A natureza está à nossa disposição, não como «um monte de lixo espalhado ao acaso» [116], mas como um dom do Criador que traçou os seus ordenamentos intrínsecos dos quais o homem há-de tirar as devidas orientações para a «guardar e cultivar» (Gn 2, 15).[116]: Heráclito de Éfeso (± 535-475 a.C.), Fragmento 22B124, in H. Diels-W. Kranz, Die Fragmente der Vorsokratiker (Weidmann, Berlim 19526).
O fragmento em questão, DK124 (Teofrasto, Metafísica, 15):
*apenas para que não se fique a pensar que o papa não sabe traduzir (a tradução, de resto, nem deve ser dele), note-se que o termo grego, de acordo com o LSJ (o dicionário inglês standard), significa, de facto, sweepings, refuse. Isto que não leve a que se desconsidere a tradução portuguesa, um exercício de violência e rigor, e homenagem condigna ao filósofo.
Mas mesmo àqueles pareceria absurdo se o Universo inteiro e cada uma das suas partes [fossem] totalmente ordenados quanto à proporção, formas, forças e ciclos, mas que, por outro lado, nada disso [houvesse] quanto aos princípios, como afirma Heraclito, «das coisas* lançadas ao acaso, a mais bela, o cosmo».[ἄλογον δὲ κἀκεῖνοδόξειεν ἂν, εἰ ὁ μὲν ὅλος οὐρανὸς καὶἕκαστα τῶν μερῶν ἅπαντ΄ ἐν τάξει καὶ λόγῳ, καὶ μορφαῖς καὶ δυνάμεσιν καὶ περιόδοις, ἐν δὲ ταῖς ἀρχαῖς μηθὲν τοιοῦτον, ἀλλ΄ ὥσπερ σάρμα εἰκῆ κεχυμένον ὁ κάλλιστος, φησὶν Ἡράκλειτος, [ὁ] κόσμος.]Heraclito, Fragmentos Contextualizados
Lisboa, INCM: 2005. (trad.: Alexandre Costa).
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