Em grego dívida diz-se de duas maneiras: ὀφείλημα [opheilêma] e χρέος [chreos]. Ambas as palavras persistem no Grego moderno. O verbo temporal associado directamente a ὀφείλημα é o verbo ὀφείλω/ὀφέλλω que significa por sua vez dever, convir, muito próximo ao nosso sentido de "dever [fazer algo]", que por sua vez é derivado do latino debêre. Isto é, exactamente da mesma maneira em que nas línguas neo-românicas dizemos "devo-lhe €10" com a mesma palavra de "devo trabalhar", assim também o latim diz "debeo operam dare" e o grego utiliza o impessoal ὅφελον εργάζεσθαι [óphelon ergázesthai] (ou ὀφείλω ἐργάζεσθαι).
Uma porém deveras curiosa nota é a evolução semântica paralela dum outro derivado de ὀφείλω, semelhante a ὀφείλημα mas não idêntico, ὠφέλεια (ôphéleia), que por sua vez significa ajuda e que dá origem a outras palavras derivadas como ὀφελής [ophelês] ou ὀφέλλιμος [ophéllimos] - 'útil'. Aquilo que alguém nos deve é uma ajuda para nós, na medida em que contribuirá para o acrescento do nosso património (é esta a acepção etymológica apontada pelo Chantraine [Vol2. 841-2]). Nisto já não encontra paralelo em latim, onde o debêo está necessariamente associado à restituição de algo anteriormente concedido (donde temos as subtis variações de sentido entre debeo, opus/necesse est mihi, oportet, e os gerundivos).
A outra palavra, χρέος [chréos], deriva também ela por sua vez da expressão de etymologia incerta χρή [chrê], que significa também ela é preciso, sendo que a dívida é aquilo que é preciso [pagar].
A agradecer ao João o acrescento da seguinte nota, curioso seria pesquisar de que modo os entendimentos duplos da palavra em grego ("aquilo que beneficia o outro" & "aquilo que é preciso fazer") se contrastam com a palavra alemã para dívida, Schuld, palavra de conotações religiosas (Olá Weber, estamos aqui!) que significa em linguagem corrente culpa. Os gregos, portanto, são culpados.
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