Em seguida uma segunda raça muito pior do que a anterior,
de prata, modelaram os deuses que habitam as mansões Olímpicas,
nada semelhante à de ouro, nem no corpo, nem no espírito.
Os filhos, durante cem anos, junto da mãe prudente,
eram criados e brincavam, muito pueris, dentro de casa.
Mas quando cresciam e atingiam o limiar da juventude,
viviam durante muito pouco tempo, sujeitos a sofrimentos
por irreflexão [...]
Hesíodo, Trabalhos & Dias 127-134
INCM, Lisboa: 2005 (trad.: José Ribeiro Ferreira)
ἀργύρεον ποίησαν Ὀλύμπια δώματ᾽ ἔχοντες,
χρυσέῳ οὔτε φυὴν ἐναλίγκιον οὔτε νόημα.
130ἀλλ᾽ ἑκατὸν μὲν παῖς ἔτεα παρὰ μητέρι κεδνῇ
ἐτρέφετ᾽ ἀτάλλων, μέγα νήπιος, ᾧ ἐνὶ οἴκῳ.
ἀλλ᾽ ὅτ᾽ ἄρ᾽ ἡβήσαι τε καὶ ἥβης μέτρον ἵκοιτο,
παυρίδιον ζώεσκον ἐπὶ χρόνον, ἄλγε᾽ ἔχοντες
ἀφραδίῃς]
irresistivelmente incendiou os semideuses com uma saudade
da nau Argo, irrefutavelmente a fim de que nenhum deles
ficasse para trás, junto das mães, a fermentar uma vida inteira
sem correr riscos, mas antes descobrissem, ainda que lhes
custasse a vida, um elixir para que realizassem a sua excelência
com outros da mesma idade.
Píndaro, Pítica 4.183-188
Quetzal, Lisboa: 2010 (trad.: António Caeiro)
[τὸν δὲ παμπειθῆ γλυκὺν ἡμιθέοισιν πόθον ἔνδαιεν Ἥρα
ναὸς Ἀργοῦς, μή τινα λειπόμενον
τὰν ἀκίνδυνον παρὰ ματρὶ μένειν αἰῶνα πέσσοντ᾽, ἀλλ᾽ ἐπὶ καὶ θανάτῳ
φάρμακον κάλλιστον ἑᾶς ἀρετᾶς ἅλιξιν εὑρέσθαι σὺν ἄλλοις.]
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.
[...]
Fernando Pessoa, Mensagem 3.1.2
imagem: selo grego com representação da Argo.
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