sábado, 29 de janeiro de 2011

Concurso de Perversidade, ou Pretexto


— Ora faz de conta - redarguiu - que falávamos de homens anormalmente altos e baixos. Queres tu coisa mais rara do que encontrar um homem, um cão ou seja o que for, de proporções anormalmente grandes ou pequenas? E o mesmo poderá dizer-se no que respeita a ser rápido ou lento, feio ou belo, branco ou preto; ou não te apercebes de como, em todo este tipo de qualidades, os graus extremos, que confiam com os limites, são escassos e raros, e os intermediários, pelo contrário, em número infindável?
— Decerto - respondi.
— Ora, se a perversidade fosse posta a concurso, não crês que só muito poucos lograriam brilhar em primeiro plano?
- É natural - assenti.

[— ὥσπερ, ἦ δ᾽ ὅς, περὶ τῶν σφόδρα σμικρῶν καὶ μεγάλων: οἴει τι σπανιώτερον εἶναι ἢ σφόδρα μέγαν ἢ σφόδρα σμικρὸν ἐξευρεῖν ἄνθρωπον ἢ κύνα ἢ ἄλλο ὁτιοῦν; ἢ αὖ ταχὺν ἢ βραδὺν ἢ αἰσχρὸν ἢ καλὸν ἢ λευκὸν ἢ μέλανα; ἢ οὐχὶ ᾔσθησαι ὅτι πάντων τῶν τοιούτων τὰ μὲν ἄκρα τῶν ἐσχάτων σπάνια καὶ ὀλίγα, τὰ δὲ μεταξὺ ἄφθονα καὶ πολλά;
— πάνυ γε, ἦν δ᾽ ἐγώ.
— οὐκοῦν οἴει, ἔφη, εἰ πονηρίας ἀγὼν προτεθείη, πάνυ ἂν ὀλίγους καὶ ἐνταῦθα τοὺς πρώτους φανῆναι;
— εἰκός γε, ἦν δ᾽ ἐγώ.]

Platão, Fédon 90a-b
Lisboa Editora, Lisboa: 2004. (trad.: Teresa Schiappa)

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