a pura nudez do teu estar na terra.
A longa túnica em seu recto cair diz o austero
Aprumo de prumo da tua juventude
O pulso fino a concisa mão divina dizem
O pensamento rápido e subtil como Athena
E a vontade sensível e serena:
A ti mesmo te guias como a teus cavalos

Os beiços de seiva inchados como fruto
Dizem o teu amor da vida extasiado e grave
E sob as pestanas de bronze nos olhos de esmalte e de ónix
Fita-nos a tua paixão tranquila
O teu projecto
De em ti mesmo celebrares a ordem natural do divino
O número imanente.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 29 de janeiro de 2011

Dionysos

Entre as árvores escuras e caladas
O céu vermelho arde,
E nascido da secreta cor da tarde
Dionysos passa na poeira das estradas.

A abundância dos frutos de Setembro
Habita a sua face e cada membro
Tem essa perfeição vermelha e plena,
Essa glória ardente e serena
Que distinguia os deuses dos mortais.

Sophia, Dia do Mar, Caminho, 2005

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Rei de Ítaca

A civilização em que estamos é tão errada que
nela o pensamento se desligou da mão

Ulisses rei de Ítaca carpinteirou seu barco
E gabava-se também de saber conduzir
Num campo a direito o sulco do arado

Sophia, O Nome das Coisas, Caminho, 2004