Mas é justamente em relação a essa largueza de horizontes — ainda guardada no seu [do conceito de liberdade] étimo — que é possível medir o processo de restrição, e também de secagem, semântica que assinala a sua história posterior. Seja a raiz leuth ou leudh — de que provém a eleutheria grega e a libertas latina — seja o radical sânscrito frya, do qual saem o inglês freedom e o alemão Freiheit, remetem, com efeito, para qualquer coisa que tem a ver com um crescimento, um desabrochar, uma florescência, no próprio significado vegetal das expressões. Se depois se considera a dupla cadeia semântica que daí descende — ou seja, a do amor (Lieben, lief, love, como também, noutro sentido, libet e libido) e a da amizade (friend, Freund) — pode-se deduzir não só uma confirmação desta primigénia conotação afirmativa mas também uma peculiar valência comunitária: o conceito de liberdade, no seu núcleo germinal, alude a uma potência conectiva que cresce e se desenvolve segundo a sua lei interna, a uma expansão, a um desdobramento, que junta os seus membros numa dimensão compartilhada.
Roberto Esposito, Bios - Biopolítica e Filosofia
Edições 70, Lisboa: 2010. (trad.: M. Freitas da Costa)
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