segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"Emigro para outro país; estou cansado, é verdade(...)"



IV


Homero em sua desventura queixa-se dos Cimaios¹


«Que fado não permitiu Zeus se apoderasse de mim, era eu ainda infante no regaço de minha mãe! Minha mãe... é Esmirna, cidade de Eólia. Por vontade do Zeus da égide, os povos del-rei Frícon a rodearam outrora de muralhas. Povos do soberano Frícon, cavaleiros indomáveis de velozes corcéis, que se votavam aos trabalhos de Ares com o ardor e ímpeto do fogo! Ah! Esmirna de à beira-mar, açoitada pelas rajadas que sopravam do ponto, e o brando Meles límpido pelo meio da cidade!
Saindo dali proposeram-me as esclarecidas filhas de Zeus (as Musas) que cantássemos os louvores da terra e da civilização (pólin andrôn). Cidadãos insensatos fecharam os ouvidos às vozes divinas. (Mais de um se terá arrependido de haver, para seu opróbrio, urdido a minha desgraça). Resigno-me com a sorte que a divindade me deu, ao nascer. Suportarei com paciência o malogro de minhas aspirações e inspirações. Sou de ânimo altivo e ao corpo... não lhe apetece andar mais pelas ruas de Cime. Emigro para outro país; estou cansado, é verdade; mas devagar se vai ao longe...»

¹ Habitantes de Cime

Homero: Poemetos e Fragmentos; Tradução do Grego,Introdução e Notas do P.ᵉ M. Alves Correia, Colecção de Clássicos Sá da Costa,1947

Sem comentários:

Enviar um comentário