Os dois primeiros motivos dão origem à ansiedade. Pois quando se está certo de que existem causas para todas as coisas que aconteceram até agora, ou no futuro virão a acontecer, é impossível a alguém que constantemente se esforça por se garantir contra os males que receia, e por obter o bem que deseja, não se encontrar em eterna preocupação com os tempos vindouros. De modo que todos os homens, sobretudo os que são extremamente previdentes, se encontram numa situação semelhante à de Prometeu. Porque tal como Prometeu (nome que quer dizer homem prudente) foi acorrentado ao monte Cáucaso, um lugar de ampla perspectiva, onde uma águia se alimentava do seu fígado, devorando de dia o que tinha voltado a crescer durante a noite, assim também o homem que olha demasiado loge, preocupado com os tempos futuros, tem durante todo o dia o seu coração ameaçado pelo medo da morte, da pobreza e de outras calamidades, e não encontra repouso nem paz para a sua ansiedade a não ser no sono.
[The two first make anxiety. For being assured that there be causes of all things that have arrived hitherto, or shall arrive hereafter, it is impossible for a man, who continually endeavoureth to secure himself against the evil he fears, and procure the good he desireth, not to be in a perpetual solicitude of the time to come; so that every man, especially those that are over-provident, are in an estate like to that of Prometheus. For as Prometheus (which, interpreted, is the prudent man) was bound to the hill Caucasus, a place of large prospect, where an eagle, feeding on his liver, devoured in the day as much as was repaired in the night: so that man, which looks too far before him in the care of future time, hath his heart all the day long gnawed on by fear of death, poverty, or other calamity; and has no repose, nor pause of his anxiety, but in sleep.]
Thomas Hobbes, Leviatã XII
INCM, Lisboa: 1995 (trad.: João Monteiro e Nizza da Silva)
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