Certamente que o caminho do pensamento e do querer-saber também não se limitou naquela altura ao pequeno canto da Europa. Conhecemos as grandes realizações das altas culturas do Próximo Oriente, conhecemos as da América Latina e do Sul e do Leste da Ásia. Sabemos, portanto, que a cultura não tomou necessariamente —nem em todas as partes— o caminho da ciência e do seu poder. Esta caminho foi muito mais seguido pela Europa. Só nesta teve lugar a diferenciação das nossas actividades intelectuais, que nos permite distinguir a filosofia da ciência, da arte e da religião. Quem poderia dizer que Chuang-tsé ou outro sábio chinês era mais religioso, mais douto, mais pensador ou mais poeta? Na Europa, o nosso destino intelectual configurou-se graças ao facto de se terem produzido as máximas tensões entre as múltiplas formações da força criadora espiritual. Em especial, a relação entre filosofia e ciência tem uma importância determinante na situação actual da Europa. Todos sabemos até que ponto a linguagem da arte, e até mesmo a ressonância religiosa na linguagem da arte de culturas remotas, nos pode parecer quase um encontro imediato connosco mesmos. Quem se atreveria a reclamar aqui uma superioridade europeia? Mas a forma da ciência e a forma co conceito que contém a penetração filosófica do conhecimento do mundo são, claro está, particularidades, preferências e também tarefas que só deram o seu cunho à civilização europeia e ao mundo desde que o cristianismo as incorporou e adaptou. Foi justamente na Grécia que se desenvolveu tanto a ciência como a filosofia.
Hans Georg Gadamer, Herança e Futuro da Europa. Edições 70. (2009)
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