terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Política|Filosofia

A filosofia, Sócrates, não deixa, de facto, de ter o seu interesse, quando é estudada com moderação na juventude, mas, se se prolonga o seu estudo para além do conveniente, transforma-se numa autêntica calamidade. Por mais bem dotado que um homem seja, se se entrega à filosofia até uma idade avançada, perde necessariamente o contacto com todas aquelas realidades cuja experiência é indispensável a quem pretenda ser uma pessoa educada e digna de consideração.

Efectivamente, além de ignorar as leis da cidade, o filósofo não sabe tratar com os outros de negócios particulares ou públicos, nem tem qualquer experiência dos desejos e das paixões, numa palavra, falta-lhe inteiramente a experiência de vida. É por isso que, quando se vê a braços com qualquer questão pública ou privada, todos se riem dele, da mesma forma que os políticos, creio eu, se prestam ao riso, sempre que tomam parte nas vossas conversas e discussões.

Razão tem Eurípides quando afirma: a actividade em que cada um brilha e a que se aplica com ardos, «consagrando-lhe a maior parte do dia,/ é aquela em que consegue ser melhor». Aquelas, pelo contrário, em que é medíocre evita-as e diz mal delas, ao mesmo tempo que, por interesse, elogia a outra, considerando que, ao fazê-lo, é a si próprio que elogia.

Mas o melhor, em minha opinião, ainda é saber de todas. Assim, é bom ter alguns conhecimentos de filosofia, faz parte educação, e não vejo nada de vergonhoso num jovem a filosofar. Mas, quando um homem já maduro se ocupa ainda de filosofia, a coisa torna-se ridícula, Sócrates, e o que eu sinto em relação a uma pessoa dessas é algo de semelhante ao que me inspira o espectáculo de um homem que balbucia e brinca como uma criança. Quando eu vejo uma criança a balbuciar e a brincar, como é próprio da sua idade, acho isso agradável, gracioso e adequado à infância de um homem livre; se, pelo contrário, ouço uma criança a exprimir-se com toda a correcção, sinto que a coisa é desagradável, fere-me os ouvidos e parece-me ter algo de servil. Um homem que balbucia e que brinca não chega a ser um homem, é digno de riso e chicote.

Penso da mesma forma em relação aos que se dedicam à filosofia. Gosto de ver um jovem filosofar, acho isso conveniente e próprio de um homem livre; um jovem que não filosofa parece-me, pelo contrário, uma alma baia, incapaz de qualquer acção nobre e generosa. Mas se vejo um adulto que não desiste de filosofar, entendo que o que ele precisa é de chicote. Pois, como diaiz há pouco, um homem destes, por melhores dotes naturais que possua, deixa de ser verdadeiramente homem, a fugir assim dos centros frequentados da cidade e das assmbleias, onde, na expressão do poeta, os homens se ilustram, e a mergulhar no convívio de três ou quatro jovens, passando a vida a segredar com eles a um canto, sem que da sua boca saia nunca uma palavra livre, grande e eficaz.

Platão, Górgias 484d-485d
Verbo, Lisboa: 1973 (trad.: Manuel de Oliveira Pulquério).

[καὶ γὰρ τῶν νόμων ἄπειροι γίγνονται τῶν κατὰ τὴν πόλιν, καὶ τῶν λόγων οἷς δεῖ χρώμενον ὁμιλεῖν ἐν τοῖς συμβολαίοις τοῖς ἀνθρώποις καὶ ἰδίᾳ καὶ δημοσίᾳ, καὶ τῶν ἡδονῶν τε καὶ ἐπιθυμιῶν τῶν ἀνθρωπείων, καὶ συλλήβδην τῶν ἠθῶν παντάπασιν ἄπειροι γίγνονται. ἐπειδὰν οὖν ἔλθωσιν εἴς τινα ἰδίαν ἢ πολιτικὴν πρᾶξιν, καταγέλαστοι γίγνονται, ὥσπερ γε οἶμαι οἱ πολιτικοί, ἐπειδὰν αὖ εἰς τὰς ὑμετέρας διατριβὰς ἔλθωσιν καὶ τοὺς λόγους, καταγέλαστοί εἰσιν. συμβαίνει γὰρ τὸ τοῦ Εὐριπίδου: “λαμπρός” τέ ἐστιν “ἕκαστος” ἐν τούτῳ, “καὶ ἐπὶ τοῦτ᾽ ἐπείγεται”,“νέμων τὸ πλεῖστον ἡμέρας τούτῳ μέρος, ἵν᾽ αὐτὸς αὑτοῦ τυγχάνει βέλτιστος ὤν:ὅπου δ᾽ ἂν φαῦλος ᾖ, ἐντεῦθεν φεύγει καὶ λοιδορεῖ τοῦτο, τὸ δ᾽ ἕτερον ἐπαινεῖ, εὐνοίᾳ τῇ ἑαυτοῦ, ἡγούμενος οὕτως αὐτὸς ἑαυτὸν ἐπαινεῖν. ἀλλ᾽ οἶμαι τὸ ὀρθότατόν ἐστιν ἀμφοτέρων μετασχεῖν. φιλοσοφίας μὲν ὅσον παιδείας χάριν καλὸν μετέχειν, καὶ οὐκ αἰσχρὸν μειρακίῳ ὄντι φιλοσοφεῖν: ἐπειδὰν δὲ ἤδη πρεσβύτερος ὢν ἄνθρωπος ἔτι φιλοσοφῇ, καταγέλαστον, ὦ Σώκρατες, τὸ χρῆμα γίγνεται, καὶ ἔγωγε ὁμοιότατον πάσχω πρὸς τοὺς φιλοσοφοῦντας ὥσπερ πρὸς τοὺς ψελλιζομένους καὶ παίζοντας. ὅταν μὲν γὰρ παιδίον ἴδω, ᾧ ἔτι προσήκει διαλέγεσθαι οὕτω, ψελλιζόμενον καὶ παῖζον, χαίρω τε καὶ χαρίεν μοι φαίνεται καὶ ἐλευθέριον καὶ πρέπον τῇ τοῦ παιδίου ἡλικίᾳ, ὅταν δὲ σαφῶς διαλεγομένου παιδαρίου ἀκούσω, πικρόν τί μοι δοκεῖ χρῆμα εἶναι καὶ ἀνιᾷ μου τὰ ὦτα καί μοι δοκεῖ δουλοπρεπές τι εἶναι: ὅταν δὲ ἀνδρὸς ἀκούσῃ τις ψελλιζομένου ἢ παίζοντα ὁρᾷ, καταγέλαστον φαίνεται καὶ ἄνανδρον καὶ πληγῶν ἄξιον. ταὐτὸν οὖν ἔγωγε τοῦτο πάσχω καὶ πρὸς τοὺς φιλοσοφοῦντας. παρὰ νέῳ μὲν γὰρ μειρακίῳ ὁρῶν φιλοσοφίαν ἄγαμαι, καὶ πρέπειν μοι δοκεῖ, καὶ ἡγοῦμαι ἐλεύθερόν τινα εἶναι τοῦτον τὸν ἄνθρωπον, τὸν δὲ μὴ φιλοσοφοῦντα ἀνελεύθερον καὶ οὐδέποτε οὐδενὸς ἀξιώσοντα ἑαυτὸν οὔτε καλοῦ οὔτε γενναίου πράγματος: ὅταν δὲ δὴ πρεσβύτερον ἴδω ἔτι φιλοσοφοῦντα καὶ μὴ ἀπαλλαττόμενον, πληγῶν μοι δοκεῖ ἤδη δεῖσθαι, ὦ Σώκρατες, οὗτος ὁ ἀνήρ. ὃ γὰρ νυνδὴ ἔλεγον, ὑπάρχει τούτῳ τῷ ἀνθρώπῳ, κἂν πάνυ εὐφυὴς ᾖ, ἀνάνδρῳ γενέσθαι φεύγοντι τὰ μέσα τῆς πόλεως καὶ τὰς ἀγοράς, ἐν αἷς ἔφη ὁ ποιητὴς τοὺς ἄνδρας ἀριπρεπεῖς γίγνεσθαι, καταδεδυκότι δὲ τὸν λοιπὸν βίον βιῶναι μετὰ μειρακίων ἐν γωνίᾳ τριῶν ἢ τεττάρων ψιθυρίζοντα, ἐλεύθερον δὲ καὶ μέγα καὶ ἱκανὸν μηδέποτε φθέγξασθαι.]

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