terça-feira, 9 de novembro de 2010

Teógnis Comentado - III, ou Diógenes Contra Mundum

De todas as coisas é a pobreza que mais subjuga o Homem nobre,
mais do que a grisalha velhice, ó Cirno, e a doença.
Para se fugir dela é preciso atirarmo-nos ao mar cheio de monstros,
ó Círno, ou então despenharmo-nos de altos rochedos.
Pois o Homem subjugado pela pobreza não pode nem falar
nem fazer nada; e a sua língua encontra-se atada.
É preciso procurar na terra e no vasto dorso do mar,
ó Círno, a libertação da dolorosa pobreza.
Morrer, querido Cirno, é melhor para o Homem indigente
do que viver esmagado pela dolorosa pobreza.

Teógnis, 173-182 in Poesia Grega de Álcman a Teócrito.
Cotovia, Lisboa: 2006. (trad.: Frederico Lourenço).

The honorable body is not the one that is beautiful, or strong, or swift, or large, or even healthy — though many would believe this, indeed, to be rather honorable — nor, of course, a body that has the opposite characteristics. Instead, those attributes which occupy the middle ground, in between all these, are the most moderate and steady by far. For the former extremes make souls boastful and rash, while the latter make them humble and unfree.

Platão, Leis 728e
University of Chicago Press, Chicago: 1980. (trad: Thomas L. Pangle)

[τίμιον εἶναι σῶμα οὐ τὸ καλὸν οὐδὲ ἰσχυρὸν οὐδὲ τάχος ἔχον οὐδὲ μέγα, οὐδέ γε τὸ ὑγιεινόν—καίτοι πολλοῖς ἂν τοῦτό γε δοκοῖ—καὶ μὴν οὐδὲ τὰ τούτων γ᾽ ἐναντία, τὰ δ᾽ ἐν τῷ μέσῳ ἁπάσης ταύτης τῆς ἕξεως ἐφαπτόμενα σωφρονέστατα ἅμα τε ἀσφαλέστατα εἶναι μακρῷ: τὰ μὲν γὰρ χαύνους τὰς ψυχὰς καὶ θρασείας ποιεῖ, τὰ δὲ ταπεινάς τε καὶ ἀνελευθέρους.]

Por conseguinte, posto que concordámos que o moderado e o intermédio é o que há de melhor, torna-se evidente que, em relação à posse dos bens, a riqueza mediana é a melhor de todas porque é a que mais facilmente obedece aos ditames da razão. Pelo contrário, a beleza excessiva, a força extrema, a linhagem inigualável, a riqueza desmedida, ou os respectivos opostos, tais como a pobreza excessiva, a debilidade extrema e a ausência de honrarias, têm dificuldade em seguir a voz da razão. [...] Já aqueles que vivem numa excessiva penúria encontram-se rebaixados. Assim sendo, estes não sabem o que significa propriamente mandar, mas apenas comportar-se como escravos sujeitos à autoridade.

Aristóteles, Política 1295b5-7, 18-20
Vega, Lisboa: 1998. (trad.: António Amaral e Carlos Gomes).

[ἐπεὶ τοίνυν ὁμολογεῖται τὸ μέτριον ἄριστον καὶ τὸ μέσον, φανερὸν ὅτι καὶ τῶν εὐτυχημάτων ἡ κτῆσις ἡ μέση βελτίστη πάντων. ῥᾴστη γὰρ τῷ λόγῳ πειθαρχεῖν, ὑπέρκαλον δὲ ἢ ὑπερίσχυρον ἢ ὑπερευγενῆ ἢ ὑπερπλούσιον <ὄντα>, ἢ τἀναντία τούτοις, ὑπέρπτωχον ἢ ὑπερασθενῆ ἢ σφόδρα ἄτιμον, χαλεπὸν τῷ λόγῳ ἀκολουθεῖν. [...] οἱ δὲ καθ᾽ ὑπερβολὴν ἐν ἐνδείᾳ τούτων ταπεινοὶ λίαν. ὥσθ᾽ οἱ μὲν ἄρχειν οὐκ ἐπίστανται, ἀλλ᾽ ἄρχεσθαι δουλικὴν ἀρχήν,...]

*

Descia Mercator umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, contra a parede, a comer lentilhas. Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava, e pelo estômago farto, disse, para Diógenes:
— Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas.
E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com maior arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora? Um simples homem rico? Diógenes respondeu. À letra:
— E tu - disse o filósofo - se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisava de bajular o rei.

Gonçalo M. Tavares, Histórias Falsas
Leya - BIS, Alfragide: 2010.

imagem: Diógenes, de John William Waterhouse
1882, @ Art Gallery of New South Wales

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