#1
Ao ver o mais recente post do Jardim de Adónis lembrei-me desta curta-metragem animada de Marcell Jankovics, nomeada para um Óscar em 1974.
#2
Mas claro, é virtualmente impossível falar de Sísypho sem a referência àquele livro que eu permaneço em considerando uma das piores respostas que se pode dar ao problema da futilidade da existência humana representado pelo mito. Camus, no fim do Mythe de Sisyphe,
Deixo Sísypho no sopé da montanha! Encontra-se sempre o próprio fardo. Mas Sísypho ensina-nos a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Também ele julga que tudo está bem. Este universo a partir de agora sem mestre não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada uma das partículas da sua pedra, cada lasca mineral desta montanha cheia de noite, apenas para ele, formam um mundo. A própria luta contra os cumes basta para restaurar ânimo ao homem. É preciso imaginar Sísypho feliz.
Je laisse Sisyphe au bas de la montagne! On retrouve toujours son fardeau. Mais Sisyphe enseigne la fidélité supérieure qui nie les dieux et soulève les rochers. Lui aussi juge que tout est bien. Cet univers désormais sans maître ne lui paraît ni stérile ni futile. Chacun des grains de cette pierre, chaque éclat minéral de cette montagne pleine de nuit, à lui seul, forme un monde. La lutte elle-même vers les sommets suffit à remplir un coeur d'homme. Il faut imaginer Sisyphe heureux.
Albert Camus. Le Mythe de Sisyphe. Gallimard: 1999. Tradução minha.
Mas neste mais profundo dos dramas humanos, não posso compreender a sedução patente desta solução, que aliás perpassa o resto da obra de Camus. A revolta, é essa a solução? Viver o ódio, a cólera, a impotência do ressentimento, é essa a única solução para a felicidade humana? Espero que não seja, pois se for a própria felicidade humana arrisca-se a ser abjecta. Neste sentido a curta-metragem de Marcell Jankovicks fornece uma via ultima mais animadora, conquanto mais ingénua: A finalização da pirâmide, os gemidos quase sexuais, a força geradora da criatura que propele o rochedo para o topo mesmo que no fim ele seja esmagado. Contra Camus, Diónysos: e a Vida Indestructível, a que em tempos os gregos chamaram ζωή (zôê).
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