Herbert James Draper é hoje mais um daqueles pintores vitorianos que toda a gente esqueceu. Durante o seu período mais produtivo, a partir de 1894, ilustrou várias vezes temas mitológicos. Este Ícaro ganhou inclusive a medalha de ouro da exposição universal de Paris de 1900 (aquela para a qual a famosa Gare d'Orsay foi construída). E é bonito, confesso, pelo menos curioso: o filho de Dédalo surge como um quase anjo caído e as ninfas, chorando-o, é uma invenção que agrada à minha auto-educação romântica. O corpo de Ícaro, tostado, choca com o das raparigas, de pele clara, e o horizonte, ao fundo, pela forma como está pintado, poder-se-ia jurar que é tirado de um qualquer quadro impressionista. O mais desconcertante, porém, quando se contempla o quadro com o μύθος em mente, é verificar que nada, naquelas asas, sugere que estas são uma criação artificial: são antes os encaixes nos braços de Ícaro que nos parecem de todo falsos, um acrescento forçado. Não soubéssemos que ele está morto, caído dos ceús, até poderíamos acreditar que dorme.
O corpo e a mente
Há 1 dia
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