...pois estes [os que vivem no meio da agitação política], embora muito devam aos príncipes, muito também exigem deles, como gente cujas ambições, tanto maiores quanto mais são satisfeitas, liberalidade alguma pode contemplar a ponto de as deixar saciadas. De facto, quem pensa no que está para receber, esquece com facilidade os benefícios já recebidos: o maior mal que a ambição arrasta consigo é a sua permanente ingratidão. Acrescente-se que nenhum político pensa no número de adversários que já venceu, mas apenas naqueles por quem já foi vencido; para os políticos é menos grato ver muitos em posição inferior à sua do que penoso lhes é ver alguém na sua dianteira. É este um vício comum a toda a espécie de ambição: nunca olhar para trás.
Séneca, Cartas a Lucílio VIII.73.2-3
Gulbenkian, Lisboa: 2009. (trad.: J. A. Segurado e Campos)
[...qui multa principibus debent sed multa et imputant, quibus numquam tam plene occurrere ulla liberalitas potest ut cupiditates illorum, quae crescunt dum implentur, exsatiet. Quisquis autem de accipiendo cogitat oblitus accepti est, nec ullum habet malum cupiditas maius quam quod ingrata est. Adice nunc quod nemo eorum qui in re publica versantur quot vincat, sed a quibus vincatur, aspicit; et illis non tam iucundum est multos post se videre quam grave aliquem ante se. Habet hoc vitium omnis ambitio: non respicit.]
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