sábado, 23 de junho de 2012

O Insaciável


Insaciável a dar — algumas vezes, até, coisas
que não lhe pertenciam, — como aquela montanha, por exemplo,
cor de malva no crepúsculo, com árvores de esmeralda, gravada
em vapores doirados; ou a sombra da andorinha nas espigas,
ou a forquilha caída, à noite, frente à cancela do jardim,
ou cabelos da bela mulher no acto de dizer "não".
Quanto às suas coisas — quais suas coisas? — não ficava com nenhuma.
Mantinha-se do que dava. E quando, alguma vez,
já nada tinha, cerrava os olhos, esperando
inventar algo muito maior do que ele próprio, e dá-lo. 
Precisamente então, sentia que ele era aquele. 


Yannis Ritsos, in Antologia.
Fora do Texto: 1993 (trad.: Custódio Magueijo).
[roubado aqui]

1 comentário:

  1. De cada vez que decido que não tenho tempo para aprender Grego Moderno apanho com um poema destes e dá-me um ictus cordis, um agenbite of inwit.

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