#1
"Ana, me responda alguma coisa, me diga uma palavra, uma única palavra, faça pelo menos um gesto reticente, me basta um aceno leve da cabeça, um sinal na ponta dos teus ombros, um movimento na sobra dos cabelos, ou, na sola dos teus pés, uma ligeira contração em suas dobras" eu pedi suplicando, estava clara a inutilidade de tudo o que eu dizia, estava claro também que eu esgotava todos os recursos com um propósito suspeito: ficar com a alma leve, disponível, que ameaças, quantos perigos!
Raduan Nassar. Lavoura Arcaica. Relógio d'Água: 1999
#2
Jean-Auguste-Dominique Ingres. Jupiter and Thetis (1811). Musée Granet
#3
Mas quando chegou a décima segunda aurora,
Regressaram para o Olympo os deuses que são sempre,
Todos em conjunto, com Zeus à frente: mas Thétis não se esqueceu da promessa
Que tinha feito ao seu filho: ergueu-se na orla das ondas do mar,
E na madrugada subiu ao grande céu do Olympo.
Descobriu Zeus de vasta vista sentado longe dos outros
No pico mais elevado do escarpado Olympo.
E logo se sentou à beira dele, tomou-lhe os joelhos
Com a mão esquerda, e com a direita tocou-lhe no queixo
Lançando estas súplicas ao poderoso Zeus Krónida:
«Pai Zeus, se é que alguma vez eu te honrei junto dos imortais
Com palavra ou acto, concede-me agora este meu desejo.
Honra o meu filho, a quem mais que a qualquer outro uma curta vida
Cabe: e ainda por cima o soberado de homens Agamémnon
Desonrou-o! Veio e sem mais roubou-lhe o seu prémio devido.
Mas tu fá-lo pagar, Olýmpico Zeus conselheiro,
E concede a vitória aos Troianos até que os Aqueus
Honrem o meu filho e lhe paguem o que ele merece.»
Assim falou, mas Zeus que amontoa as núvens não lhe respondeu,
E ficou em silêncio muito tempo. Então Thétis não lhe largou os joelhos
Que lhe tinha agarrado, e falou uma segunda vez.
«Promete-me a tua palavra irrevogável e inclina a cabeça,
Ou diz-me logo que não, visto que nada te coíbe, para que eu fique bem a saber
Que sou realmente a mais desonrada de todas as deusas.»
Ilíada. 1.493-516. Tradução minha.
ἀλλ᾽ ὅτε δή ῥ᾽ ἐκ τοῖο δυωδεκάτη γένετ᾽ ἠώς,
καὶ τότε δὴ πρὸς Ὄλυμπον ἴσαν θεοὶ αἰὲν ἐόντες
πάντες ἅμα, Ζεὺς δ᾽ ἦρχε: Θέτις δ᾽ οὐ λήθετ᾽ ἐφετμέων
παιδὸς ἑοῦ, ἀλλ᾽ ἥ γ᾽ ἀνεδύσετο κῦμα θαλάσσης.
ἠερίη δ᾽ ἀνέβη μέγαν οὐρανὸν Οὔλυμπόν τε.
εὗρεν δ᾽ εὐρύοπα Κρονίδην ἄτερ ἥμενον ἄλλων
ἀκροτάτῃ κορυφῇ πολυδειράδος Οὐλύμποιο:
καί ῥα πάροιθ᾽ αὐτοῖο καθέζετο, καὶ λάβε γούνων
σκαιῇ, δεξιτερῇ δ᾽ ἄρ᾽ ὑπ᾽ ἀνθερεῶνος ἑλοῦσα
λισσομένη προσέειπε Δία Κρονίωνα ἄνακτα:
Ζεῦ πάτερ εἴ ποτε δή σε μετ᾽ ἀθανάτοισιν ὄνησα
ἢ ἔπει ἢ ἔργῳ, τόδε μοι κρήηνον ἐέλδωρ:
τίμησόν μοι υἱὸν ὃς ὠκυμορώτατος ἄλλων
ἔπλετ᾽: ἀτάρ μιν νῦν γε ἄναξ ἀνδρῶν Ἀγαμέμνων
ἠτίμησεν: ἑλὼν γὰρ ἔχει γέρας αὐτὸς ἀπούρας.
ἀλλὰ σύ πέρ μιν τῖσον Ὀλύμπιε μητίετα Ζεῦ:
τόφρα δ᾽ ἐπὶ Τρώεσσι τίθει κράτος ὄφρ᾽ ἂν Ἀχαιοὶ
υἱὸν ἐμὸν τίσωσιν ὀφέλλωσίν τέ ἑ τιμῇ.
ὣς φάτο: τὴν δ᾽ οὔ τι προσέφη νεφεληγερέτα Ζεύς,
ἀλλ᾽ ἀκέων δὴν ἧστο: Θέτις δ᾽ ὡς ἥψατο γούνων
ὣς ἔχετ᾽ ἐμπεφυυῖα, καὶ εἴρετο δεύτερον αὖτις:
νημερτὲς μὲν δή μοι ὑπόσχεο καὶ κατάνευσον
ἢ ἀπόειπ᾽, ἐπεὶ οὔ τοι ἔπι δέος, ὄφρ᾽ ἐῢ εἰδέω
ὅσσον ἐγὼ μετὰ πᾶσιν ἀτιμοτάτη θεός εἰμι.
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