quarta-feira, 30 de junho de 2010
Sim, A Antiguidade Também Tem Coisas Feias (Não É Tudo Só Apolos)
Tenham Um Bom Dia, ou Suplemento ao Último Post
terça-feira, 29 de junho de 2010
Leitores Atentos §2
ἀργύρεον ποίησαν Ὀλύμπια δώματ᾽ ἔχοντες,
χρυσέῳ οὔτε φυὴν ἐναλίγκιον οὔτε νόημα.
130ἀλλ᾽ ἑκατὸν μὲν παῖς ἔτεα παρὰ μητέρι κεδνῇ
ἐτρέφετ᾽ ἀτάλλων, μέγα νήπιος, ᾧ ἐνὶ οἴκῳ.
ἀλλ᾽ ὅτ᾽ ἄρ᾽ ἡβήσαι τε καὶ ἥβης μέτρον ἵκοιτο,
παυρίδιον ζώεσκον ἐπὶ χρόνον, ἄλγε᾽ ἔχοντες
ἀφραδίῃς]
[τὸν δὲ παμπειθῆ γλυκὺν ἡμιθέοισιν πόθον ἔνδαιεν Ἥρα
ναὸς Ἀργοῦς, μή τινα λειπόμενον
τὰν ἀκίνδυνον παρὰ ματρὶ μένειν αἰῶνα πέσσοντ᾽, ἀλλ᾽ ἐπὶ καὶ θανάτῳ
φάρμακον κάλλιστον ἑᾶς ἀρετᾶς ἅλιξιν εὑρέσθαι σὺν ἄλλοις.]
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Dos Corvos (Com Um Excurso Sobre O Multiculturalismo)
A estrela maléfica
O primeiro a ver [Aquiles] com os olhos foi Príamo, o ancião:
viu-o refulgente como um astro a atravessar a planície,
como a estrela que aparece na época das ceifas, cujos raios
rebrilham entre os outros astros todos no negrume da noite,
estrela a que dão o nome de Cão de Oríon.
É a estrela mais brilhante do céu, mas é portento maligno,
pois traz muita febre aos desgraçados mortais.
Ilíada, XXII, vv25-29, Frederico Lourenço (trad.), Cotovia (2005)
Τὸν δ' ὃ γέρων Πρίαμος πρῶτος ἴδεν ὀφθαλμοῖσι
παμφαίνονθ' ὥς τ' ἀστέρ' ἐπεσσύμενον πεδίοιο,
ὅς ῥά τ' ὀπώρης εἶσιν, ἀρίζηλοι δέ οἱ αὐγαὶ
φαίνονται πολλοῖσι μετ' ἀστράσι νυκτὸς ἀμολγῷ,
ὅν τε κύν' Ὠρίωνος ἐπίκλησιν καλέουσι.
λαμπρότατος μὲν ὅ γ' ἐστί, κακὸν δέ τε σῆμα τέτυκται,
καί τε φέρει πολλὸν πυρετὸν δειλοῖσι βροτοῖσιν·
Não vês? O cavalo de corrida
é venético. Mas o cabelo
da minha prima
Hagesícora floresce
como ouro puro.
Seu rosto é de prata.
Mas por que te digo isto às claras?
Esta aqui é Hagesícora;
ela, segunda em beleza depois de Ágido,
correrá como um cavalo da Cítia contra um da Lídia.
As Plêiades, enquanto nós
levamos um arado até Órtria,
sobem através da noite imortal
como a estrela Sírio e lutam contra nós.
Álcman, fr.1 PMG 50-63, Poesia Grega. Frederico Lourenço (trad.), Cotovia (2006)
ἦ οὐχ ὁρῇς; ὁ μὲν κέλης
Ἐνητικός· ἁ δὲ χαίτα
τᾶς ἐμᾶς ἀνεψιᾶς
Ἁγησιχόρας ἐπανθεῖ
χρυσὸς [ὡ]ς ἀκήρατος·
τό τ’ ἀργύριον πρόσωπον,
διαφάδαν τί τοι λέγω;
Ἁγησιχόρα μὲν αὕτα·
ἁ δὲ δευτέρα πεδ’ Ἀγιδὼ τὸ Fεῖδος
ἵππος Ἰβηνῷ Κολαξαῖος δραμήται·
ταὶ Πεληάδες γὰρ ἇμιν
Ὀρθρίᾳ φᾶρος φεροίσαις
νύκτα δι’ ἀμβροσίαν ἅτε σήριον
ἄστρον ἀυηρομέναι μάχονται.
Carl Kerényi. Dionysos: Archetypal Image of Indestructible Life. Ralph Manheim (trad.), Princeton University Press (1976)
The Letters of Pliny the Younger
Mary Renault
domingo, 27 de junho de 2010
GoogleBooks, Latim & Grego
As part of its mission to make the world's books searchable and discoverable, Google has digitized over five hundred ancient Greek and Latin books. We present them here downloadable as zip files of images and plain text, and as links to Google Books web pages where you can read them online in full or download PDFs. This collection was selected by Prof. Greg Crane and Alison Babeu of Tufts University, and compiled by Will Brockman and Jon Orwant of Google. Enjoy!Aqui.
Uma Pessoa Abre A Ilíada
Mas quando se levantava Ulisses de mil ardis,ficava em pé com os olhos pregados no chão,sem mover o ceptro para trás ou para a frente,mas segurava-o, hirto, como quem nada compreendia:dirias que era um palerma, alguém sem inteligência.Mas quando do peito emitia a sua voz poderosa,suas palavras como flocos de neve em dia de inverno,então outro mortal não havia que rivalizasse com Ulisses.
στάσκεν, ὑπαὶ δὲ ἴδεσκε κατὰ χθονὸς ὄμματα πήξας,
σκῆπτρον δ᾽ οὔτ᾽ ὀπίσω οὔτε προπρηνὲς ἐνώμα,
ἀλλ᾽ ἀστεμφὲς ἔχεσκεν ἀΐδρεϊ φωτὶ ἐοικώς:
220φαίης κε ζάκοτόν τέ τιν᾽ ἔμμεναι ἄφρονά τ᾽ αὔτως.
ἀλλ᾽ ὅτε δὴ ὄπα τε μεγάλην ἐκ στήθεος εἵη
καὶ ἔπεα νιφάδεσσιν ἐοικότα χειμερίῃσιν,
οὐκ ἂν ἔπειτ᾽ Ὀδυσῆΐ γ᾽ ἐρίσσειε βροτὸς ἄλλος:]
A Resposta Na Ponta da Língua
Santo Agostinho, Cidade de Deus, Livro IX, Cap. IV
Gulbenkian, Lisboa: 1993. (trad.: J. Dias Pereira)
[In libris, quibus titulus est Noctium Atticarum, scribit A. Gellius, uir elegantissimi eloquii et multae undecumque scientiae, se nauigasse aliquando cum quodam philosopho nobili Stoico. Is philosophus, sicut latius et uberius, quod ego breuiter adtingam, narrat A. Gellius, cum illud nauigium horribili caelo et mari periculosissime iactaretur, ui timoris expalluit. Id animaduersum est ab eis, qui aderant, quamuis in mortis uicinia curiosissime adtentis, utrum necne philosophus animo turbaretur. Deinde tempestate transacta mox ut securitas praebuit conloquendi uel etiam garriendi locum, quidam ex his, quos nauis illa portabat, diues luxuriosus Asiaticus philosophum compellat inludens, quod extimuisset atque palluisset, cum ipse mansisset intrepidus in eo quod inpendebat exitio. At ille Aristippi Socratici responsum rettulit, qui cum in re simili eadem uerba ab homine simili audisset, respondit illum pro anima nequissimi nebulonis merito non fuisse sollicitum, se autem pro Aristippi anima timere debuisse.]
sábado, 26 de junho de 2010
Plato's Protagoras: An Open Translation
Over the next couple of months, I will try to publish daily a Stephanus page’s worth of a rough translation of the Greek text of Plato’s Protagoras. I originally wrote this translation as part of my undergraduate thesis on the dialogue (at the University of Texas at Austin, under the supervision of Paul Woodruff), but I will improve it as I make it available. I would like to extend an open invitation to readers to collaborate and make corrections and improvements in the comments. Some points of difference will no doubt be stylistic, but others will be substantive, and I hope the result will be a translation that is faithful to the text, sensitive to its philosophical content, and readable. At the end, I will make the translation freely available under a suitable open license. Please join me!»
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Definição Possível de Sofrimento, Ou, O Meu Coração Contorce-se de Dor
Hipólito de Eurípides
(Clicar na imagem para aumentar.) Restante programa do XII Festival Internacional de Tema Clássico aqui.
Definição de Ser Humano #2
Portanto, os seres humanos, — orgulhosos pela razão, poderosos pela palavra, dotados de alma imortal, de membros votados à morte, de espírito ágil e inquieto, de corpos pesados e débeis, de costumes dessemelhantes e erros parecidos, de audácia obstinada e de esperança firme, de actividade estéril e de fortuna instável, individualmente mortais, todos, porém, no seu género, perpétuos porque se sucedem na renovação das gerações, de existência fugidia, de tardia sabedoria, de morte rápida, de vida lastimosa —, habitam a terra.
Santo Agostinho, Cidade de Deus, Livro IX, Cap. VIII
Gulbenkian, Lisboa: 1993. (trad.: J. Dias Pereira)
[Igitur homines, inquit, ratione gaudentes, oratione pollentes, inmortalibus animis, moribundis membris, leuibus et anxiis mentibus, brutis et obnoxiis corporibus, dissimilibus moribus, similibus erroribus, peruicaci audacia, pertinaci spe, casso labore, fortuna caduca, singillatim mortales, cuncti tamen uniuerso genere perpetui, uicissim sufficienda prole mutabiles, uolucri tempore, tarda sapientia, cita morte, querula uita terras incolunt.]
quinta-feira, 24 de junho de 2010
To Marcus Aurelius
Good night Marcus put out the light
and shut the book For overhead
is raised a gold alarm of stars
heaven is talking some foreign tongue
this the barbarian cry of fear
your Latin cannot understand
Terror against dark terror
against the fragile human land
begins to beat It's winning Hear
its roar The unrelenting stream
of elements will drown your prose
until the world's four walls go down
As for us? - to tremble in the air
blow in the ashes stir the ether
gnaw our fingers seek vain words
drag off the fallen shades behind us
Well Marcus better hang up your peace
give me your hand across the dark
Let it tremble when the blind world beats
on senses five like a failing lyre
Traitors - universe and astronomy
reckoning of stars wisdom of grass
and your greatness to immense
and Marcus my defenseless tears.
Zbigniew Herbert, The Collected Poems 1956 - 1998, Alissa Valles (tradução), Ecco, 2007.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Stand By Me (em Latim)
Nova biografia de Marco Aurélio
terça-feira, 22 de junho de 2010
Eros & Psique, De Novo
À La Bibliotecário de Babel #2
Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico. Ora, se o que eu não quero é que faço, então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Deparo, pois, com esta lei: em mim, que quero fazer o bem, só o mal está ao meu alcance.
Why is it that when you want something it does not happen, and when you do not want it, it does happen? For this is the greatest indication of discontent and misery. I want something, and it does not happen; and what creature is more wretched than I? I do not want something, and it does happen; and what creature is more wretched than I?
À La Bibliotecário de Babel #1
15:00- Ovídio contra Keats
O quê? Não vês como o ano se desenrola em quatro fases
no seu percurso, à imitação da nossa própria vida?
Pois, no início da Primavera é terno e lactente, semelhante
à idade da meninice. Então, a erva jovem, sem vigor, é
rechonchuda e tenra, e delicia os lavradores com esperanças.
Então, há flores por toda a parte, e com as cores das flores
brinca o nutriente prado, e não há ainda pujança nas folhas.
Depois da Primavera, o ano, mais robusto, passa ao Verão,
e torna-se um jovem forte. Na verdade, não há estação
mais robusta, nem outra mais luxuriante, nem mais ardente.
Sucede o Outono, que, pondo de lado o ardor da juventude,
é maduro e calmo, moderado, a meio caminho entre jovem
e velho, mas já com as suas têmporas salpicadas de cãs.
E lá chega o Inverno, a tremer de frio, senil, o passo trémulo,
despojado de cabelo, ou então, se algum tiver, todo branco.
Cotovia, Lisboa: 2007. (trad.: Paulo Farmhouse Alberto)
Four Seasons fill the Measure of the year;
Four Seasons are there in the mind of Man.
He hath his lusty spring when fancy clear
Takes in all beauty with an easy span:
He hath his Summer, when luxuriously
He chews the honied cud of fair spring thoughts,
Till, in his Soul dissolv'd they come to be
Part of himself. He hath his Autumn ports
And Havens of repose, when his tired wings
Are folded up, and he content to look
On Mists in idleness: to let fair things
Pass by unheeded as a threshhold brook.
He hath his Winter too of pale Misfeature,
Or else he would forget his mortal nature.
Londres, 1970: Longman. (Ed.: Miriam Allott)
segunda-feira, 21 de junho de 2010
"Psyche opening the golden box"
Quadro de John William Waterhouse, datado 1903.
Ovídio Ilustrado
para a edição de Sigmund Feyerabendt, Frankfurt, 1581.
domingo, 20 de junho de 2010
'Orfeu', de Franz von Stuck (1891)
sábado, 19 de junho de 2010
Athens, Karyotakis
A sweet hour. Athens sprawls like a hetaira
offering herself to April.
Sensuous scents are in the air,
the spirit waits for nothing any more.
The silver of the evening's eyelids
droops, grows heavy up above the houses.
Queenlike the Acropolis puts on
the sunset's crimson like a robe.
The first star rises with a kiss of light.
A zephyr by Ilissus falls in love with
quivering laurels, rosy nymphs.
A sweet hour of delight and love, when
small birds chasing one another raise a wind
that beats upon a column of Olympian Zeus...
Kostas Karyotakis, Peter J. King and Andrea Christofidou (trad.) http://users.ox.ac.uk/~shil0124/poems/nepenthe.htm
I Mammut
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Apopudobalia
Lembram-se da pergunta que tinha deixado aqui? No decurso das minhas investigações tropecei na entrada do Pauly (a mais importante enciclopédia das coisas clássicas) que acima traduzo. Por interessante que possa ser, trata-se de um fraude, de uma pequena piada dos editores da obra, gente bem-humorada (davam bons membros da Origem, estou em crer). Ler mais aqui.
Crónica de uma Morte Anunciada
O Altar da Vitória
Eu Andava à Procura do 'Rei Édipo' de A. Calmettes (1908), Mas Isto Também Está Muito Bom. Mesmo.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Conferências de Verão
Sein und Zeit, Derrida, (e Heraclito)
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Happy Bloomsday 2010
One of those things
Era difícil Tibério exceder qualquer um destes seus dois familiares. Mas a verdade é que, quando Josefo nos fala de Alexandre, o identifica como sendo o pai de Tibério Júlio Alexandre, o que por si é sinal de que, ainda na Antiguidade, o filho veio a exceder o pai em notoriedade e importância.
E de facto assim foi. Tibério protagonizou uma ascensão meteórica. Depois de ter renunciado à religião dos seus ancestrais, muito provavelmente porque esta o impedia de aceder a cargos públicos na cidade de Alexandria, foi, entre outras coisas, governador da Judeia entre 46 e 48 d.C., governador do Egipto durante o principado de Nero e, mais para o fim da vida, prefeito do Pretório em Roma.
Tibério devia ser também um bom general. A imagem com que ficamos é que ele devia pertencer àquela casta de homens que são capazes de tomar a decisão mais difícil e mais cruel (por vezes até para eles próprios) no mais curto espaço de tempo, quando ela é ainda eficaz. Infelizmente, não raras vezes, para reprimir revoltas entre elementos do seu povo e elementos de outras comunidades teve de recorrer ao derramamento de sangue, por vezes revelando uma mão muito pesada. Este foi o caso em 66, altura em que era governador de Alexandria e do Egipto (o título, salvo erro, englobava esta distinção), e Judeus, Gregos e (muito provavelmente) Egípcios resolveram repetir os eventos da perseguição de 38, mas desta vez estando os Judeus armados, o que não sucedeu em 38. Além disso, Tibério era um governador com características muito diferentes das de Flaco, o governador que em 38 se revelou perfeitamente incapaz de lidar com a situação.
Tibério deu as suas instruções às legiões Romanas. Estas abriram caminho através das ruas do quarteirão Judaico, que estavam apinhadas de gente, e, quando encontraram resistência, reagiram com violência indiscriminada. Josefo avança com um número de cinquenta mil judeus mortos e termina o seu relato com a não muito agradável imagem de cidadãos Alexandrinos a terem de ser arrancados dos cadáveres dos Judeus seus inimigos (BJ 2. 494 - 98). (Digno de uma página da história de Bizâncio!)
Há pelo menos mais um evento tão amargo como este na carreira de Tibério Pode-se até pensar que deve ter sido uma espécie de punição do destino, ou algo assim.
No ano de 70, Tibério desempenhou o cargo de general de Tito. E aconteceu ser ele o general de Tito que comandou a destruição da Hierosolyma, de Jerusalém.
Às vezes divirto-me a imaginar se nesta ocasião Alexandre e Fílon ainda estariam vivos. Se estivessem, teriam uma idade muito avançada (Fílon pelo menos oitenta anos; Alexandre não faço ideia, porque não sei se era o irmão mais velho ou mais novo).
Se Alexandre de facto ainda estivesse vivo, como teria o filho explicado ao pai que, o Templo para cuja construção este contribuíra com tão vastas somas de dinheiro quando era ainda um homem na flor da idade, fora destruído às suas ordens?
Ainda que Josefo nos diga que Tibério votou em conjunto com Tito a favor da preservação do Templo (cf. Bellum Judaicum 6.242), a verdade é que primeiro votou para que este fosse destruído e ele foi de facto arrasado. One of those things, indeed.
Esopo e a Coreia do Norte
Lisbon Meeting on Aristotle's Posterior Analytics [ACTUALIZADO]
Localização: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sala 5.2. A entrada é livre.
Primeiro dia 17/06
SYLLOGISM, PROOF AND DEMONSTRATIVE SCIENCE
“Euclid’s Elements from an Aristotelian Standpoint”
(Bernardo Mota, Universidade de Lisboa)
“Syllogistic, Necessity and Demonstration in Posterior Anaytics I.2”
(Lucas Angioni, Universidade de Campinas)
“Subordinate Sciences in Post. Anal. I.13, Natural Form and Physics”
(Michael Peramatzis, University of Oxford)
“Categories and Demonstrative Knowledge in Aristotle’s Post. Anal. I.22”
(Ricardo Santos, Universidade de Évora)
Segundo dia 18/06
METHOD, PREDICATION AND DEFINITION
“Types of Predication in Aristotle’s Posterior Analytics I.22”
(António Pedro Mesquita, Universidade do Minho)
“Inquiry and Definition: Posterior Analytics II.1-10”
(David Bronstein, Boston University)
“Aristotle on Definition”
(David Charles, University of Oxford)
terça-feira, 15 de junho de 2010
Entretanto
bravo a essa tua dos poetas fora da república
deixa que te diga
essa tua é de amigo Banana
toda a gente o sabia
mas tiveste a necessidade de dizê-la tu
e então o caso muda de figura
há a república e há a poesia
ambas são a mesma coisa no fim
e metade-metade é zero-nada
bravo a hoje bravo
bravo a esta nossa da república fora da poesia
esta nossa é de amigo Banana
toda a gente o sabia
mas temos a necessidade de dizê-la nós
e então o caso muda de figura
dizê-la nós a quem? a nós
«entretanto» nada temos a dizer á república
ela dobra o outro Cabo da Boa Esperança
encontrar-nos-emos ou não e é tudo
«entretanto» nascem poetas e republicanos
sem ser possível só poetas ou só republicanos
nem ambos lado-a-lado
«entretanto» não será possível reconhecer irmãos senão vizinhos
o nosso espelho fragmentado
a combinação é diabólica ou divina
haver fora da república lugar de poetas
o mundo é de ambos
não é território mais território
isto é
não há o mundo da república mais o mundo dos poetas
poesia e república são a lua-nova uma da outra
não haveria mundo se não houvesse gente
e o mundo só cabe à-vez em cada pessoa
sem máquina registradora disto
senão pela própria pessoa ela-mesma
e foi então que um dia chegou a palavra vocação
a vez do mundo em cada pessoa
a coz da vez de cada um
a voz antes do falar
a voz da memória do antes de havermos nascido para a memória do «entretanto» da vez
o único poder que diz respeito a um mesmo
«vós sois deuses» (Cristo)
a única defesa de cada um à nascença, na circunstância e no extremo
tu-cá-tu-lá com a vocação é tudo o que se pede
e depois de ter chegado a palavra vocação vieram todas as outras
Vocação: a vez, o «entretanto», o agir
poetas e república o agir difere
agir é o que se pode
e também o que ainda não se pode
também o destronamento do impossível
o estanque deslocável cada vez mais para lá
Assírio & Alvim, Lisboa: 2005.
September 1, 1939
W. D. Auden
[...]
Exiled Thucydides knew
All that a speech can say
About Democracy,
And what dictators do,
The elderly rubbish they talk
To an apathetic grave;
Analysed all in his book,
The enlightenment driven away,
The habit-forming pain,
Mismanagement and grief:
We must suffer them all again.
[...]
The Heroes of the Greeks
Há qualquer coisa na prosa de Kerényi que me recorda a graciosidade do mito melhor narrado por um autor do séc. XX que alguma vez li (a magnífica descrição do nascimento de Apolo feita por Pietro Citati na primeira página deste livro).
Károly Kerényi só tem um livro publicado em Portugal, o que é uma lástima, porque, como se diz, é «dos mais densos e profícuos historiadores das antigas religiões grega e romana e, em sentido lato, da mitologia mediterrânica».
(Eis um livro que podíamos publicar na OCE - Origem da Comédia Edições, e já agora este.)
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Para Depois do Jogo de Portugal
Se Há Imagem Mais Bela Deste Mito
Ilustração para uma edição de 1908 de A Wonder-Book &
Tanglewood Tales, de Nathaniel Hawthorne.
Contra a Navalha de Occam - Versão XXX
Gulbenkian, Lisboa: 1991. (trad.: J. Dias Pereira)
[Cum mas et femina coniunguntur, adhibetur deus lugatinus; sit hoc ferendum. Sed domum est ducenda quae nubit; adhibetur et deus Domiducus; ut in domo sit, adhibetur deus Domitius; ut maneat cum uiro, additur dea Manturna. Quid ultra quaeritur? Parcatur humanae uerecundiae; peragat cetera concupiscentia carnis et sanguinis procurato secreto pudoris. Quid impletur cubiculum turba numinum, quando et paranymphi inde discedunt? Et ad hoc impletur, non ut eorum praesentia cogitata maior sit cura pudicitiae, sed ut feminae sexu infirmae, nouitate pauidae illis cooperantibus sine ulla difficultate uirginitas auferatur. Adest enim dea Virginensis et deus pater Subigus, et dea mater Prema et dea Pertunda, et Venus et Priapus. Quid est hoc? Si omnino laborantem in illo opere uirum ab diis adiuuari oportebat, non sufficeret aliquis unus aut aliqua una? Numquid Venus sola parum esset, quae ab hoc etiam dicitur nuncupata, quod sine ui femina uirgo esse non desinat? Si est ulla frons in hominibus, quae non est in numinibus, nonne, cum credunt coniugati tot deos utriusque sexus esse praesentes et huic operi instantes, ita pudore adficiuntur, ut et ille minus moueatur et illa plus reluctetur? Et certe si adest Virginensis dea, ut uirgini zona soluatur; si adest deus Subigus, ut uiro subigatur; si adest dea Prema, ut subacta, ne se commoueat, conprimatur: dea Pertunda ibi quid facit? Erubescat, eat foras; agat aliquid et maritus. Valde inhonestum est, ut, quod uocatur illa, impleat quisquam nisi ille.]
@ Gabinetto Segreto, Museo Archeologico Nazionale, Nápoles
Ad mortem festinamus
domingo, 13 de junho de 2010
Subsídios Para o Estudo do Taylorismo no Séc. V d.C.
Santo Agostinho, Cidade de Deus, Livro VII, Cap. IV
Gulbenkian, Lisboa: 1991. (trad.: J. Dias Pereira)
imagem: fotograma de A Nous la Liberté, de René Clair (1931).
Outros Dois Que Gostam Muito dos Gregos
sábado, 12 de junho de 2010
Elogios
“Hardly any lawful price would seem to me too high for what I have gained by being made to learn Latin and Greek.” – C.S. Lewis
“To read Latin and Greek authors in their original, is a sublime luxury. I thank on my knees him who directed my early education for having put into my possession this rich source of delight; and I would not exchange it for anything which I could then have acquired, and have not since acquired.” – Thomas Jefferson
“Latin and Greek are not dead languages. They have merely ceased to be mortal.” - J. W. MacKail
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Aceitam-se Sugestões
Le cygne
Andromaque, je pense à vous! Ce petit fleuve,
Pauvre et triste miroir où jadis resplendit
L'immense majesté de vos douleurs de veuve,
Ce Simoïs menteur qui par vos pleurs grandit,
A fécondé soudain ma mémoire fertile,
Comme je traversais le nouveau Carrousel.
Le vieux Paris n'est plus (la forme d'une ville
Change plus vite, hélas! que le coeur d'un mortel);
Je ne vois qu'en esprit tout ce camp de baraques,
Ces tas de chapiteaux ébauchés et de fûts,
Les herbes, les gros blocs verdis par l'eau des flaques,
Et, brillant aux carreaux, le bric-à-brac confus.
Là s'étalait jadis une ménagerie;
Là je vis, un matin, à l'heure où sous les cieux
Froids et clairs le Travail s'éveille, où la voirie
Pousse un sombre ouragan dans l'air silencieux,
Un cygne qui s'était évadé de sa cage,
Et, de ses pieds palmés frottant le pavé sec,
Sur le sol raboteux traînait son blanc plumage.
Près d'un ruisseau sans eau la bête ouvrant le bec
Baignait nerveusement ses ailes dans la poudre,
Et disait, le coeur plein de son beau lac natal:
«Eau, quand donc pleuvras-tu? quand tonneras-tu, foudre?»
Je vois ce malheureux, mythe étrange et fatal,
Vers le ciel quelquefois, comme l'homme d'Ovide,
Vers le ciel ironique et cruellement bleu,
Sur son cou convulsif tendant sa tête avide
Comme s'il adressait des reproches à Dieu!
II
Paris change! mais rien dans ma mélancolie
N'a bougé! palais neufs, échafaudages, blocs,
Vieux faubourgs, tout pour moi devient allégorie
Et mes chers souvenirs sont plus lourds que des rocs.
Aussi devant ce Louvre une image m'opprime:
Je pense à mon grand cygne, avec ses gestes fous,
Comme les exilés, ridicule et sublime
Et rongé d'un désir sans trêve! et puis à vous,
Andromaque, des bras d'un grand époux tombée,
Vil bétail, sous la main du superbe Pyrrhus,
Auprès d'un tombeau vide en extase courbée
Veuve d'Hector, hélas! et femme d'Hélénus!
Je pense à la négresse, amaigrie et phtisique
Piétinant dans la boue, et cherchant, l'oeil hagard,
Les cocotiers absents de la superbe Afrique
Derrière la muraille immense du brouillard;
À quiconque a perdu ce qui ne se retrouve
Jamais, jamais! à ceux qui s'abreuvent de pleurs
Et tètent la Douleur comme une bonne louve!
Aux maigres orphelins séchant comme des fleurs!
Ainsi dans la forêt où mon esprit s'exile
Un vieux Souvenir sonne à plein souffle du cor!
Je pense aux matelots oubliés dans une île,
Aux captifs, aux vaincus!... à bien d'autres encor!
Charles Baudelaire, Les Fleurs du Mal, Editions Gallimard, 1996
Aristóteles, Homero, Rembrandt
George Steiner, Presenças Reais, Miguel Serras Pereira (trad.), Presença (1993)
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Blogues de Classicistas Têm Destas Coisas
FEDRO: Em nada, ó Sócrates. Posso ir agora? Tenho de ir ouvir uma história egípcia sobre Sólon a um amigo ali no bar.
SÓCRATES: Eu é que faço as perguntas aqui! Desejas, portanto, ir para o bar?
(retirada daqui, outra divertidíssima paródia).
Medeia
Liber Chronicarum
O Liber Chronicarum, de Hartmann Schedel, é uma história ilustrada do mundo, impressa em Nuremberga, em 1493. Originalmente publicada em latim, foi traduzida ainda no mesmo ano para alemão e revelou-se um sucesso de vendas. A oficina de Michael Wolgemut, uma das maiores do seu século, onde se formou, por exemplo, Dürer, cujo padrinho imprimiu a obra (o mundo é pequeno), foi encarregada de providenciar as ilustrações a que o livro, em boa medida, deve, ainda hoje, a sua fama. A editio princeps do Liber Chronicarum encontra-se disponível online aqui e só vos posso convidar a darem uma vista de olhos: é difícil, em começando, parar, tal a beleza das imagens (não se deixem enganar pelas divertidas figuras acima: há gravuras que ocupam páginas inteiras, de uma minúcia admirável).