quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Também Aquiles Morrerá

Transcrevo o episódio de Licáon, sem dúvida um dos mais conhecidos da Ilíada, em que o jovem Licáon surpreende Aquiles que lhe está prestes a matá-lo com um discurso de súplicas. Transcrevo a minha tradução da súplica e da resposta.


Mas [Licáon] com uma mão suplicou-lhe agarrando-lhe os joelhos
E com a outra prendeu-lhe a lança afiada e não a largou:
Então falando-lhe assim dirigiu-lhe a sua voz voadora:
"Ajoelho-me perante ti, Aquiles; portanto respeita-me e poupa-me:
Perante ti eu sou um suplicante a respeitar, ó gerado por Zeus,
Pois foi contigo que pela primeira vez provei o cereal de Deméter
Naquele dia em que me raptaste na eira bem aplanada
E me levaste, para longe do meu pai e dos meus companheiros,
Para a santa Lemnos, onde me vendeste por cem bois.
Mas agora comprei a minha liberdade por três vezes o meu preço.
E é já a décima segunda aurora desde que cheguei aqui a Ílion;
Onde muito sofri: e de novo agora nas tuas mãos me colocou
A horrível moira; não há dúvida que o Pai Zeus me odeia,
Ao devolver-me a ti: para uma curta vida a minha mãe
Me deu à luz, Laothóe, a filha do velho Altes,
Altes, que governa os Leleges que adoram o combate
e que manda no Pédaso na escarposa Satnioente,
Com cuja filha Príamo casou, e com todas as outras;
Dessa filha nascemos dois, e tu destruir-nos-ás a ambos,
A ele já mesmo o destruiste, no meio dos guerreiros da frente,
o divino Polydóro, quando lançaste a tua lança afiada.
Mas agora espera-me uma desgraça: pois não julgo
Que hei-de escapar às tuas mãos, para onde me conduziu o deus.
Mas digo-te outra coisa, e tu leva-o bem no teu espírito:
Não me mates, que eu não nasci do mesmo ventre que Heitor
Que te matou o teu companheiro gentil e valente."

Assim lhe falou o brilhante filho de Príamo
Suplicando-lhe com paralavras, mas a resposta foi imperturbável.
"Louco! Não me prometas tesouros nem me tentes convencer:
Antes de Pátroclo se ter precipitado para o seu inevitável dia
Não havia altura em que não me fosse agradável ao espírito poupar
Troianos, e capturei vivos muitos para os vender.
Mas agora não escapará à sua morte nenhum daqueles que o deus
Lançar para as minhas mãos diante das portas de Ílion,
Nenhum dos Troianos, muito menos dos filhos de Príamo.
Mas tu, meu amigo, morre tu também. Para quê lamentares-te assim?
Também Pátroclo morreu, que era muito melhor do que tu.
E vês aliás como eu sou mais belo e poderoso?
O meu pai era nobre, e a mãe que me gerou uma deusa.
Mesmo assim também para mim virá a morte e a Moira poderosa.
Há-de chegar uma aurora, uma tarde, ou um meio-dia
Em que alguém me roubará a vida em combate
Lançando uma lança, ou disparando uma flecha."

Assim falou, e Licáon deixou cair os joelhos e o seu querido coração,
Largou a lança, e lançou-se ao chão com as duas mãos
Abertas: então Aquiles desembainhou a espada afiada
E golpeou-o no ombro pelo pescoço e enterrou toda
A lâmina. Estendendo-se de cabeça para cima na terra
Jazeu, e o seu sangue negro escorreu e molhou a terra.

Ilíada 21.71-119. tradução minha.


αὐτὰρ ὃ τῇ ἑτέρῃ μὲν ἑλὼν ἐλλίσσετο γούνων,
τῇ δ᾽ ἑτέρῃ ἔχεν ἔγχος ἀκαχμένον οὐδὲ μεθίει:
καί μιν φωνήσας ἔπεα πτερόεντα προσηύδα:
γουνοῦμαι σ᾽ Ἀχιλεῦ: σὺ δέ μ᾽ αἴδεο καί μ᾽ ἐλέησον:
ἀντί τοί εἰμ᾽ ἱκέταο διοτρεφὲς αἰδοίοιο:
πὰρ γὰρ σοὶ πρώτῳ πασάμην Δημήτερος ἀκτὴν
ἤματι τῷ ὅτε μ᾽ εἷλες ἐϋκτιμένῃ ἐν ἀλωῇ,
καί μ᾽ ἐπέρασσας ἄνευθεν ἄγων πατρός τε φίλων τε
Λῆμνον ἐς ἠγαθέην, ἑκατόμβοιον δέ τοι ἦλφον.
νῦν δὲ λύμην τρὶς τόσσα πορών: ἠὼς δέ μοί ἐστιν
ἥδε δυωδεκάτη, ὅτ᾽ ἐς Ἴλιον εἰλήλουθα
πολλὰ παθών: νῦν αὖ με τεῇς ἐν χερσὶν ἔθηκε
μοῖρ᾽ ὀλοή: μέλλω που ἀπεχθέσθαι Διὶ πατρί,
ὅς με σοὶ αὖτις δῶκε: μινυνθάδιον δέ με μήτηρ
γείνατο Λαοθόη θυγάτηρ Ἄλταο γέροντος
Ἄλτεω, ὃς Λελέγεσσι φιλοπτολέμοισιν ἀνάσσει
Πήδασον αἰπήεσσαν ἔχων ἐπὶ Σατνιόεντι.
τοῦ δ᾽ ἔχε θυγατέρα Πρίαμος, πολλὰς δὲ καὶ ἄλλας:
τῆς δὲ δύω γενόμεσθα, σὺ δ᾽ ἄμφω δειροτομήσεις,
ἤτοι τὸν πρώτοισι μετὰ πρυλέεσσι δάμασσας
ἀντίθεον Πολύδωρον, ἐπεὶ βάλες ὀξέϊ δουρί:
νῦν δὲ δὴ ἐνθάδ᾽ ἐμοὶ κακὸν ἔσσεται: οὐ γὰρ ὀΐω
σὰς χεῖρας φεύξεσθαι, ἐπεί ῥ᾽ ἐπέλασσέ γε δαίμων.
ἄλλο δέ τοι ἐρέω, σὺ δ᾽ ἐνὶ φρεσὶ βάλλεο σῇσι:
μή με κτεῖν᾽, ἐπεὶ οὐχ ὁμογάστριος Ἕκτορός εἰμι,
ὅς τοι ἑταῖρον ἔπεφνεν ἐνηέα τε κρατερόν τε.

ὣς ἄρα μιν Πριάμοιο προσηύδα φαίδιμος υἱὸς
λισσόμενος ἐπέεσσιν, ἀμείλικτον δ᾽ ὄπ᾽ ἄκουσε:
νήπιε μή μοι ἄποινα πιφαύσκεο μηδ᾽ ἀγόρευε:
πρὶν μὲν γὰρ Πάτροκλον ἐπισπεῖν αἴσιμον ἦμαρ
τόφρά τί μοι πεφιδέσθαι ἐνὶ φρεσὶ φίλτερον ἦεν
Τρώων, καὶ πολλοὺς ζωοὺς ἕλον ἠδ᾽ ἐπέρασσα:
νῦν δ᾽ οὐκ ἔσθ᾽ ὅς τις θάνατον φύγῃ ὅν κε θεός γε
Ἰλίου προπάροιθεν ἐμῇς ἐν χερσὶ βάλῃσι
καὶ πάντων Τρώων, περὶ δ᾽ αὖ Πριάμοιό γε παίδων.
ἀλλὰ φίλος θάνε καὶ σύ: τί ἦ ὀλοφύρεαι οὕτως;
κάτθανε καὶ Πάτροκλος, ὅ περ σέο πολλὸν ἀμείνων.
οὐχ ὁράᾳς οἷος καὶ ἐγὼ καλός τε μέγας τε;
πατρὸς δ᾽ εἴμ᾽ ἀγαθοῖο, θεὰ δέ με γείνατο μήτηρ:
ἀλλ᾽ ἔπι τοι καὶ ἐμοὶ θάνατος καὶ μοῖρα κραταιή:
ἔσσεται ἢ ἠὼς ἢ δείλη ἢ μέσον ἦμαρ
ὁππότε τις καὶ ἐμεῖο Ἄρῃ ἐκ θυμὸν ἕληται
ἢ ὅ γε δουρὶ βαλὼν ἢ ἀπὸ νευρῆφιν ὀϊστῷ.

ὣς φάτο, τοῦ δ᾽ αὐτοῦ λύτο γούνατα καὶ φίλον ἦτορ:
ἔγχος μέν ῥ᾽ ἀφέηκεν, ὃ δ᾽ ἕζετο χεῖρε πετάσσας
ἀμφοτέρας: Ἀχιλεὺς δὲ ἐρυσσάμενος ξίφος ὀξὺ
τύψε κατὰ κληῗδα παρ᾽ αὐχένα, πᾶν δέ οἱ εἴσω
δῦ ξίφος ἄμφηκες: ὃ δ᾽ ἄρα πρηνὴς ἐπὶ γαίῃ
κεῖτο ταθείς, ἐκ δ᾽ αἷμα μέλαν ῥέε, δεῦε δὲ γαῖαν.

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