A democracia aparece no Livro VIII da República de Platão como um regime permeado por uma pulsão anarquizante que conduz gradualmente à dissolução de todas as diferenças, movimento que culmina com a quase indistinção entre animais e seres humanos. Pensando esta ligação entre democracia e anarquia, como a primeira bebe da segunda sem que com ela, porém, se confunda, dei por mim a considerar a relação entre duas cenas:
(1) Manderlay (2005), de Lars von Trier: os escravos recém-libertados por Grace, descobrindo a democracia, resolvem, com o seu beneplácito, votar que horas são, por haver entre eles um diferendo a esse respeito, ao nível dos minutos (votação que terá consequências enormes mais para o fim do filme).
(2) Alexandre, O Grande (1980), de Theo Angelopoulos: o relógio da torre da velha igreja foi parado pelos anarquistas, sob o pretexto de que o tempo é um tirano e uma imposição externa absoluta (reconstruo o argumento, que a frase, incisiva, lacónica, dos guerrilheiros já não me lembra).
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considerar a relação entre absoluto | relativismo | superação. o relativismo como resposta fraca à inaceitabilidade do absoluto, o momento negativo da trindade dialéctica (este não é, como seria mais fácil pensar, o da abolição pela superação: a Aufhebung). cf. Kafka e a parábola da Lei.
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