sábado, 26 de fevereiro de 2011

Estávamos Nós a Arar

Dos citrinos passamos aos bananais. As bananas, verdes, estão envoltas em túnicas de plástico. A grande flor da bananeira pende para o chão como o órgão sexual de um garanhão. As folhas longas assemelham-se a crinas. Ao fim de dois anos, o solo tem de ser arado e fica em pousio. Plantam-se bananais noutro local - mais trabalho pesado. — Deves ter notado - diz John - que algumas das árvores de citrinos secaram. Quando as raízes chegam às ruínas romanas, as árvores morrem. Há alguns anos, estávamos nós a arar e descobrimos uma rua romana inteira. 
John leva-me ao Hipódromo de Herodes. Os arqueólogos americanos já descobriram algumas daquelas paredes antigas. Olhamos para as escavações, com etiquetas a flutuar em todos os estratos. Há mais cacos do que terra naquelas ribanceiras: são os cântaros dos escravos que construíram aquelas paredes há dois mil anos. No centro do Hipódroo, uma elipse longa e graciosa, está um monólito caído que pesa muitas toneladas. Sentamo-nos sob as figueiras da encosta enquanto a Mississípi [a cadela] corre pelo meio das ervas altas e macias. O vento está brando e mexe a erva com graciosidade. Traça cursos de ar brancos sobre o verde.

Saul Bellow, Jerusalém - Ida e Volta. (pgs. 106-7)
Tinta da China, Lisboa: 2011. (trad.: Raquel Mouta)

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