domingo, 23 de maio de 2010

Espionagem

FM: Entre tantos outros projectos de estudo que a ocuparam depois, qual é que destaca?
MHRP: A edição crítica da Pausaniae Graeciae Descriptio, de Pausânias, que fiz para a Biblioteca Teubneriana, a convite da Academia das Ciências de Berlim. Os manuscritos estavam espalhados por toda a Europa. Como, na altura, a saúde da minha mãe não me permitia sair do país, fizeram-me chegar por correio os microfilmes de todos os manuscritos. Ao todo, 26 microfilmes! Até aconteceu uma coisa muito engraçada. Era o tempo da Guerra Fria. Começaram a mandar-me manuscritos de Moscovo e eu fui chamada à Alfândega do Porto. O que era aquilo que eu estava a receber, ainda mais numa língua que ninguém percebia? Fui lá, expliquei o que se passava e apresentei as cartas da Academia das Ciências de Berlim. Disse-lhes: «Estão escritas em alemão. Se quiserem, eu traduzo». De facto, aquilo parecia uma coisa de espionagem. [Risos]
FM: Qualquer dia, o estudo do Grego e do Latim é quase como isso... Espionagem.
MHRP: Até certo ponto, sim. Mas espero que não.

Maria Helena Rocha Pereira, entrevistada por Filipa Melo
in LER 91 (Maio 2010, mas só agora me chegou às mãos).

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