Camões, de António Soares |
versos hão-de ser ditos ao meu Galo, mas que
a própria Licóride possa ler: quem recusaria versos a Galo?
Assim, quando correres sob as ondas sicanas, possa a
amarga Dóride não misturar contigo sua água; começa;
digamos os amores inquietos de Galo, enquanto as cabras
de narinas chatas roem as tenras vergônteas. Não cantamos
para surdos: os bosques tudo repercutem.
[Extremum hunc, Arethusa, mihi concede laborem:
pauca meo Gallo, sed quae legat ipsa Lycoris,
carmina sunt dicenda: neget quis carmina Gallo?
Sic tibi, cum fluctus subterlabere Sicanos,
Doris amara suam non intermisceat undam;
incipe; sollicitos Galli dicamus amores,
dum tenera attondent simae uirgulta capellae.
Non canimus surdis: respondent omnia siluae.]
Virgílio, Bucólicas 10.1-8
in João Pedro Mendes, Contsrução e Arte das Bucólicas de Virgílio.
Almedina, Coimbra: 1997.
No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
Camões, Os Lusíadas 10.145
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