Témis e Egeu (440-430 a.C.) @ Altes Museum, Berlim. |
Estrangeiro: Antecipaste-te um pouco à minha questão, Sócrates. De facto, tinha a intenção de perguntar-te se concordas com tudo o que foi dito ou se há algum aspecto que te incomoda. Porém, de momento, já se tornou evidente o meu objectivo: fazer uma exposição pormenorizada sobre a perfeição de governos sem lei.
Sócrates, o Moço: E porque não?
Estrangeiro: Tornou-se, de certo modo, notório que a função legislativa é um atributo do rei. Daí que o mais importante não resida no fortalecimento das leis, mas sim do homem que exerce com sabedoria o cargo de rei. Sabes porquê?
Sócrates, o Moço: Diz lá, porquê?
Estrangeiro: Porque uma lei nunca poderá prescrever que se faça o que é melhor e mais justo, abrangendo, ao mesmo tempo, o que é mais conveniente para todos. Na verdade, as diferenças entre os homens e as suas acções e o facto de, por assim dizer, nada do que é humano permanecer para sempre estável, esses aspectos não permitem que nenhuma espécie de ciência dê uma explicação válida para sempre sobre qualquer assunto. [...] No entanto, constatamos que é precisamente nesse sentindo que pende a lei - tal qual um indivíduo convencido, mas ignorante, que não autoriza ninguém a agir contra as suas ordens e não permite que se façam perguntas de validade superior às ordens por ele estabelecidas, nem mesmo quando se dá um acontecimento inesperado.
Platão, O Político 293e6-294c4
Temas & Debates, Lisboa: 2008. (trad.: Carmen Soares)
[{ΝΕ. ΣΩ.} Τὰ μὲν ἄλλα, ὦ ξένε, μετρίως ἔοικεν εἰρῆσθαι· τὸ δὲ καὶ ἄνευ νόμων δεῖν ἄρχειν χαλεπώτερον ἀκούειν ἐρρήθη.
{ΞΕ.} Μικρόν γε ἔφθης με ἐρόμενος, ὦ Σώκρατες. ἔμελλον γάρ σε διερωτήσειν ταῦτα πότερον ἀποδέχῃ πάντα, ἤ τι καὶ δυσχεραίνεις τῶν λεχθέντων· νῦν δ' ἤδη φανερὸν ὅτι τοῦτο βουλησόμεθα τὸ περὶ τῆς τῶν ἄνευ νόμων ἀρχόντων ὀρθότητος διελθεῖν ἡμᾶς.
{ΝΕ. ΣΩ.} Πῶς γὰρ οὔ;
{ΞΕ.} Τρόπον τινὰ μέντοι δῆλον ὅτι τῆς βασιλικῆς ἐστιν ἡ νομοθετική· τὸ δ' ἄριστον οὐ τοὺς νόμους ἐστὶν ἰσχύειν ἀλλ' ἄνδρα τὸν μετὰ φρονήσεως βασιλικόν. οἶσθ' ὅπῃ;
{ΝΕ. ΣΩ.} Πῇ δὴ λέγεις;
{ΞΕ.} Ὅτι νόμος οὐκ ἄν ποτε δύναιτο τό τε ἄριστον καὶ τὸ δικαιότατον ἀκριβῶς πᾶσιν ἅμα περιλαβὼν τὸ βέλτιστον ἐπιτάττειν· αἱ γὰρ ἀνομοιότητες τῶν τε ἀνθρώπων καὶ τῶν πράξεων καὶ τὸ μηδέποτε μηδὲν ὡς ἔπος εἰπεῖν ἡσυχίαν ἄγειν τῶν ἀνθρωπίνων οὐδὲν ἐῶσιν ἁπλοῦν ἐν οὐδενὶ περὶ ἁπάντων καὶ ἐπὶ πάντα τὸν χρόνον ἀποφαίνεσθαι τέχνην οὐδ' ἡντινοῦν. ταῦτα δὴ συγχωροῦμέν που;
{ΝΕ. ΣΩ.} Τί μήν;
{ΞΕ.} Τὸν δέ γε νόμον ὁρῶμεν σχεδὸν ἐπ' αὐτὸ τοῦτο συντείνοντα, ὥσπερ τινὰ ἄνθρωπον αὐθάδη καὶ ἀμαθῆ καὶ μηδένα μηδὲν ἐῶντα ποιεῖν παρὰ τὴν ἑαυτοῦ τάξιν, μηδ' ἐπερωτᾶν μηδένα, μηδ' ἄν τι νέον ἄρα τῳ συμβαίνῃ βέλτιον παρὰ τὸν λόγον ὃν αὐτὸς ἐπέταξεν. κῆς ἐστιν ἡ νομοθετική·]
Many things there are, which the law can by no means provide for; and those must necessarily be left to the discretion of him that has the executive power in his hands, to be ordered by him as the public good and advantage shall require: nay, it is fit that the laws themselves should in some cases give way to the executive power, or rather to this fundamental law of nature and government, viz. That as much as may be, all the members of the society are to be preserved: for since many accidents may happen, wherein a strict and rigid observation of the laws may do harm; (as not to pull down an innocent man's house to stop the fire, when the next to it is burning) and a man may come sometimes within the reach of the law, which makes no distinction of persons, by an action that may deserve reward and pardon; 'tis fit the ruler should have a power, in many cases, to mitigate the severity of the law, and pardon some offenders: for the end of government being the preservation of all, as much as may be, even the guilty are to be spared, where it can prove no prejudice to the innocent. This power to act according to discretion, for the public good, without the prescription of the law, and sometimes even against it, is that which is called prerogative: for since in some governments the lawmaking power is not always in being, and is usually too numerous, and so too slow, for the dispatch requisite to execution; and because also it is impossible to foresee, and so by laws to provide for, all accidents and necessities that may concern the public, or to make such laws as will do no harm, if they are executed with an inflexible rigour, on all occasions, and upon all persons that may come in their way; therefore there is a latitude left to the executive power, to do many things of choice which the laws do not prescribe.
Locke, Segundo Tratado Sobre o Governo Civil §159 e §160
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