— E não se te afigura que o nosso futuro guardião também precisará, além de fogosidade, de uma natureza filosófica?
— Como assim? - perguntou - Não compreendo o que dizes.
— Essa qualidade - disse - é algo que descobrirás também nos cães e é uma coisa digna de admiração num animal.
— Que qualidade?
— Que a visão de uma pessoa desconhecida os faz rosnar, se bem que não se lhes tenha feito mal algum. Ao passo que se virem uma pessoa conhecida, acolhem-na bem, ainda que dela não tenham recebido qualquer benefício. Nunca te maravilhaste com este procedimento?
— Nunca tinha prestado muita atenção a esse facto até agora, mas é claro que procedem desse modo.
— Mas sem dúvida que manifesta a sua fina natureza e um verdadeiro amor da sabedoria.
— Em quê?
— No facto de que o único meio pelo qual ele distingue o amigável do hostil, é que conhece um e desconhece o outro. Ora, pergunto-te, como pode o desejo de aprender ser negado a uma criatura cujo critério para discernir o amigo do estranho é o conhecimento e a ignorância?
— Não pode ser de outro modo.
— Ora - disse - ser amigo de aprender e ser filósofo é o mesmo?
— O mesmo - respondeu ele.
Platão, A República 375e8-376b
Guimarães, Lisboa: 2005. (trad.: Elísio Gala)
We now have to "tear open" or "define precisely" (diastellein) the two parts of the ambiguous herd made up of crossbreeding clove-hoofed land animals. The Stranger says that "just about" (schedon) all but two tame herd animals have already been divided, for the genos of dogs does not merit to be included among the herd creatures (265e7-266a4). In the Republic (II.376a5ff), Socrates calls the dog the philosophical animal because it is gentle with friends and barks at strangers. Dogs both travel in packs when wild and live either singly or severally with human beings when tame. They do not fit into the structure of the diaeresis because they are not tame herd animals. Perhaps this also refers to philosophers.
Stanley Rosen, Plato's Statesman: The Web of Politics.
Yale University Press, New Haven/Londres: 1995.
imagem: O Cão, de Goya
1820-1822, @ Prado, Madrid.
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