Orfeu
Desço aos Infernos sem nenhuma esperança.
O que morreu no coração dos deuses
Nunca mais ressuscita.
Pode animá-lo o fogo da paixão;
Do outro lado da desilusão
O próprio morto já não acredita.
Eurídice não volta a ser na terra
O que foi algum dia.
O seu nome, que o sol não alumia,
É o cansaço divino a dormitar.
Toda a corte do céu deixou de amar
Não só os poetas, mas a poesia
Coimbra, 8 de Setembro de 1952.
in "Diário VI, 1953", Miguel Torga, Poesia Completa, Volume I, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2007, p.466
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
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