Tróia e Israel

Se se admitir, de acordo com uma das duas hipóteses que dividem os eruditos, que os Hebreus saíram do Egipto no século XIII, o momento da sua saída está próximo da época em que se deu a guerra de Tróia, tal como Heródoto relata.

Desde logo uma simples suposição se apresenta ao espírito. A de que o momento em que Moisés julgou, com ou sem inspiração divina, que os Hebreus tinham vagueado o suficiente pelo deserto e podiam entrar na Palestina foi aquele em que o país se encontrava despovoado dos seus guerreiros devido à guerra de Tróia, pois os Troianos teriam pedido a ajuda até de povos tão distantes. Os Hebreus, conduzidos por Josué, puderam massacrar, sem dificuldade e sem necessidade de muitos milagres, as populações sem defensores. Mas, um dia, os guerreiros que tinham partido para Tróia regressaram. As conquistas detiveram-se então. Vê-se até, no princípio do Livro dos Juizes, os Hebreus muito menos avançados do que no fim do Livro de Josué; e vemo-los em contenda com populações que sob Josué diziam ter dizimado.

Compreende-se assim que a guerra de Tróia não tenha deixado qualquer traço na Bíblia, e conquista da Palestina pelos Hebreus vestígio algum nas tradições gregas.

Simone Weil, Espera de Deus. Assírio & Alvim. (2005)

Imagem: Josué fala com o Sol, Salvador Dalí (1964)