quarta-feira, 12 de maio de 2010

'Tragedy, Pure and Simple', de George Steiner


As I listen, endlessly, to debates on the Poetics and the new editions (of these, too, there is no end), I am prepared to wager that the young man who took the notes at Aristotle's lecture was sitting very near the door on a very noisy day.
George Steiner, 'Tragedy, Pure and Simple'
in M. S. Silk (ed.), Tragedy and the Tragic. Oxford, Clarendon: 1996.

Sou hoje capaz de afirmar, sem medo, que Steiner é o maior intelectual europeu vivo. Sinto-me honrado de lhe ter podido dirigir a palavra ainda no final do ano passado (para pedir que assinasse o meu exemplar do After Babel), em Viseu, e de o ter podido ouvir falar sobre a condição humana (o tema da sua intervenção). Este senhor, que andou recentemente a ler o Lessons of the Masters e não deixou de partilhar comigo alguns trechos, voltou a despertar-me o desejo de, mais uma vez, regressar a Steiner. Foi por acaso que, ao pesquisar material para um trabalho sobre a Antígona, encontrei este ensaio, donde foi retirada a nota acima (nota cinco, para os interessados). Trata-se de uma coisa pequena, seis páginas e, todavia, eu, que gastei o dia de ontem e hoje só a ler as dezenas de fotocópias que tirei, dos mais variados livros, não li nada, em todo o molhe de folhas, tão total (puro e simples). A um dado momento, quando Steiner analisa o Tímon de Atenas, de Shakespeare, confesso e deixo-vos rirem-se com o facto, tive de fazer um esforço para conter uma lágrima (eu, que só chorei três vezes na vida com livros — e acreditem que leio muito). Acabei por não conseguir ler nada mais: todos os outros artigos em que pegava me pareciam aborrecidamente baços. Mas, sobretudo, como havia eu de acrescentar o que quer que fosse ao meu espírito depois de o ter preenchido tão plenamente (como diz Milton [12.558-9], também eu tinha já «my fill/ of knowledge, what this vessel can contain»)? Não podia senão esvaziá-lo primeiro e por isso acabei por desistir de tentar ler mais textos e resolvi antes começar a escrever algo para o trabalho, que me libertasse espaço na alma, como numa prateleira já cheia e que temos de rearrumar se queremos arranjar espaço para os novos livros que comprámos na Feira.
Se optei por citar uma nota do artigo de Steiner foi porque, se me atrevesse a bater um qualquer parágrafo do texto, sei que, ao fazê-lo, não conseguiria parar no momento em que devia, e inevitavelmente este post tornar-se-ia numa transcrição integral do texto. Não deixem de o ler: é mais do que uma mera súmula ou introdução à sua tese de doutoramento, The Death of Tragedy (leitura obrigatória para quem ama o teatro), até pelos anos que separam os dois e que abrem espaço à maturação das ideias.

2 comentários:

  1. É também, o que não deixa de ser curioso, a tese de doutoramento de Steiner que Oxford recusou :P

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  2. O que nos dá a todos muitas esperanças. "Ah e tal os professores não gostaram muito do meu trabalho."

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