quarta-feira, 2 de junho de 2010

A natureza humana não aguentaria

Οὐκ ἔστιν οὐδὲν δεινὸν ὧδ' εἰπεῖν ἔπος
οὐδὲ πάθος οὐδὲ ξυμφορὰ θεήλατος,
ἧς οὐκ ἂν ἄραιτ' ἄχθος ἀνθρώπου φύσις.

Não existe nada tão terrível de se dizer,
Nem sofrimento nem desgraça divina,
Cujo peso a natureza humana não aguentaria.

Eurípides, Orestes 1-3

Com estes 3 versos se abre a tragédia de Eurípides Orestes, onde o mesmo, depois de matar a mãe, se encontra no seu leito louco, incapaz de manter mais que alguns instantes de sanidade antes de cair de novo na loucura. Mas não é isso que para a questão interessa. A peça abre com esta afirmação suprema do poder da natureza humana (mais tarde ouviremos ecos em Sartre, na afirmação categórica da capacidade da liberdade humana de tudo construir e destruir). Conta-se que precisamente neste início da peça, quando o actor (é uma fala de Electra, mas lembremo-nos que todos os papéis eram masculinos), quando o actor terminou de articular os versos, Sócrates, o Sócrates, levantou-se do seu assento, e bateu palmas.

1 comentário:

  1. Isto é quase uma Ode ao Homem II. Chega a ser paradoxal que comece uma tragédia, ou talvez, pelo contrário, seja esse mesmo «aguentar» exactamente o coração de todas as tragédias. Haja orgulho no ser humano.

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