domingo, 13 de fevereiro de 2011

Poemas Para O Dia Dos Namorados - III, ou Leitores Atentos §12

Et In Arcadia Ego, de Nicolas Poussin (1637-38), @ Louvre, Paris.
Que florestas ou que pastagens vos retiveram, ó jovens
Náiades, quando Galo se consumia por um indigno amor?
Pois nem os píncaros do Parnaso, nem os do Pindo,
nem a aônia Aganipe vos detiveram. Os próprios
loureiros, os próprios tamarindos o choraram; também
o Ménalo pinífero e os rochedos do frio Liceu o choraram
enquanto jazia sob uma rocha solitária. Em volta estão as
ovelhas (elas não nos desdenham, e tu, divino poeta, não
desprezes o rebanho: também o formoso Adônis pastoreou
ovelhas ao longo dos rios); veio igualmente o pastor; vieram
os vagarosos porqueiros; veio Menalcas, molhado pela
colheira da bolota. Todos perguntaram: "De onde te veio
esse amor?". Veio Apolo e disse: "Galo, por que enlouqueces?
Licóride, objecto do teu cuidado, seguiu um outro através
das neves e dos eriçados acampamentos." Veio também
Silvano, com o ornamento agreste da cabeça, brandindo
varas floridas e grandes lírios. Veio Pã, deus da Arcádia;
vimo-lo com os próprios olhos, enrubecido pelas bagas
cor-de-sangue do ébulo e pelo mínio: "Haverá, porventura,
um limite?", disse, "o Amor não cura tais coisas, nem o
cruel Amor se sacia de lágrimas nem os prados de ribeiros
nem as abelhas de codesso nem as cabras de folhagem".

Virgílio, Bucólicas 10.9-30
in João Pedro Mendes, Construção e Arte das Bucólicas de Virgílio.
Almedina, Coimbra: 1997.

[Quae nemora aut qui uos saltus habuere, puellae
Naides, indigno cum Gallus amore peribat?
Nam neque Parnasi uobis iuga, nam neque Pindi
ulla moram fecere, neque Aonie Aganippe.
Illum etiam lauri, etiam fleuere myricae;
pinifer illum etiam sola sub rupe iacentem
Maenalus et gelidi fleuerunt saxa Lycaei.
Stant et oues circum (nostri nec paenitet illas,
nec te paeniteat pecoris, diuine poeta:
et formosus ouis ad flumina pauit Adonis);
uenit et upilio; tardi uenere subulci;
uuidus hiberna uenit de glande Menalcas.
Omnes "Vnde amor iste" rogant "tibi?" Venit Apollo:
"Galle, quid insanis?" inquit; "tua cura Lycoris
perque niues alium perque horrida castra secuta est."
Venit et agresti capitis Siluanus honore,
florentis ferulas et grandia lilia quassans.
Pan deus Arcadiae uenit, quem uidimus ipsi
sanguineis ebuli bacis minioque rubentem:
"Ecquis erit modus?" inquit "Amor non talia curat,
nec lacrimis crudelis Amor nec gramina riuis
nec cytiso saturantur apes nec fronde capellae."]

*

O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu. Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo;
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem, estão presentes.
(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco nos pulmões)
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.

Alberto Caeiro, O Pastor Amoroso
retirado daqui.

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