sábado, 12 de fevereiro de 2011

Poemas Para O Dia Dos Namorados - II

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
O Ménalo tem sempre um bosque retumbante e pinheiros
que falam; sempre ele ouve os amores e Pã,
que foi o primeiro a não deixar as flautas ociosas.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Nisa é dada a Mopso: o que nós, enamorados, não podemos
esperar? Já os grifos se unirão a cavalos e, no século
seguinte, os tímidos gamos virão com os cães aos bebedouros.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Mopsos, talha novas tochas: a esposa te é trazida; esparze
as nozes, ó marido: por ti, Vésper deixa o Eta.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Oh desposada com um digno marido, enquanto a todos
desprezas e enquanto a minha flauta e as minhas cabras e o meu
supercílio eriçado e a minha barba crescida te causam horror,
e acreditas que nenhum dos deuses cuida das coisas mortais!

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Em nossos cercados eu te vi, em pequena, colher com
tua mãe maçãs cobertas de orvalho (era eu o vosso guia);
já então eu entrara no primeiro ano depois do undécimo;
eu já podia, do chão, alcançar os ramos frágeis: mal eu te vi,
logo me perdi, logo um funesto desvario me arrebatou!

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Agora sei o que é o amor: o Tmaro ou o Ródope ou
os garamantes dos confins dão à luz em duras rochas
um filho que não é da nossa raça nem do nosso sangue.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
O fero amor ensinou a mãe a manchar suas mãos com
o sangue dos filhos; também tu, ó mãe, foste cruel: foi
mais cruel a mãe, ou mais pérfido aquele filho?
Pérfido o filho; cruel tu o foste igualmente, ó mãe.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Agora que o lobo fuja espontaneamente das ovelhas;
que os duros carvalhos produzam maçãs de ouro; que o olmo
floresça com narciso, o âmbar untuoso exsude da casca do
tamarindo, as corujas disputem com os cisnes, Títiro seja
um Orfeu nos bosques, um Arião entre os golfinhos.

Começa, comigo, ó minha flauta, os versos de Ménalo.
Que tudo se torne alto-mar*. Adeus, bosques:
do píncaro elevado eu me precipitarei nas águas;
fica com este último dom de um moribundo.

Deixa, deixa imediatamente, ó flauta, os versos de Ménalo.

*ou, em bom português, après moi, le déluge.

Virgílio, Bucólicas 8.21-61
in João Pedro Mendes, Construção e Arte das Bucólicas de Virgílio.
Almedina, Coimbra: 1997

[Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Maenalus argutumque nemus pinosque loquentis
semper habet; semper pastorum ille audit amores
Panaque, qui primus calamos non passus inertis.


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Mopso Nysa datur: quid non speremus amantes?
Iungentur iam grypes equis, aeuoque sequenti
cum canibus timidi ueniet ad pocula dammae.


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Mopse, nouas incide faces: tibi ducitur uxor;
sparge, marite, nuces: tibi deserit Hesperus Oetam. 


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
O digno coniuncta uiro, dum despicis omnis,
dumque tibi est odio mea fistula dumque capellae
hirsutumque supercilium promissaque barba,
nec curare deum credis mortalia quemquam!


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Saepibus in nostris paruam te roscida mala
(dux ego uester eram) uidi cum matre legentem;
alter ab undecimo tum me iam acceperat annus;
iam fragilis poteram a terra contingere ramos:
ut uidi, ut perii, ut me malus abstulit error!


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Nunc scio quid sit Amor: duris in cautibus illum
aut Tmaros aut Rhodope aut extremi Garamantes
nec generis nostri puerum nec sanguinis edunt.


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Saeuos Amor docuit natorum sanguine matrem
commaculare manus; crudelis tu quoque, mater:
crudelis mater magis, an puer improbus ille?
Improbus ille puer; crudelis tu quoque, mater.


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Nunc et ouis ultro fugiat lupus; aurea durae
mala ferant quercus, narcisso floreat alnus,
pinguia corticibus sudent electra myricae,
certent et cycnis ululae, sit Tityrus Orpheus,
Orpheus in siluis, inter delphinas Arion.


Incipe Maenalios mecum, mea tibia, uersus.
Omnia uel medium fiat mare. Viuite, siluae:
praeceps aerii specula de montis in undas
deferar; extremum hoc munus morientis habeto.


Desine Maenalios, iam desine, tibia, uersus.]

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