— Quando é que percebeu isso [a urgência de não perder tempo perante a consciência da morte]?
— Não sei. Há um livro que é determinante no meu percurso: as Cartas a Lucílio, de Séneca. Li-o com uns 18 ou 19 anos. É um livro que me acompanha muito. Logo a primeira carta é uma carta sobre o tempo. Lucílio é um discípulo a quem Séneca diz: «Caro Lucílio, já que te queixas de falta de tempo, relata-me o teu dia anterior, diz-me o que fizeste e quanto tempo gastaste com cada coisa; depois de teres feito essa lista, vê de entre as coisas que fizeste quais são as que consideras essenciais e quais são as acessórias, aquelas que poderias dispensar; depois de definires o essencial e o acessório, elimina amanhã o que é acessório e faz apenas as coisas essenciais». O que acho muito bonito nisto é ele aconselhar a fazer uma contabilidade do tempo. Isto é marcante para mim.
[...]
— Acontece-lhe com frequência sentir uma décalage grande entre a ideia com que ficou de uma leitura antiga e a sensação que tem, mais tarde, com a releitura?
— Não faço assim tanta releituras. O que me acontece muito, desde há muito tempo, é que leio sublinhando e escrevendo pequenas notas. Lembro-me, por exemplo, nas Cartas a Lucílio, que houve certas coisas que achei muito significativas e que agora há outras coisas a que não dei atenção nenhuma e que me parecem afinal determinantes.
em entrevista com Carlos Vaz Marques à Ler deste mês.
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