quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Teu Mal Faz-Me Tão Bem


—Não sei que mais dizer, por Zeus. Todavia, nisto creio, a justiça consiste em beneficiar os amigos e prejudicar os inimigos.
— Mas posso perguntar se por amigos entendes aqueles que parecem a um homem ser respeitáveis ou os que realmente o são, ainda que não o pareçam? E questiono-te de modo similar para os inimigos.
— Parece-me natural que os homens amem aqueles que supõe ser bons e antipatizem com os que julguem maus.
— Mas não se enganam os homens, estimando como bons muitos que o não são e de modo inverso?
— Sim, enganam.
— Para estes, por conseguinte, as pessoas de bem são os seus inimigos, e os maus, os seus amigos?
— É verdade.
— Não obstante, segundo eles, a justiça consiste em servir os maus e prejudicar as pessoas de bem?
— Assim parece.
— Logo, e uma vez mais, as pessoas de bem são justas e incapazes de injustiça.
— É verdade.
— Segundo o teu raciocinar, é justo fazer mal àqueles que nã praticam injustiças?
— Não, não Sócrates! sustentar esse raciocínio parece-me perverso.
— É então justo prejudicar o injusto e fazer bem ao justo?
— Essa parece ser uma conclusão melhor do que a outra.
— Acontecerá, Polemarco, que para muitos, iludidos no seu juízo sobre os homens, será justo prejudicar os amigos, porque os tinham maus, e beneficiar os inimigos, pois os têm por bons, conclusão oposta à que fizemos dizer a Simónides.
— Muito acertado, assim parece. Mas corrijamos a nossa definição de amigo e de inimigo, já que há a possibilidade de que nos tenhamos enganado quanto à definição que deles demos.
— Como os definimos, Polemarco?
— Que aquele que nos parece homem de bem, esse é o amigo.
— Pois bem! E agora como corrigiremos a nossa definição?
— O amigo é aquele que parece e que é, na realidade, homem de bem, enquanto que aquele que o parece, sem o ser, não é amigo senão em aparência. E é necessário presumir o mesmo acerca da definição do inimigo.
— Segundo parece, o amigo será o homem de bem e o mau o inimigo.
— Sim.
— Vê que acrescentámos à ideia do justo, algo mais do que dissemos até agora, quando afirmámos que é justo fazer bem a um amigo e mal a um inimigo. Temos agora que acrescentar que é justo fazer o bem a um amigo bom e mal a um inimigo mau?
— Sim, essa seria a forma de falar com propriedade.
— É próprio de um homem justo fazer mal a um qualquer homem?
— É cerco que se deve fazer mal aos que são em simultâneo maus e nossos inimigos.

Platão, República 334b8-335b3, Elísio Gala (trad.). Guimarães: 2005


— οὐ μὰ τὸν Δί᾽, ἔφη, ἀλλ᾽ οὐκέτι οἶδα ἔγωγε ὅτι ἔλεγον: τοῦτομέντοι ἔμοιγε δοκεῖ ἔτι, ὠφελεῖν μὲν τοὺς φίλους ἡ δικαιοσύνη,βλάπτειν δὲ τοὺς ἐχθρούς.
— φίλους δὲ λέγεις εἶναι πότερον τοὺς δοκοῦντας ἑκάστῳ χρηστοὺςεἶναι, ἢ τοὺς ὄντας, κἂν μὴ δοκῶσι, καὶ ἐχθροὺς ὡσαύτως;
— εἰκὸς μέν, ἔφη, οὓς ἄν τις ἡγῆται χρηστοὺς φιλεῖν, οὓς δ᾽ ἂνπονηροὺς μισεῖν.
— ἆρ᾽ οὖν οὐχ ἁμαρτάνουσιν οἱ ἄνθρωποι περὶ τοῦτο, ὥστε δοκεῖναὐτοῖς πολλοὺς μὲν χρηστοὺς εἶναι μὴ ὄντας, πολλοὺς δὲτοὐναντίον;
— ἁμαρτάνουσιν.
— τούτοις ἄρα οἱ μὲν ἀγαθοὶ ἐχθροί, οἱ δὲ κακοὶ φίλοι;
— πάνυ γε.
— ἀλλ᾽ ὅμως δίκαιον τότε τούτοις τοὺς μὲν πονηροὺς ὠφελεῖν, τοὺς δὲ ἀγαθοὺς βλάπτειν;
— φαίνεται.
— ἀλλὰ μὴν οἵ γε ἀγαθοὶ δίκαιοί τε καὶ οἷοι μὴ ἀδικεῖν;
— ἀληθῆ.
— κατὰ δὴ τὸν σὸν λόγον τοὺς μηδὲν ἀδικοῦντας δίκαιον κακῶςποιεῖν.
— μηδαμῶς, ἔφη, ὦ Σώκρατες: πονηρὸς γὰρ ἔοικεν εἶναι ὁ λόγος.
— τοὺς ἀδίκους ἄρα, ἦν δ᾽ ἐγώ, δίκαιον βλάπτειν, τοὺς δὲ δικαίουςὠφελεῖν;
— οὗτος ἐκείνου καλλίων φαίνεται.
— πολλοῖς ἄρα, ὦ Πολέμαρχε, συμβήσεται, ὅσοι διημαρτήκασιν τῶν ἀνθρώπων, δίκαιον εἶναι τοὺς μὲν φίλουςβλάπτειν—πονηροὶ γὰρ αὐτοῖς εἰσιν—τοὺς δ᾽ ἐχθροὺς ὠφελεῖν—ἀγαθοὶ γάρ: καὶ οὕτως ἐροῦμεν αὐτὸ τοὐναντίον ἢ τὸν Σιμωνίδην ἔφαμεν λέγειν.
— καὶ μάλα, ἔφη, οὕτω συμβαίνει. ἀλλὰ μεταθώμεθα: κινδυνεύομενγὰρ οὐκ ὀρθῶς τὸν φίλον καὶ ἐχθρὸν θέσθαι.
— πῶς θέμενοι, ὦ Πολέμαρχε;
— τὸν δοκοῦντα χρηστόν, τοῦτον φίλον εἶναι.
— νῦν δὲ πῶς, ἦν δ᾽ ἐγώ, μεταθώμεθα;
— τὸν δοκοῦντά τε, ἦ δ᾽ ὅς, καὶ τὸν ὄντα χρηστὸν φίλον:
— τὸν δὲ δοκοῦντα μέν, ὄντα δὲ μή, δοκεῖν ἀλλὰ μὴ εἶναιφίλον. καὶ περὶ τοῦ ἐχθροῦ δὲ ἡ αὐτὴ θέσις.
— φίλος μὲν δή, ὡς ἔοικε, τούτῳ τῷ λόγῳ ὁ ἀγαθὸς ἔσται, ἐχθρὸς δὲὁ πονηρός.
— ναί.
— κελεύεις δὴ ἡμᾶς προσθεῖναι τῷ δικαίῳ ἢ ὡς τὸ πρῶτον ἐλέγομεν,λέγοντες δίκαιον εἶναι τὸν μὲν φίλον εὖ ποιεῖν, τὸν δ᾽ ἐχθρὸνκακῶς: νῦν πρὸς τούτῳ ὧδε λέγειν, ὅτι ἔστιν δίκαιον τὸν μὲνφίλον ἀγαθὸν ὄντα εὖ ποιεῖν, τὸν δ᾽ ἐχθρὸν κακὸν ὄντα βλάπτειν;
— πάνυ μὲν οὖν, ἔφη, οὕτως ἄν μοι δοκεῖ καλῶς λέγεσθαι.
— ἔστιν ἄρα, ἦν δ᾽ ἐγώ, δικαίου ἀνδρὸς βλάπτειν καὶ ὁντινοῦνἀνθρώπων;
— καὶ πάνυ γε, ἔφη: τούς γε πονηρούς τε καὶ ἐχθροὺς δεῖ βλάπτειν.

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