quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Príapo

Guardador-de-Pomares

Vi a primeira pêra
A cair.
O enxame amarelo, listrado de ouro,
Em busca de mel,
Não foi mais veloz do que eu
(Livra-nos da beleza!)
E caí prostrada,
Chorando.

Tu, que nos flagelaste com as flores,
Livra-nos da beleza
Das árvores de fruto!

As que buscavam o mel
Não pararam.
O ar ressoava com o seu canto
E só eu me prostrava.
Ó deus do pomar,
Talhado em tosco,
venho trazer-te uma oferenda;
Tu, o que não é belo
(Filho do deus),
Livra-nos da beleza!

As avelãs caídas,
Despidas há pouco do invólucro verde,
Os cachos vermelha-púrpura
De bagos
Gotejando vinho,
Romãs já fendidas,
E figos mirrados,
E marmelos intactos,
Eis a minha oferenda.

H.D. (Hilda Doolittle), in Leituras do Inglês, João Ferreira Duarte (trad.), Relógio d'Água, 1993

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