domingo, 6 de junho de 2010

Mr. M. & Dominus M.

A todos os depositários dessas qualidades primitivas que, como Caspar Hauser, deambulam perdidos por qualquer capital cristã do nosso tempo, poderíamos repetir a famosa invocação do poeta*, escrita há uns dois mil anos, dirigindo-se ao bom rústico trasladado da sua latitude para a Roma dos Césares: E tu, honesto e leal Fabiano;/ O que te trouxe à cidade?

Herman Melville, Billy Budd
Biblioteca Editores Independentes, Lisboa: 2010.
(trad.: José Sasportes)

*Marcial, Epigramas 4.5:

Homem bom e pobre, verdadeiro no falar e nos afectos [na língua e no peito],
Qual o interesse, para ti, Fabiano, porque buscas a cidade?
Tu, que não consegues passar por chulo ou pândego
nem chamar em voz grave os reús, pávidos,
nem sabes corromper a mulher de um amigo querido,
nem podes excitar velhotas frígidas
ou vender vapores vazios à volta dos Palácios,
nem aplaudir Cano, nem aplaudir Glaphyro:
do que é que hás-de viver, ó triste? — «Sou um sujeito às direitas, um amigo fiel» —
Isso não conta para nada: assim nunca serás um Philomelo.

[Vir bonus et pauper linguaque et pectore uerus,
quid tibi uis urbem qui, Fabiane, petis?
Qui nec leno potes nec comissator haberi,
nec pauidos tristi uoce citare reos,
nec potes uxorem cari corrumpere amici,
nec potes algentes arrigere ad uetulas,
uendere nec uanos circa Palatia fumos,
plaudere nec Cano, plaudere nec Glaphyro:
unde miser uiues? — "Homo certus, fidus amicus." —
Hoc nihil est: numquam sic Philomelus eris.]

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