sábado, 28 de dezembro de 2013

Civis Romanus Sum


European literature is coextensive in time with European culture, therefore embraces a period of some twenty-six centuries (reckoning from Homer to Goethe). Anyone who knows only six of seven of these from his own observation and has to rely on manuals and reference books for the others is like a traveler who knows Italy only from the Alps to the Arno and gets the rest from Baedeker. Anyone who knows only the Middle Ages and the Modern Period does not even understand those two. For in his small field of observation he encounters phenomena such as "epic", "Classicism," "Baroque" (i.e., Mannerism), and many others, whose history and significance are to be understood only from the earlier periods of European literature. To see European literature as a whole is possible only after one has acquired citizenship in every period from Homer to Goethe. This cannot be got from a textbook, even if such a textbook existed. One acquires the rights of citizenship in the country of European literature only when one has spent many years in each of its provinces and has frequently moved about from one to another. One is a European when one has become a civis Romanus.

Ernst Robert Curtius. European Literature and the Latin Middle Ages. Willard R. Trask (trad). Bollingen (1953).


Se o conseguir acabar a tempo, possivelmente o melhor livro académico que terei lido em 2013 (competindo apenas com o Bild und KultLikeness and Presence do Hans Belting). Também um dos livros que mais me fez doer a minha pequenez: não é de espantar quando lemos livros de áreas do saber distantes da nossa onde a extensão do conhecimento nos espanta. Mas a experiência de ser tão avassaladoramente esmagado por um livro dentro da área a que me devotei — Literatura, Estudos Clássicos — é algo veramente impagável. Pois este parece que leu tudo, e mais que isso, que lembrou tudo com fixação da passagem exacta, do capítulo, do verso: desde os cantos do Homero a obras obscuras da Antiguidade tardia, passando por referências retóricas encatenadas a partir de poemas medievais, todo o Renascimento, até às obras juvenis do Goethe, liga tudo neste grande monumento à filologia e à Humanitas que explica e implica as literaturas europeias nos cânones retóricos e poéticos da herança comum da Antiguidade. Disto não se ensina, e nós que temos acesso digital instantâneo a todas estas obras às quais ele tinha que manter registos escritos deveríamos sentir pudor perante este gigantismo.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Et incarnatus est


A Origem da Comédia deseja a todos os seus leitores um muito feliz Natal.
Obrigado por nos acompanharem e incentivarem.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

As Três Deusas

Enrique Simonet (1904), El juicio de Paris @ Museu de Málaga. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Filosofia Política Clássica vs Moderna X

William Blake (1820), The Spirit of Plato. 
—Não diremos que há nas estórias antigas alguma verdade?
— A quais te referes?
— Às que falam das múltiplas destruições dos seres humanos por dilúvios, doenças e outras tantas coisas, [catástrofes] nas quais apenas uma pequena parte do género humano foi poupada.
— Tal parece totalmente credível a qualquer um.
— Ora então. Consideremos uma só destas muitas, aquela que ocorreu aquando do dilúvio.
— Que coisa havemos de pensar acerca dela?
— Que os que escaparam à destruição seriam quase todos pastores de montanha, pequenas centelhas do género humano, salvos nos cumes.
— Pois claro.
— E estes, necessariamente, eram inexperientes em todas as artes [...]  E da cidade, da constituição, do legislar, de todas estas coisas de que se ocupa o nosso discurso, acaso julgaremos que havia, por assim dizer, sequer memória de todo?
— De modo nenhum.

{ΑΘ.} Ἆρ' οὖν ὑμῖν οἱ παλαιοὶ λόγοι ἀλήθειαν ἔχειν τινὰ δοκοῦσιν; {ΚΛ.} Ποῖοι δή; {ΑΘ.} Τὸ πολλὰς ἀνθρώπων φθορὰς γεγονέναι κατακλυσμοῖς τε καὶ νόσοις καὶ ἄλλοις πολλοῖς, ἐν οἷς βραχύ τι τῶν ἀνθρώπων λείπεσθαι γένος. {ΚΛ.} Πάνυ μὲν οὖν πιθανὸν τὸ τοιοῦτον πᾶν παντί. {ΑΘ.} Φέρε δή, νοήσωμεν μίαν τῶν πολλῶν ταύτην τὴν τῷ κατακλυσμῷ ποτε γενομένην. {ΚΛ.} Τὸ ποῖόν τι περὶ αὐτῆς διανοηθέντες; {ΑΘ.} Ὡς οἱ τότε περιφυγόντες τὴν φθορὰν σχεδὸν ὄρειοί τινες ἂν εἶεν νομῆς, ἐν κορυφαῖς που σμικρὰ ζώπυρα τοῦ τῶν ἀνθρώπων διασεσωμένα γένους. {ΚΛ.} Δῆλον. {ΑΘ.} Καὶ δὴ τοὺς τοιούτους γε ἀνάγκη που τῶν ἄλλων ἀπείρους εἶναι τεχνῶν [...] {ΑΘ.} Πόλεως δὲ καὶ πολιτείας πέρι καὶ νομοθεσίας, ὧν νῦν ὁ λόγος ἡμῖν παρέστηκεν, ἆρ' ὡς ἔπος εἰπεῖν οἰόμεθα καὶ μνήμην εἶναι τὸ παράπαν; {ΚΛ.} Οὐδαμῶς.

Platão, Leis 677a1-b6 e 678a3-6

*

As for the causes that originate in heaven, those are the ones which destroy the human race and reduce the inhabitants in one region to a bare few, and this occurs either because of pestilence, famine, or flood, and the most important cause is this last one, both because it is the most universal and also because those who save themselves are all mountaineers and crude people who, having no knowledge of anything from antiquity, cannot bequeath it to posterity.

[Quanto alle cause che vengono dal cielo, sono quelle che spengono la umana generazione, e riducano a pochi gli abitatori di parte del mondo. E questo viene o per peste o per fame o per una inondazione d’acque: e la più importante è questa ultima, sì perché la è più universale, sì perché quegli che si salvono sono uomini tutti montanari e rozzi, i quali, non avendo notizia di alcuna antichità, non la possono lasciare a’ posteri.]

Maquiavel, Discourses on Livy ii.5
OUP, Oxford: 1997 (trad.: Julia & Peter Bondanella)

sábado, 14 de dezembro de 2013

fragmento de uma entrada de dicionário ou, da atitude do leitor

Varro uses auditor [à letra: o que ouve] once of a reader of a book [Varr. L.L. 6.1].


















segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

σπουδαῖος



O fragmento tem essa característica: obriga o relevante a aparecer logo, a não ser adiado. O fragmento impõe uma urgência, uma impossibilidade de diferir. Um fragmento não quer que o outro fragmento que vem a seguir diga o que é da sua responsabilidade dizer. O fragmento acelera a linguagem, acelera o pensamento. Trata-se de uma questão de velocidade e mobilidade que aproxima o pensamento de uma certa urgência que existe, por exemplo, no verso. [...] Deixar que a poesia volte a entrar na Filosofia é aceitar um aumento de velocidade da Filosofia: a frase que avança sem medo de dizer rapidamente o que tem a dizer. 

Gonçalo M. Tavares, Atlas do Corpo e da Imaginação [pp. 41; 52]
Caminho, Lisboa: 2013.

σπουδαῖος, palavra grega que significa com pressa e sério (também, mas isso interessa menos para o caso, e é mais óbvio o porquê, bom): poucas pessoas até hoje inteligiram a conexão entre os dois sentidos, o primitivo e o usual. a citação acima é um contributo para a iluminação.

Manos Hadjidakis - Δύο ναυτικά τραγούδια

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Manuscritos da Bodleian e da Vaticana Online








The Bodleian Libraries of the University of Oxford and the Biblioteca Apostolica Vaticana (Vatican Library) have joined efforts in a landmark digitization project with the aim of opening up their repositories of ancient texts. Over the course of the next four years, 1.5 million pages from their remarkable collections will be made freely available online to researchers and to the general public.

The digitization project will focus on three main groups of texts: Hebrew manuscripts, Greek manuscripts, and incunabula, or 15th-century printed books. These groups have been chosen for their scholarly importance and for the strength of their collections in both libraries, and they will include both religious and secular texts. For the launch of the project, however, the two libraries have focused on bringing to light a smaller group of Bibles and biblical commentaries, each of which has been chosen for its particular historical importance.

a visitar aqui.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Há um fragmento de um antigo poema grego/ que tem um erro de aritmética.


A Enfermaria, blogue amigo, com gente da casa, que vivamente recomendamos, publicou há dias uma tradução, por João Moita, de um belíssimo poema de Anne Carson, poetisa canadiana, de formação em clássicas, que já aqui, noutras ocasiões, partilhámos. Venham ler:

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Um Calendário de Advento Diferente


As Belles Lettres, editora responsável por uma das mais importantes séries bilingues de clássicos greco-romanos, propõe um calendário de advento um pouco diferente dos habituais, com trechos de autores clássicos e sugestões de leitura. Todos os dias se abre uma nova janelinha: espreitem.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Eros, Violence, Narrative and the Roman Novel

(informação recebida pela Origem da Comédia)












Coimbra, 6 de Dezembro de 2013 
Sala do Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra

9.45: abertura
10h: José Luís Brandão: “Romancing violence in Suetonius” (Coimbra - CECH)
11h: Costas Panayotakis: “Pain and pleasure in the life of Encolpius” (University of Glasgow)
12h: Delfim Leão: “Typology of violence in Petronius” (Coimbra - CECH)

Intervalo para almoço

14.30: Gabriella Moretti: “Curiositas e romanzo: Meroe, Aristomene e il nome di Socrate” (Università degli Studi di Trento)
15.30: Cláudia Teixeira: “Violence in Apuleius’ Metamorphoses” (Évora - CECH)
16.30: Stelios Panayotakis: “Family violence in the story of Apollonius, king of Tyre” (University of Crete)

Classica Digitalia - Novidades Editoriais

(informação recebida pela Origem da Comédia)

Os Classica Digitalia – braço editorial do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da UC – têm o gosto de anunciar 1 nova publicação, de parceria com a Imprensa da Universidade de Coimbra. Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. OeBook correspondente encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso.

NOVIDADE EDITORAL

Série “Humanitas – Supplementum” [Estudos]
- Joaquim J. S. Pinheiro, Tempo e espaço da paideia nas Vidas de Plutarco (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, Classica Digitalia, 2013). 458 p.
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/158
PVP: 28 € / Estudantes: 22 €

domingo, 1 de dezembro de 2013

A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura II

(informação recebida pela Origem da Comédia)

II COLÓQUIO INTERNACIONAL
A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura:
uma (re)visão da literatura portuguesa das origens à contemporaneidade

4-6 de Dezembro de 2013
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa


Consulte o programa AQUI.

Mais informações e inscrições:
no Secretariado do Centro de Estudos Clássicos
ou por email para literaturaclassica@fl.ul.pt

sábado, 30 de novembro de 2013

Filohelenismo en 'Fuegos' de Marguerite Yourcenar

(informação recebida pela Origem da Comédia)















Convido-o a assistir à conferência do Professor Ramiro González Delgado, “Filohelenismo en Fuegos de Marguerite Yourcenar”, docente da Universidad de Extremadura, a ter lugar na Sala de Vídeo da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no dia 2 de Dezembro (segunda-feira), às 11h30m.



A entrada é livre e sujeita à lotação da sala.

Um Espinho no Pé


Estátua Greco-Romana do Menino que tira um espinho do pé. @ Roma, Museus Capitolinos.


Nina Leen, fotografia para a revista Life, 1949.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Platão Sobre a Dívida


...nem [se há-de] emprestar dinheiro a juros, sendo inclusive lícito nada restituir ao credor, nem o juro [à letra, em grego: o filho] nem o montante emprestado.

...μηδὲ δανείζειν ἐπὶ τόκῳ, ὡς ἐξὸν μὴ ἀποδιδόναι τὸ παράπαν τῷ δανεισαμένῳ μήτε τόκον μήτε κεφάλαιον·

Platão, Leis 5.742c4-6

domingo, 17 de novembro de 2013

CCB - Ciclo Grandes Clássicos da Antiguidade Greco-Latina

Integram este ciclo os grandes clássicos da antiguidade greco-latina, Homero, trágicos, Virgílio, Horácio e Ovídio. Em grande parte, estes modelam a linguagem dos grandes poetas das várias línguas da Europa, reinventando-os em novo tempo.
Mais informação (datas etc) no site.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dar Nomes Às Coisas (Sobre o sarcófago romano em Inglaterra)

Nos últimos dias uma situação que tem agitado o meio classicista online tem sido a descoberta dum sarcófago duma criança romana em Inglaterra. Evidentemente todos nós sabemos que alguém que tenha morrido na semana passada merece um enterro, enquanto que alguém que tenha morrido há mais de 100 anos merece uma vitrine. O desrespeito para com os mortos na museologia contemporânea é gritante, desde as múmias do British Museum, à lava de Pompeia, passando pelos corpos ressequidos na Igreja do Carmo em Lisboa.

Assim, quando li que havia o plano pela Arqueologia de Warwick de dar um nome à criança recentemente exumada «como sinal de respeito», confesso que fiquei feliz. Melhor teria sido não a exumar sequer, mas, visto que o iam fazer, ao menos restituir-lhe aquele grau de humanidade que tantas vezes é negado à grande legião de seres humanos classificados com tiras numéricas e enfiados em sacos de plástico pelas caves de arquivos desse mundo fora.

Esperançoso não fiquei porém por tempo a mais, pois ao ver a lista proposta e a partir da qual será escolhido nome não consegui evitar sentir um nojo imenso. As propostas são as seguintes: 

Oriens (nascente, como o sol)
Loquor (falo, declaro)
Aperio (abro, revelo)
Addo (inspiro, adiciono)
Accendo (ilumino, acendo)
Parvulus (criança, bebé)

O que todas estas palavras têm em comum é que nenhuma delas é um nome próprio. O que quase todas partilham é serem verbos. Não podemos culpar os responsáveis pela elaboração da lista de terem falhas em Latim, pois esta não é de maneira nenhuma uma questão de língua, é antes uma questão de como nos queremos aproximar do passado. Uma criança romana jamais teria um nome deste género, e o facto de o nome mais sensato da lista seja o desumano "Criança" [Puerulus] diz muito do tom. Que insulto não julgaríamos nós estar a ser cometido contra a singularidade de um bebé que fosse chamado apenas "Bebé", sem outro nome que essa descrição?

E apesar disso esse é muito melhor que todas as alternativas, que partilham todas elas dum egocentrismo cronológico sem limites. Queriam honrar a criança, prestar-lhe ritos fúnebres, mas o que fazem? Escolhem palavras que dizem respeito ao (suposto) efeito que a descoberta do cadáver está para ter no nosso tempo: aquele que fala, assumimos nós que do passado, aquele que revela, talvez os segredos da Antiguidade, aquele que ilumina acende e se manifesta aos pobres visitantes de museus do século XXI como aquele que declara aquilo que eles querem ouvir.

Que é tudo menos ouvir o passado tal como ele foi, tudo menos respeitá-lo: uma criança romana chamar-se-ia Marcus, talvez. Ou Postuma. Ou Decimus. Ou Publia. Jamais saberemos, mas escolher um nome romano, talvez um nome específico da Britânia romanizada, seria sim um acto de respeito. Ao passo que as escolhas possíveis, sob a fachada de respeitar esta criança, mais não fazem estão que a humilhá-la e a desumanizá-la ainda mais do que o perturbar da sepultura já fizera. Não são nomes de respeito mas sim de turismo, de turismo perverso porque ilustrado pela teleologia asséptica deste género podre de museologia.


Requiescas in pace.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Colóquio Internacional "Santo Agostinho"

Já várias vezes se disse: é mais comum celebrar os autores que as obras. Mas De Civitate Dei de Agostinho de Hipona, que talvez ele ainda tenha começado no fim de 412, mas que, com toda a certeza, já estava a redigir em 413, um século depois do Édito de Milão, é uma obra que, tendo brotado de uma circunstância histórica concreta ― o saque de Roma, por Alarico, no dia 24 de Agosto de 410, e a necessidade de refutar as acusações aos cristãos por, em virtude de “oferecerem a outra face” (Mt 5, 39), de“amarem os inimigos” e de, “além da capa, darem também o manto” (Lc 6, 27-28), serem culpados da quebra do tónus bélico dos romanos ―, rapidamente escapou ao contexto polémico de origem, tornando-se numa das obras mais marcantes não só do pensamento agostiniano, mas também dos inúmeros comentários, recepções, e traições ao seu pensamento. Longe nós, aqui, qualquer veleidade de lhe estabelecer sequer os contornos. Mas há algo que queremos sublinhar: De Civitate Dei, para o bem e para o mal, foi a primeira narrativa explícita e consciente de uma e única História universal, de cunho providencialista, e da construção teórica da unidade de todo género humano. Se é verdade, como querem alguns, que o tempo das grandes narrativas acabou, já a releitura da obra, hoje, 1600 volvidos, pode pôr-nos de novo perante indagações genuinamente agostinianas: quando ‘as muralhas da nossa cidade’ estão a ruir à nossa volta e o sentido do porvir é incerto, que fazer? As respostas de Agostinho (“a cidade são os cidadãos”,“sem justiça, o que são os reinos senão grandes bandos de ladrões?”) podem interessar mais ou menos, mas é inegável que algumas das suas interrogações podem ser ainda as nossas, e a História, ao invés de acabada, ei-la, in fieri. Teremos que alargar as muralhas? Reconstruí-las mais fortes, como querem alguns, já não (?) face aos bárbaros do Norte, mas contra os famintos do Sul? Destruí-las de vez e olhar mais longe? Eis algumas das questões em cima da mesa, neste Colóquio.

Resumos

Dia 14
09:00h ― Sessão de Abertura:
Reitor da Universidade da Beira Interior
Presidente da Faculdade
Organizadores

Moderador: José Manuel Santos, UBI
09:15h ― Jaume Aurell (UNAV), La Ciudad de Dios de San Agustín: el texto en su contexto
10:00h ― José Rosa (UBI), Questionando uma visão penal da história.
10:45h ― Debate

11:00h ― Intervalo

Moderador: Urbano Sidoncha, UBI
11:30h ― Manuela Martins (UCP-Porto), A Filosofia da História no De Civitate Dei de Santo Agostinho
12:15h ― Montserrat Herrero (UNAV), La teología política de San Agustín en De Civitate Dei
12:45h ― Debate


13:00h ― Almoço

Moderador: António Amaral, UBI
15:00h ― Maria Leonor Xavier (FLUL), Confirmações de Agostinho em De Civitate Dei
15:45h ― António Rocha Martins (CFUL), A ideia de justiça n’A Cidade de Deus
16:30h ― Debate

17:00h ― Intervalo

Moderador: Alexandre Luís, UBI
17:30h ― Américo Pereira (UCP-Lisboa), O absoluto do bem, o espaço, o tempo e o mal, em A cidade de Deus
18:15h ― Ángel Poncela (USAL), De dónde pudo alcanzar Agustín de Hipona aquella noticia con que tanto se acercó a la doctrina platónica
19:00h ― Debate

20:30h ― Jantar

Dia 15

Moderador: João Carlos Correia, UBI
09:00h ― Diogo Barbosa (UC), O mundo em metáforas no De Civitate Dei
09:45h ― Ana Rita Ferreira (CFUL), Do duplo paraíso à antropologia escatológica agostiniana
10:30h ― Debate

11:00h ― Intervalo

Moderador: Ana Leonor Santos, UBI
11:30h ― Filipa Afonso (CFUL), “Um belíssimo poema”. O belo e o tempo nas filosofias de Agostinho e de Boaventura
12:15h ― José Domingues (UBI), Das grandes narrativas à estética mínima. Lyotard leitor de Agostinho
12:45h ― Debate

13:00h ― Almoço

Moderador: André Barata, UBI
15:00h ― António Bento (UBI), ‘Não entrarão no meu repouso’: Glória e Sabatismo e Inoperosidade em Santo Agostinho e Giorgio Agamben
15:45h ― Debate

16:30h ― Encerramento

Auditório do Museu de Lanifícios, UBI- See more at: http://www.ifp.ubi.pt/subp/evento/376#sthash.k7YPMzd7.dpuf

sábado, 9 de novembro de 2013

um fragmento de Timótheo [«cesse tudo o que a Musa antiga canta»]

não canto o que é antigo
porque o que é novo é mais forte ·
Zeus é jovem e governa,
embora antigamente fosse Kronos quem mandava ·
desaparece, Musa antiga!

TimótheoLyrica Græca Selecta [426]. Tradução minha.

ουκ αείδω τὰ παλαιά,
καινὰ γὰρ αμὰ κρείσσω ·
νέος ὁ Ζεὺς βασιλεύει,
τὸ πάλαι δ' ῆν Κρόνος άρχων ·
απίτω Μοῦσα παλαιά

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Parabéns, Platão!

Μακαρίζομεν τὸν Πλάτωνα!


Dita a tradição de que Platão nasceu a 7 de Novembro. Na Antiguidade celebrava-se a data com representações do Symposion, onde se liam os discursos dos symposiastas tal como haviam sido descritos por Platão, ou então faziam-se novos discursos, também em honra do Amor. Esta prática, perdida durante a Idade Média, foi brevement reinaugurada no Renascimento às mãos de Lorenzo de' Medici e do seu hierophante — ou pelo menos é o que nos dita a maravilhosa obra Sobre o Amor de Marsilio Ficino*. Portanto,

Parabéns, Magister.

Quem dos leitores quiser hoje celebrar o maior philósopho de sempre, pegue numa cópia da República, ou do Banquete, ou doutro qualquer, e faça-lhe lendo de lá uma santa libação. Ou então, se o quiser fazer na maneira tradicional, imite Ágathon, Sócrates, Aristóphanes, e todos os outros, e, como diz o madrigal do Monteverdi, não fale de nada a não ser de amor (altro ch'amore — ou, como se diz em bom Grego, «ουδέν άλλο ὴ τὰ ερωτικά» Symposion 177e).



«Platone padre de’ philosophi, adempiuti gli anni ottantuno della sua età, el septimo dì di novembre nel quale egli era nato sedendo a mensa, levate le vivande, finì sua vita. Questo convito, nel quale parimente la natività e fine d’esso Platone si contiene, tutti gli antichi platonici infino a’ tempi di Plotino e Porfirio ciascuno anno celebravano. Ma dopo Porfirio anni MCC si pretermissono queste solenne vivande. Finalmente ne’ nostri tempi el clarissimo viro Lorenzo de’ Medici, volendo el platonico convivio rinnovare, la cura d’esso a Francesco Bandino commisse.» (Fonte)

Imagem: Pormenor de desenho de Paolo Farinati [1524-1606] @ Hermitage

domingo, 27 de outubro de 2013


25 Não te coíbas de repetir o que já disseste, porque és pequeno e só assim talvez será possível que te ouçam. Os grandes, à sua maneira, também se repetem. E se se não repetem, repetem-no os outros se valer a pena. E assim se repetem nesses outros que o repetirem.  Aliás, quanto maior se é, mais repetido se é. Platão, Aristóteles, Kant, quantos outros. Ainda se não calaram nos que deles falaram. E é possível que só se calem quando a espécie humana se calar.

Vergílio Ferreira, Escrever, Bertrand Editora, Chiado 2001, p.30.

sábado, 26 de outubro de 2013

A Odisseia de Fátima Lopes



Colecção Odisseia : Uma Cor, Muitos tons




O desfile decorreu no Les Invalides, conhecido monumento parisiense que durante algumas horas acolheu os modelos do Portugal Fashion na Semana da Moda de Prêt-à-Porter de Paris.
A conceituada estilista Fátima Lopes arrasou, no passado dia 1 de Outubro, com a sua nova Colecção Odisseia para a temporada Primavera/Verão de 2014, toda ela inspirada na Grécia, "elegante, feminina e muito forte em simultâneo, uma mulher inspirada no passado, mas transposta para o futuro".
A criadora madeirense fez surgir uma série de modelos que evocam a mitologia grega e as deusas em particular. A designer de moda sublinhou que a mulher que desfilou nesta coleção "quase que não é humana", quase não anda, aparecendo antes em "pontas de pés com saltos", desafiando o equilíbrio.







Ver reportagem RTP Notícias aqui, modelos aqui.



terça-feira, 15 de outubro de 2013

a alma jamais viu o Belo sem se tornar também ela bela

τὸ γὰρ ὁρῶν πρὸς τὸ ὁρώμενον συγγενὲς καὶ ὅμοιον ποιησάμενον δεῖ επιβάλλειν τῇ θέᾳ. ου γὰρ ὰν πώποτε εῖδεν οφθαλμὸς ἥλιον ἡλιοειδὴς μὴ γεγενημένος, ουδὲ τὸ καλὸν ὰν ίδοι ψυχὴ μὴ καλὴ γενομένη. γενέσθω δὴ πρῶτον θεοειδὴς πᾶς καὶ καλὸς πᾶς, ει μέλλει θεάσασθαι θεὸν τε καὶ καλόν. ἥξει γὰρ πρῶτον αναβαίνων επὶ τὸν νοῦν κἀκεῖ πάντα είσεται καλὰ τὰ είδη καὶ φήσει τὸ κάλλος τοῦτο εῖναι, τὰς ιδέας · πάντα γὰρ ταύταις καλά, τοῖς νοῦ γεννήμασι καὶ ουσίας. τὸ δὲ επέκεινα τούτου τὴν τοῦ αγαθοῦ λέγομεν φύσιν προβεβλημένον τὸ καλὸν πρὸ αυτῆς έχουσαν. ὥστε ὁλοσχερεῖ μὲν λόγῳ τὸ πρῶτον καλόν · διαιρῶν δὲ τὰ νοητὰ τὸ μὲν νοητὸν καλὸν τὸν τῶν ειδῶν φήσει τόπον, τὸ δ'αγαθὸν τὸ επέκεινα καὶ πηγὴν καὶ αρχὴν τοῦ καλοῦ. ὴ εν τῷ αυτῷ τἀγαθὸν καὶ καλὸν πρῶτον θήσειται · πλὴν εκεῖ τὸ καλόν.

Plotino. Enneades. I.6.9. Tradução minha.

É preciso trazer à visão algo que seja semelhante e adaptável àquilo que é visto. Jamais um olho viu o sol sem se tornar igual ao sol, da mesma maneira que a alma jamais viu o Belo sem se tornar também ela bela. Todo aquele que tiver a intenção de contemplar Deus e o Belo tem primeiro de se tornar também ele belo e igual a Deus. Que suba antes de tudo o mais até ao Intelecto, onde todas as Ideias serão belas, e afirmará exactamente isso, que a Beleza são as Ideias. É através delas que tudo o que é belo é belo, visto serem geradas pelo Intelecto e pelo Ser. Dizemos que aquilo que está para além [do Intelecto] é a natureza do Bem, que projecta o Belo à sua volta: ou seja, para resumir, o Belo é aquilo que aparece em primeiro lugar. Ao fazermos uma distinção entre as esferas intelectuais, podemos dizer que é no Belo que se encontram as Ideias, mas que o Bem está para além mesmo dele, e que é a fonte e princípio do próprio Belo. Ou podemos então colocar quer o Bem quer o Belo no mesmo lugar, de maneira que o Belo esteja também ele lá sempre presente.

domingo, 29 de setembro de 2013

[Hölderlin] Natureza e Arte, ou Saturno e Júpiter



Reges o dia nas alturas e floresce a tua
    Lei. És tu quem segura a balança, filho de Saturno!,
        Quem reparte a Sorte e descansa feliz no
            Descanso das imortais artes do poder.

Mas dizem entre si os poetas que em tempos
    Confinaste ao abismo o pai sagrado, o teu pai,
         E que nas profundezas ele se lamenta por estar
            Junto dos selvagens de antes de ti que justamente lá jazem.

O Deus da idade do ouro jamais teve culpa alguma.
    Ele que foi em tempos descansado e grande como tu
        Quando não tinha que enunciar nenhuma ordem
            Nem nenhum dos mortais o chamava pelo nome.

Já cá para baixo! ou então não te envergonhes de estar grato!
    E se insistes em ficar, serve o mais Antigo,
        E concede que seja a ele que os poetas nomeiem
            Antes dos demais Deuses e Homens .

Porque como das Nuvens teu Relâmpago, assim também dele
    Vem aquilo que é teu: é dele que as tuas ordens
        Dão testemunho, e é da Paz de Saturno
            Que tem todo o poder sua origem.

E quando finalmente o meu coração
    Sentir o Vivo, e quando o que tu violentaste entardecer,
        Quando me adormecer placidamente
            No berço o alternável tempo,

Só então te conhecerei, Krónida. Só então te ouvirei,
    Sábio Mestre. Tu que és como nós um Filho
        Do Tempo ao dares a Lei e ao anunciares
            Aquilo que esconde o santo crepúsculo .


Friedrich Hölderlin. Natur und Kunst, oder Saturn und Jupiter.
Tradução minha.


Du waltest hoch am Tag und es blühet dein
    Gesetz, du hältst die Waage, Saturnus Sohn!
        Und teilst die Los' und ruhest froh im
            Ruhm der unsterblichen Herrscherkünste.

Doch in den Abgrund, sagen die Sänger sich,
    Habst du den heilgen Vater, den eignen, einst
        Verwiesen und es jammre drunten,
            Da, wo die Wilden vor dir mit Recht sind,

Schuldlos der Gott der goldenen Zeit schon längst:
    Einst mühelos, und größer wie du, wenn schon
        Er kein Gebot aussprach und ihn der
            Sterblichen keiner mit Namen nannte.

Herab denn! oder schäme des Danks dich nicht!
    Und willst du bleiben, diene dem Älteren,
        Und gönn es ihm, daß ihn vor Allen,
            Götter und Menschen, der Sänger nenne!

Denn, wie aus dem Gewölke dein Blitz, so kömmt
    Von ihm, was dein ist, siehe! so zeugt von ihm,
        Was du gebeutst, und aus Saturnus
            Frieden ist jegliche Macht erwachsen.

Und hab ich erst am Herzen Lebendiges
    Gefühlt und dämmert, was du gestaltetest,
        Und war in ihrer Wiege mir in
            Wonne die wechselnde Zeit entschlummert:

Dann kenn ich dich, Kronion! dann hör ich dich,
    Den weisen Meister, welcher, wie wir, ein Sohn
        Der Zeit, Gesetze gibt und, was die
            Heilige Dämmerung birgt, verkündet.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Projecto PI à procura de voluntários!

Correcção: É às 16h00 do mesmo dia.


O projecto com maior continuidade dentro da Origem tem sido o Projecto PI - Pequena Infância, que parte este ano para a sua quarta (!) edição. O objectivo é dar a conhecer os mitos clássicos às crianças de IPSS, centros de acolhimento e hospitais da cidade através do teatro, com um modelo próprio de sessões que envolve activamente os miúdos. É um projecto que tem tido bastante sucesso e que começa agora inclusive a disponibilizar para reflexão académica os resultados da sua experiência continuada (depois da apresentação do projecto em Paris, segue-se agora uma participação num colóquio em Oxford).

A próxima reunião do projecto, aberta a todos os curiosos e interessados em se juntar, será no dia 1 de Outubro, terça-feira, pelas 16h00, no Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Contamos com a vossa presença!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quando a arte grega perdeu as cores

A esmagadora maioria da escultura e arquitectura grega era pintada a corres garrigas que foram quase completamente perdidas com o desgaste do tempo. A hierarquização do branco face ao variegado que daí resultou teve um profundo impacto na História da Arte e na noção de belo da cultura ocidental. Este é um elegante e urgente artigo sobre a história desse gigantesco mal-entendido.



A Irrepetível Inspiração de Rafael

Take another of Raphael's personifications, Poetry [Imagem 1], or better still his ravishing drawing for that figure [Imagem 2]. From one point of view it is a pictorial sign with the obvious and enumerable attributes of the wings, the lyre and the book. But this vision not only signifies Numine afflatur [Inspiração Divina], it also displays or expresses it. The sign limits are blurred. The upturned gaze may still be a conventional sign for inspiration, carried by the tradition of art from ancient times, but the tense beauty of the figure is Raphael's own, and not even he could quite transfer and repeat it, for it may well be that the finished image is a little less convincing as an embodiment of the Divine afflatus though it has an added wreath.

     

E. GombrichSymbolic Images: Studies in the art of the renaissance. Phaidon (1977).

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Encerramento da Universidade de Athenas

Mais uma para as incontáveis penas da Héllade. Esta, se sequer nos é permitido dizê-lo, particularmente dolorosa: A Universidade de Athenas suspende todas as suas actividades, visto que se tornou impossível funcionar devido aos despedimentos em massa. Vou-me lembrando que o Imperador Justiniano já tinha obrigado a algo semelhante em 529 AD.

domingo, 22 de setembro de 2013

Odysseia — Proémio

Ὀδυσσείας τὸ φροίμιον

Άνδρα μοι έννεπε, Μοῦσα, πολύτροπον, ὃς μάλα πολλὰ
πλάγχθη, επεὶ Τροίης ἱερὸν πτολίεθρον έπερσε·
πολλῶν δ' ανθρώπων ίδεν άστεα καὶ νόον έγνω,
πολλὰ δ' ὅ γ' εν πόντῳ πάθεν άλγεα ὃν κατὰ θυμόν,
αρνύμενος ἥν τε ψυχὴν καὶ νόστον ἑταίρων.
αλλ' ουδ' ὧς ἑτάρους ερρύσατο, ἱέμενός περ·
αυτῶν γὰρ σφετέρῃσιν ατασθαλίῃσιν όλοντο,
νήπιοι, οἳ κατὰ βοῦς Ὑπερίονος Ηελίοιο
ήσθιον· αυτὰρ ὁ τοῖσιν αφείλετο νόστιμον ῆμαρ.
τῶν ἁμόθεν γε, θεά, θύγατερ Διός, ειπὲ καὶ ἡμῖν.

Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou,
depois que de Tróia destrui a cidadela sagrada.
Muitos foram os povos cujas cidades observou,
cujos espíritos conheceu; e foram muitos no mar
os sofrimentos por que passou para salvar a vida,
para conseguir o retorno dos companheiros a suas casas.
Mas a eles, embora o quisesse, não logrou salvar.
Não, pereceram devido à sua loucura,
insensatos, que devoraram o gado sagrado de Hiperíon,
o Sol – e assim lhes negou o deus o dia do retorno.
Destas coisas fala-nos agora, ó deusa, filha de Zeus.

Homero. Odisseia. I.1-11. Tradução de Frederico Lourenço.

School Latin project lands European language award


Mais uma vez, desta vez de Inglaterra, nos chegam notícias de como um reestabelecimento do ensino das línguas clássicas não tem necessariamente que passar pelo aparto estatal. São boas notícias, especialmente porque, ao que me parece, revela que o ensino do Latim está a ser repensado a par do ensino das outras línguas, deixando para trás as bolorentas noções de que há uma categoria (línguas vivas) e outra (línguas mortas), cada qual com métodos diferentes — o que curiosamente leva a que as línguas vivas se aprendam as mortas não. Parabéns a toda a gente envolvida, pelo prémio e pela motivação.


sábado, 21 de setembro de 2013

Vergílio e a Prophecia


Quando chegaram à porta a jovem disse: «Chegou a hora
De interrogar o oráculo. O Deus! Eis o Deus!» Estava a meio da frase
Em frente à entrada quando de súbito a sua expressão e a sua cor
Se desfizeram e os cabelos se engrenharam. Respiração agitada.
O seu peito encheu-se de cólera feroz, e parecia maior do que era.
A voz não era já a duma mortal — e falou como quando a força
De Deus está por perto.

Vergilii Æneis [VI. 45-51]. Tradução minha.

Ventum erat ad limen, cum virgo 'Poscere fata
tempus' ait; 'deus ecce deus!' cui talia fanti
ante fores subito non vultus, non color unus,
non comptæ mansere comæ; sed pectus anhelum,
et rabie fera corda tument, maiorque videri
nec mortale sonans, adflata est numine quando
jam propiore dei.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As Trindades do Pico della Mirandola


Aquele que entender profundamente com o seu intelecto como é que a divisão da Unidade de Vénus se articula com a Trindade das Graças, a Unidade do Destino com a Trindade das Parcas, e a Unidade de Saturno com a Trindade de Júpiter, Neptuno e Plutão, verá a maneira devida de proceder na theologia órphica. 

Pico della Mirandola. 900 Teses [39.8].
Tradução minha.

Qui profunde et intellectualiter divisionem unitatis Veneris in trinitatem Gratiarum, et unitatis fatalis, in trinitatem Parcarum, et unitatis Saturni in trinitatem Jovis, Neptuni et Plutonis intellexerit, videbit modum debitum procedendi in Orphica theologia.


Imagem: Cosimo Rosselli. Detalhe d'O Milagre do Sacramento com Marsilio Ficino, Pico Mirandulensis e Angelo Poliziano. @ Igreja de St. Ambrósio a Firenze.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Maravilhosa Justiça

a justiça é a melhor das virtudes,
nem a estrela vespertina nem a estrela matutina são tão maravilhosas quanto ela.

καὶ διὰ τοῦτο πολλάκις κρατίστη τῶν αρετῶν εῖναι δοκεῖ ἡ δικαιοσύνη
καὶ ούθ᾽ ἕσπερος ούθ᾽ ἑῷος οὕτω θαυμαστός


Aristóteles. Ethica Nicomachea V I. 1129b.
Tradução minha.

Gratias Sergio.

domingo, 1 de setembro de 2013

... Ancient without Modern, Modern without Ancient ...

 

[Gotthold Ephraim] Lessing had in his mind, as well as Latin and Greek, English, French and German always, Italian, even Spanish to some extent. And he read the Latin and the Greek in themselves — and with all due apparatus of technical scholarship considering his time. He was far from the twice- and thrice-garbled sciolism of the average French, and even English, critic of the late seventeenth and earlier eighteenth century, as from the arid pedantry of the Dutch and German scholars of the same date. To him, more perhaps than to any one else, it is due that modern criticism has not followed, more than it has done, the mere foolishness of the "modern" advocates in the Quarrel — that it has fortified itself with those sound and solid studies which antiquity alone can supply. For once more let it be said that if, from the pure critical point of view, Ancient without Modern is a stumbling-block, Modern without Ancient is foolishness utter and irremediable.

George Saintsbury, (1904) A History of Criticism and Literary Taste in Europe (vol.3) Aqui.

sábado, 31 de agosto de 2013

Newness of Sense, Antiquity of Voice! [Hino à Filologia — Ben Jonson]



So that my Reader is assur'd, I now
Mean what I speak, and still will keep that Vow,
Stand forth my Object, then, you that have been
Ever at home; yet have all Countries seen:
And like a Compass, keeping one Foot still
Upon your Center, do your Circle fill
Of general Knowledge; watch'd Men, Manners too,
Heard what times past have said, seen what ours do:
Which Grace shall I make love to first? your Skill,
Or Faith in things? or is't your Wealth and Will
T' instruct and teach? or your unweary'd pain
Of Gathering? Bounty in pouring out again?
What Fables have you vext! what Truth redeem'd!
Antiquities search'd! Opinions dis-esteem'd!
Impostures branded, and Authorities urg'd,
What Blots and Errors have you watch'd and purg'd
Records and Authors of! how rectified,
Times, Manners, Customs! Innovations spied!
Sought out the Fountains, Sources, Creeks, Paths, Ways,
And noted the Beginnings and Decays!
Where is that Nominal Mark, or Real Rite,
Form, Act or Ensign, that hath scap'd your sight?
How are Traditions there examin'd! how
Conjectures retreiv'd! and a Story now
And then of Times (besides the bare Conduct
Of what it tells us) weav'd in to instruct.
I wonder'd at the Richness, but am lost,
To see the Workmanship so 'xceed the Cost!
To mark the excellent seas'ning of your Stile!
And Manly Elocution, not one while
With Horror rough, then rioting with Wit!
But to the Subject still the Colours fit,
In sharpness of all Search, wisdom of Choice,
Newness of Sense, Antiquity of Voice!


Ben Jonson. An Epistle to Master John Selden [27-60in Underwoods. Aqui.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Homenagem a Seamus Heaney (†2013) — A Vigia de Mycenas



Obiit hodie diem supremum Seamus Heaney, amantissimus nobis et carminum excultor subtilis. Sit igitur terra, quam sæpe dulcemque canebas, nunc tibi levis. (1939-2013)

Há alguns anos atrás (2011) partilhámos neste blog a maravilhosa sequência Mycean Outlook (§0§1, §2§3§4§5) do livro do Seamus The Spirit Level. É talvez a mais tocante leitura da peça Agamémnon que eu conheço. Seja este um sinal de lembrança, e, ut aiunt Grai, a marca dum μνημόσυνον.


Mycenae Lookout

The ox is on my tongue.
Aeschylus, Agamemnon

1. The Watchman's War

Some people wept, and not for sorrow — joy
That the king had armed and upped and sailed for Troy,
But inside me like struck sound in a gong
That killing-fest, the life-warp and world-wrong
It brought to pass, still augured and endured.
I'd dream of blood in bright webs in a ford,
Of bodies raining down like tattered meat
On top of me asleep — and me the lookout
The queen's command had posted and forgotten,
The blind spot her farsightedness relied on.
And then the ox would lurch against the gong
And deaden it and I would feel my tongue
Like the dropped gangplank of a cattle truck,
Trampled and rattled, running piss and muck,
All swimmy-trembly as the lick of fire,
A victory beacon in an abattoir...
Next thing then I would waken at a loss,
For all the world a sheepdog stretched in grass,
Exposed to what I knew, still honour-bound
To concentrate attention out beyond
The city and the border, on that line
Where the blaze would leap the hills when Troy had fallen.

My sentry work was fate, a home to go to,
An in-between-times that I had to row through
Year after year: when the mist would start
To lift off fields and inlets, when morning light
Would open like the grain of light being split,
Day in, day out, I'd come alive again,
Silent and sunned as an esker on a plain,
Up on my elbows, gazing, biding time
In my outpost on the roof... What was to come
Out of that ten years' wait that was the war
Flawed the black mirror of my frozen stare.
If a god of justice had reached down from heaven
For a strong beam to hang his scale-pans on
He would have found me tensed and ready-made.
I balanced between destiny and dread
And saw it coming, clouds bloodshot with the red
Of victory fires, the raw wound of that dawn
Igniting and erupting, bearing down
Like lava on a fleeing population...
Up on my elbows, head back, shutting out
The agony of Clytemnestra's love-shout
That rose through the palace like the yell of troops
Hurled by King Agamemnon from the ships.


2. Cassandra

No such thing
as innocent
bystanding.

Her soiled vest,
her little breasts,
her clipped, devast-

ated, scabbed
punk head,
the char-eyed

famine gawk—
she looked
camp -fucked

and simple.
People
could feel

a missed
trueness in them
focus,

a homecoming
in her dropped-wing,
half-calculating

bewilderment.
No such thing
as innocent.

Old King Cock-
of-the-Walk
was back,

King Kill-
the-Child-
and-Take-

What-Comes,
King Agamem-
non's drum-

balled, old buck's
stride was back.
And then her Greek

words came,
a lamb
at lambing time,

bleat of clair-
voyant dread,
the gene-hammer

and tread
of the roused god.
And a result-

ant shock desire
in bystanders
to do it to her

there and then.
Little rent
cunt of their guilt:

in she went
to the knife,
to the killer wife,

to the net over
her and her slaver,
the Troy reaver,

saying, 'A wipe
of the sponge,
that's it.

The shadow-hinge
swings unpredict-
ably and the light's

blanked out.'


3. His Dawn Vision

Cities of grass. Fort walls. The dumbstruck palace.
I'd come to with the night wind on my face,
Agog, alert again, but far, far less

Focused on victory than I should have been÷
Still isolated in my old disdain
Of claques who always needed to be seen

And heard as the true Argives. Mouth athletes,
Quoting the oracle and quoting dates,
Petitioning, accusing, taking votes.

No element that should have carried weight
Out of the grievous distance would translate.
Our war stalled in the pre-articulate.

The little violets' heads bowed on their stems,
The pre-dawn gossamers, all dew and scrim
And star-lace, it was more through them

I felt the beating of the huge time-wound
We lived inside. My soul wept in my hand
When I would touch them, my whole being rained

Down on myself, I saw cities of grass,
Valleys of longing, tombs, a wind-swept brightness,
And far-off, in a hilly, ominous place,

Small crowds of people watching as a man
Jumped a fresh earth-wall and another ran
Amorously, it seemed, to strike him down.


4. The Nights

They both needed to talk,
pretending what they needed
was my advice. Behind backs
each one of them confided
it was sexual overload
every time they did it
and indeed from the beginning
(a child could have hardly missed it)
their real life was the bed.

The king should have been told,
but who was there to tell him
if not myself? I willed them
to cease and break the hold
of my cross-purposed silence
but still kept on, all smiles
to Aegisthus every morning,
much favoured and self-loathing.
The roof was like an eardrum.

The ox's tons of dumb
inertia stood, head-down
and motionless as a herm.
Atlas, watchmen's patron,
would come into my mind,
the only other one
up at all hours, ox-bowed
under his yoke of cloud
out there at the world's end.

The loft-floor where the gods
and goddesses took lovers
and made out endlessly
successfully, those thuds
and moans through the cloud cover
were wholly on his shoulders.
Sometimes I thought of us
apotheosized to boulders
called Aphrodite's Pillars.

High and low in those days
hit their stride together.
When the captains in the horse
felt Helen's hand caress
its wooden boards and belly
they nearly rode each other.
But in the end Troy's mothers
bore their brunt in alley,
bloodied cot and bed.
The war put all men mad,
horned, horsed or roof-posted,
the boasting and the bested.

My own mind was a bull-pen
where homed King Agamemnon
had stamped his weight in gold.
But when hills broke into flame
and the queen wailed on and came,
it was the king I sold.
I moved beyond bad faith:
for his bullion bars, his bonus
was a rope-net and a blood-bath.
And the peace had come upon us.


5. His Reverie of Water

At Troy, at Athens, what I most clearly
see and nearly smell
is the fresh water.

A filled bath, still unentered
and unstained, waiting behind housewalls
that the far cries of the butchered on the plain

keep dying into, until the hero comes
surging in incomprehensibly
to be attended to and be alone,

stripped to the skin, blood-plastered, moaning
and rocking, splashing, dozing off,
accommodated as if he were a stranger.

And the well at Athens too.
Or rather that old lifeline leading up
and down from the Acropolis

to the well itself, a set of timber steps
slatted in between the sheer cliff face
and a free-standing, covering spur of rock,

secret staircase the defenders knew
and the invaders found, where what was to be
Greek met Greek,

the ladder of the future
and the past, besieger and besieged,
the treadmill of assault

turned waterwheel, the rungs of stealth
and habit all the one
bare foot extended, searching.

And then this ladder of our own that ran
deep into a well-shaft being sunk
in broad daylight, men puddling at the source

through tawny mud, then coming back up
deeper in themselves for having been there
like discharged soldiers testing the safe ground,

finders, keepers, seers of fresh water
in the bountiful round mouths of iron pumps
and gushing taps.


Seamus Heaney. (1996) The Spirit Level. faber & faber.