todos se tenham afastado dos negócios públicos?»*
perguntei, porque também eu calei
a minha voz pública de outrora. Cidade,
perdoa-me a ausência e o rancor,
perdoa que a minha voz agora
não nomeie os teus cais de embarque,
a dor, miséria, cúpida opressão.
Ainda amo, neste exílio de paz, a mesma Paz.
Sábia, não sou. Calei-me porque
as memórias minhas e a voz sozinha
também pertencem ao Todo, em harmonia.
Ainda amo a pátria, feita de lugares, parentes,
dos próximos, e do vento, meu semelhante.
*Platão, Hípias Maior
Fiama, Âmago - Antologia
Assírio & Alvim, Lisboa: 2010.
(originalmente em Cenas Vivas, de 2000).
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