sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Altar da Vitória


Quando, nos dias moribundos do Paganismo Romano, a facção cristã conseguiu com que o Altar da Vitória fosse retirado do edifício do senado, o Prefeito de Roma, Aurélio Símaco, escreveu uma carta ao imperador Valenciano em protesto. Mas o seu pedido foi prontamente refutado pelo então Bispo de Milão futuro Santo Ambrósio, na sua famosa 17ª epístula. A carta de Símaco surge aos nossos olhos ingénua em vários pontos (do mesmo tipo de ingenuidade que já apareceu aqui), mas possui igualmente passagens de uma candura memorável. Uma das quais cito.

Então aos deuses e aos heróis da nossa pátria imploramos salvação. Faz sentido que se considere uma só coisa aquilo a que todos prestam culto. Contemplamos as mesmas estrelas, o céu mostra-se igual para todos, e é o mesmo mundo que nos envolve. O que é que interessa por que ritos é que cada um procura a Verdade? Não se pode chegar por um só caminho a um tão grande segredo. Mas esta discussão é ociosa. Agora é hora de oferecer preces, não mais conflitos.

Ergo diis patriis, diis indigetibus pacem rogamus. Aequum est, quidquid omnes colunt, unum putari. Eadem spectamus astra, commune cælum est, idem nos mundus involvit. Quid interest, qua quisque prudentia verum requirat? Uno itinere non potest perveniri ad tam grande secretum. Sed haec otiosorum disputatio est. Nunc preces, non certamina offerimus. Symmachus, Relatio Tertia sive De Ara Victoriæ, 10.

Mas era já uma causa perdida, e Símaco sabia-o. "Nunc preces, non certamina offerimus." A disputa marcial fora já perdida, igualmente a política, e a teológica estava podre. Agora teria sido preciso um deus ex  machina, mas não veio nenhum.

1 comentário:

  1. A propósito disto, tenho uma sugestão para te fazer para o ano 2011/2012 (antes que o mundo acabe, portanto). Mas depois falamos. E aproveito para dizer que o último parágrafo do post é magnífico.

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