terça-feira, 28 de junho de 2011

As Promessas da Filosofia

Séneca, comentando os jogos filosóficos como estes:

Porque vos afastais das vossas grandes promessas, das vossas solenes palavras, com que garantíeis que os meus olhos deixariam de impressionar-se com o brilho do ouro ou das armas, e que eu seria capaz de calcar aos pés, com inabalável firmeza, tudo quanto os outros desejam ou receiam? Porque desceis agora a essas minúcias de gramático? Que dizies? Assim se sobe aos astros? (V. Aen. 9.641) Aquilo que a filosofia me prometeu foi tornar-me igual à divindade. Foi esse o convite que recebi. Por isso vim. Respeite-se, portanto, a palavra dada. Meu caro Lucílio, subtrai-te quanto possível a essas subtilezas, a essas argúcias dos filósofos. À boa formação do espírito convém a clareza e a simplicidade. Ainda que nos restasse muito tempo de vida, haveria que poupá-lo com cuidado, de modo a bastar ao indespensável. Grande estultícia seria aprender inutilidades apesar de uma tão grande escassez de tempo!

Séneca, Cartas a Lucílio V.48.11-12
Gulbenkian, Lisboa: 2009. (trad.: J. A. Segurado e Campos)

[Quid disceditis ab ingentibus promissis et grandia locuti, effecturos vos ut non magis auri fulgor quam gladii praestringat oculos meos, ut ingenti constantia et quod omnes optant et quod omnes timent calcem, ad grammaticorum elementa descenditis? Quid dicitis? sic itur ad astra. Hoc enim est quod mihi philosophia promittit, ut parem deo faciat; ad hoc invitatus sum, ad hoc veni: fidem praesta. [12] Quantum potes ergo, mi Lucili, reduc te ab istis exceptionibus et praescriptinibus philosophorum: aperta decent et simplicia bonitatem. Etiam si multum superesset aetatis, parce dispensandum erat ut sufficeret necessariis: nunc quae dementia est supervacua discere in tanta temporis egestate!]

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