segunda-feira, 25 de junho de 2012

Echo

ECHO

(inspired by Ovid)

The nymph loses her lover Narcissus
to his own reflection.

*****

your body by the crystal pond
shining like a marble god
your locks like summer flower beds
my pores are burning fire red...

i jump into the silky lake
you push my reaching arms away
i grab you by your neck to stay
you splash and fall and swim away…

[...]



Glass Wave
letra e música: Robert Harrison

domingo, 24 de junho de 2012

Capitolium Vivum


Capitolium Vivum est recens sedis retialis illius blog generis qua continentur et continebuntur textus latine dumtaxat conscripti. Nunc temporis scriptores hujus sedis sumus Demetrius Dragnev bulgarus et ego, qui numerus verisimiliter augebitur in dies. Omnes latineloquentes rogamus ut vulgent. Nostra referet tractare et res serias et leviores, at imprimis volumus argumenta afferre quibus omnes intellegere possint usum vivum latinae linguae posse ad multo majora pertinere, immo etiam ad res maxime humanitatis studiis pertinentia, quam illae nugae quae solent excuti quotienscumque temporibus recentioribus verba de latineloquendo et scribendo fiunt.

Fuit mihi magister Aloisius ille Miraglia qui verba proferre solebat haec: Lingua latina vincit tempus et spatium. Vincit tempus nam per saecula homines sunt ea functi quorum hominum terrae procul ab aliis distabant adeo ut nunquam potuissent inter sese intelligere nisi ea lingua usi. Vincit item tempus quia post populum Romanum orta est natio per saecula sparsa quae ab ipsis civibus respublica litterarum vocabatur, qui cives suos majores legebant tamquam aequales et cum scribebant sciebant se eodem pacto a posterioribus lectum iri. Pars hujus magna jam perivit, nec illecebras servamus, at non tota, et scribimus ut fax quaedam vel minina micetGrates lectoribus agimus.

Nasceu há pouco tempo um blog escrito unicamente em Latim, Capitolium Vivum, do qual por enquanto fazemos parte apenas eu e o Demétrio Dragnev, búlgaro. Embora não tenhamos intenção de deixar de tratar de assuntos mais leves, terá como principal orientação a crença de que o uso vivo da língua latina, ao contrário do que se levaria a crer pela multiplicação de brincadeiras o mais das vezes incapazes de penetrar na língua com estudo e seriedade, é ainda possível nos dias de hoje, e aliás faz todo o sentido utilizá-la para tratar de assuntos que digam respeito aos studia humanitatis, às Humanidades em geral mas também à contemporaneidade (sem cair na tentação de servir de "relatos noticiários").

Tive um professor, o Luigi Miraglia, que costumava dizer que o Latim vincit tempus et spatium - derrota o tempo e o espaço. O espaço, pois durante séculos serviu como língua franca de povos separados por imensidões que apesar disso eram capazes de fazer chegar as suas palavras a tão longe; o tempo, pois para além de servir como língua pátria dum povo, serviu como língua duma nação espalhada através dos tempos, a respublica litterarum, cujos membros liam os seus antepassados como se fossem contemporâneos e podiam escrever sabendo que haveriam de poder ser lidos pelos vindouros da mesma maneira. Muito disto agora está morto, mas não tudo, e na tentativa de dar de nós o pouco que seja, escrevemos.

Capitolium Vivum.

A Vida Presente

DK 87 B 52.  Harpocrácion: «Baralhar e tornar a dar» [ἀναθέσθαι]. Antifonte, Da Concórdia: «Não é possível baralhar a vida e tornar a dá-la como num jogo de cartas» [...]. É uma expressão metafórica tirada do jogo. 

DK 87 B53a [= Estobeu, 16.20. De] Antifonte: «Alguns há que não vivem a vida presente, mas que se preparam com muito esforço para viver uma outra vida, em vez da vida presente; e, entretanto, o tempo passa sem darmos por isso».

Antifonte in Sofistas - Testemunhos e Fragmentos
INCM, Lisboa: 2005 (trad.: Ana Alexandre Sousa e Maria José Vaz Pinto).

sábado, 23 de junho de 2012

O Insaciável


Insaciável a dar — algumas vezes, até, coisas
que não lhe pertenciam, — como aquela montanha, por exemplo,
cor de malva no crepúsculo, com árvores de esmeralda, gravada
em vapores doirados; ou a sombra da andorinha nas espigas,
ou a forquilha caída, à noite, frente à cancela do jardim,
ou cabelos da bela mulher no acto de dizer "não".
Quanto às suas coisas — quais suas coisas? — não ficava com nenhuma.
Mantinha-se do que dava. E quando, alguma vez,
já nada tinha, cerrava os olhos, esperando
inventar algo muito maior do que ele próprio, e dá-lo. 
Precisamente então, sentia que ele era aquele. 


Yannis Ritsos, in Antologia.
Fora do Texto: 1993 (trad.: Custódio Magueijo).
[roubado aqui]

Orígenes, Agora No Original




A filóloga italiana Marina Molin Pradel descobriu em abril um conjunto de 29 homilias inéditas de Orígenes, escritor cristão que nasceu em Alexandria, no Egito, provavelmente entre 183 e 187. Ao estudar um códice bizantino do século XI numa biblioteca da cidade alemã de Munique, a investigadora apercebeu-se de que algumas das homilias sobre os salmos bíblicos correspondiam às de Orígenes, traduzidas em latim por Rufino no início do século V, revela o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano.

ler mais aqui.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Latim para principiantes

Descobri faz pouco este site, Hiberna Caroli Raetici, com o qual muito me impressionei: não abunda em recursos (nota-se em particular a falta de dicionários Latim-Latim), mas aqueles que tem são certeiros. Fiquei particularmente satisfeito com as listas de vocabulário. Fica a nota!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Vitam regit sapienta non fortuna

O De Rerum Natura acabou de publicar um texto sobre o impacto das novas medidas do ensino secundário no Latim e no Grego. Sei bem do que fala, e senti-o na pele quando há 6-7 anos atrás tentei na maior escola de Viseu, capital de distrito, entrar numa turma de Latim, e dei com a porta da cara. Não sei se terá alguma vez havido uma altura em que não tenha havido razão para uma acção concertada em favor do ensino das Clássicas, mas o chamamento nada da sua urgência perde.

Vitam regit sapienta non fortuna, de João Veloso.

terça-feira, 19 de junho de 2012

hic michi Romam, hic Athenas, hic patriam ipsam mente constituo


Hec vita mea est: media nocte consurgo, primo mane domo egredior, sed non aliter in campis quam domi studeo cogito lego scribo, somnum quantum fieri potest ab oculis meis arceo, a corpore mollitiem, ab animo voluptates, ab operatione torporem. Totis diebus aridos montes, roscidas valles atque antra circumeo, utranque Sorgie ripam sepe remetior, nullo qui obstrepat obvio, nullo comite, nullo duce, nisi curis meis minus in dies acribus ac molestis. Illas ante retroque transmittens, preteritorum memor ventura delibero: quam feliciter viderit Ille de quo dictum est: «In lumine tuo videbimus lumen», sine quo frustra per tenebras humanitas lippa circumspicit. In Illius ducatu omnis spes est mea; certe quod in me est, nitor ut prestem non reluctantem animum iamque cum Apostolo quantum possum preterita “obliviscens”, in ea que sunt ante “extendor”. Unum michi solamen ingens in omni exilio datum est, quod et hunc locum iam feci et omnem si res tulerit, familiarem michi videor facturus, modo ille non sit Avinio, ventosis ac turbidis Rodani gurgitibus impendens. Hec tibi diutius, amice, ignota esse non sum passus, si tamen ignota erant hactenus, ne forsitan me querentes epystole tue hac illac incertis tramitibus vagarentur. Ad fontem Sorgie sum, ut dixi, et quando ita visum est fortune, locum alium non requiro, nec faciam donec illa, quod crebro solet, varium mutet edictum. Interea equidem hic michi Romam, hic Athenas, hic patriam ipsam mente constituo; hic omnes quos habeo amicos vel quos habui, nec tantum familiari convictu probatos et qui mecum vixerunt, sed qui multis ante me seculis obierunt, solo michi cognitos benificio literarum, quorum sive res gestas atque animum sive mores vitamque sive linguam et ingenium miror, ex omnibus locis atque omni evo in hanc exiguam vallem sepe contraho cupidiusque cum illis versor quam cum his qui sibi vivere videntur, quotiens rancidum nescio quid spirantes, gelido in aere sui halitus videre vestigium. Sic liber ac securus vagor et talibus comitibus solus sum; ubi volo sum; quotiens possum mecum sum; sepe etiam tecum et cum illo viro optimo maximo, quem cum nunquam viderim, — dictu mirum — omnibus horis video, apud quem, queso, nomen meum dum tu secum loqui poteris, non senescat. Vale.

Franciscus Petrarca. Epystolarium Familiarium Liber Decimus Quintus. Litterae Tertiae ad Zenobium Grammaticum Florentinum. Hic inventae.

Mementote etiam illarum Maclavelli litterarum quarum notitia a nobis lata est hic, quae fere de eodem themate arguunt, id est de cum antiquis quasi ceu nostris aequalibus colloquio, ut eos interrogamus sine metu immo cum et cura et caritate.

sábado, 16 de junho de 2012

a Sabedoria de Siena e de Hermes Trimegistos

No pavimento do Duomo de Siena há todo uma série de imagens a mármore incrustado mostrando-nos as Sibýllas, a Roda da Fortuna, e donde também temos aquela que é provavelmente a imagem mais famosa de Hermes Trimegistos, colocada logo à entrada da cathedral. Mas a mais notável e a maior de todas as imagens é aquela figurada a metade da nave central que retrata uma Montanha da Sabedoria com a inscrição latina Huc properate viri salebrosum scandite montem pulchra laboris erunt premia palma quies, (Vinde depressa, homens, escalai o monte rugoso, a bela recompensa do esforço será a palma da serenidade).




Partindo de baixo para cima, temos uma imagem da Fortuna que conduziu os aspirantes a philósophos até à ilha onde poderão atingir a sabedoria, se souberem evitar os monstros, as serpentes, e os precipícios perigosos que assolam o caminho até ao topo. Imagino que haja notas iconográphicas para identificar pelo menos a maior parte das figuras, embora eu consiga apenas identificar Zenão o Estóico, o de mão aberta e fechada (a mãe aberta aponta para a flexibilidade e para os movimentos do orador, a fechada para a captação dos conceitos). Chegados ao monte descobrimos a Sabedoria comitada de duas figuras que terão atingido a sabedoria, Sócrates e Crates. Esse Crates é um philósopho cýnico, professor do dito Zenão acima mencionado, que famosamente largou as suas riquezas fora quando se apercebeu de que tal seria necessário para levar uma vida dedicada à philosohia. Sócrates vêmo-lo virado para a Sabedoria com um livro na mão.

O livro é importante porque, assim como vemos também a Sabedoria pegando noutro, lembramo-nos de que na iconographia da época, o livro fechado era o sinal de doutrinas esotéricas, não-reveladas. Isto é, ao contrário da doutrina racional exotérica ou da revelação religiosa pública e de acesso comum a todos, desde cedo se começou a pensar que quer os escritos pagãos antigos quer os textos sagrados das várias religiões conteriam verdades acessíveis apenas àqueles que ou dedicassem a sua vida ao seu estudo seguindo o mais das vezes uma tradição heredital de sapiência, ou fossem agraciados por uma qualquer vontade divina.



Para esta ideia muito contribuiu a redescoberta do Corpus Hermeticum (figurado na mesma cathedral, como acima, com as palavras Deus omnium creator secum Deum fecit visibilem et hunc fuit primum et solum quo oblectatus est et valde amavit proprium Filium qui appellatur Sanctum Verbum. Suscipite o licteras et leges Egiptii. (Deus o creator de tudo fez para consigo um [outro] Deus visível, e foi com este que apenas e pela primeira vez Ele se deleitou, e amou-o como o seu próprio filho que se chama Palavra Santa. Recebei as letras e as leis do Egipto), assim como a descoberta dos Hymnos Órphicos, ambos os quais eram datados duma antiguidade muy remota, atribuídos aos sábios Orpheu e ao egípcio Hermes, e dos quais se pensava que quer Moisés quer Platão teriam recebido a sua inspiração (Moisés aparece até na imagem do Trimegistos); isto originou uma verdadeira febre em Florença que implicou não só os mais previsíveis, como Pico Mirandolensis e Marsilio Ficino, mas chegou até ao próprio Lorenzo il Magnifico, sob cujas ordens Ficino traduziu estas obras esotéricas.

Apenas se soube muito mais tarde que tanto uma obra quanto a outra poderiam ser datadas quando muito dos primeiros séculos da era christã, assim como uma outra obra que claramente influenciou a presente imagem, e falo da Tabula Cebetis; o "Quadro de Cebes", apresentado como obra do philósopho pythagórico dramatizado no Phaedon platónico embora seja datado da mesma altura do Corpus Hermeticum, foi durante a Renascença  considerado uma obra prima da sabedoria antiga, repetido inúmeras vezes e estudado por Hobbes (que o refere no Leviathan), por Vico, por outros. Lá lemos sobre os diversos percursos da alma que, ao nascer, se encontra defronte a um monte, cuja escalada, se não for desviado pelos incontinências ou pelo mundus mundanus, poderá levar à sabedoria entronada no cume.


quarta-feira, 13 de junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Proprio Per Questo Le Capisco!

«Classico dell'elenismo» [definição de Wilamowitz das epístolas de Paulo] è, tuttavia, una definizione particolarmente infelice. Un aneddoto riferito da Taubes è, a questo proposito, illuminante. Un giorno durante la guerra, a Zurigo, egli passeggiava con Emil Staiger, l'illustre germanista che era anche un ottimo grecista (lo stesso che ha avuto un interessante scambio epistolare con Heidegger a proposito dell'interpretazione di un verso di Mörike). «Camminavamo insieme lungo la Rämistrasse, dall'Università al lago, fino al Belvedere, dove egli avrebbe svoltato, mentre io avrei proseguito verso il quartiere ebraico nella Enge; mi disse: "Sa, Taubes, ieri ho letto le lettere dell'apostolo Paolo". Poi aggiunse con profondo rammarico: "Ma non è greco, è jiddish!". Al che io dissi: "Certo, professore, proprio per questo le capisco!". Paolo appartiene a una comunità ebraica della diaspora che pensa e parla in greco (in giudeo-greco) esattamente como i sefarditi parleranno in ladino (o giudeo-spagnolo) e gli aschenaziti in jiddish.

Giorgio Agamben, Il Tempo Che Resta. Un Commento alla Lettera ai Romani. 
Bollati Boringhieri, Turim: 2000, pg. 11-12.

domingo, 10 de junho de 2012

Etimologias Teológico-Políticas

Agamben como Filipe em O Evangelho Segundo São Mateus (1964), de P. P. Pasolini
com um agradecimento ao Miguel por me ter chamado a atenção para o facto 
Il principio della legge è dunque la divisione. E la partizione fondamentale delal legge ebraica è quella tra Ebrei e non-Ebrei — nelle parole di Paolo: Ioudaíoi e ethnê. Nella Biblia, infatti, il concetto «popolo» è sempre già diviso: am e goj (pl. gojim). Am è Israele, il popolo eletto, col quale Jahvé ha concluso una berit, un patto; gojim sono gli altri popoli. La Settanta traduce am con laos e gojim con ethnê. (Comincia qui un capitolo fondamentale nella storia semantica del termine «popolo», che sarebbe pertinente seguire sino all'uso odierno dell'aggettivo «etnico» nel sintagma «conflitti etnici»; altrettanto interessante sarebbe indagare le ragioni che hanno indotto la Settanta  a non ricorrere all'altro termine greco per popolo, così prestigioso nella nostra tradizione filosofico-politica: dêmos. In ogni caso, si vede qui con chiarezza come il termine «popolo» sia sempre già diviso, traversato da una faglia teologico-politica originaria).

Giorgio Agamben, Il Tempo Che Resta. Un Commento alla Lettera ai Romani.
Bollati Boringhieri, Turim: 2000, pg. 50

sábado, 9 de junho de 2012

Escuta a canção de Penélope







Loreena McKennitt - Penelope's Song - Live (Nights from Alhambra, 2007)


Penélope

Desfaço durante a noite o meu caminho.
Tudo quanto teci não é verdade,
Mas tempo, para ocupar o tempo morto,
E cada dia me afasto e cada noite me aproximo

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I

terça-feira, 5 de junho de 2012

Canzona di Bacco

        Quant'è bella giovinezza,
che si fugge tuttavia!
chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.      
        Quest'è Bacco ed Arianna,
belli, e l'un de l'altro ardenti:
perché 'l tempo fugge e inganna,
sempre insieme stan contenti.
Queste ninfe ed altre genti
sono allegre tuttavia.
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.
        Questi lieti satiretti,
delle ninfe innamorati,
per caverne e per boschetti
han lor posto cento agguati;
or da Bacco riscaldati
ballon, salton tuttavia.
Chi vuol esser lieto, sia
di doman non c'è certezza.
        Queste ninfe hanno anco caro
da lor essere ingannate:
non può fare a Amor riparo,
se non gente rozze e ingrate:
ora insieme mescolate
suonon salton tuttavia.
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.
        Questa soma, che vien drieto
sopra l'asino, è Sileno:
così vecchio è ebbro e lieto,
già di carne e d'anni pieno;
se non può star ritto, almeno
ride e gode tuttavia.
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.
        Mida vien dopo a costoro:
ciò che tocca, oro diventa.
E che giova aver tesoro,
s'altro poi non si contenta?
Che dolcezza vuoi che senta
chi ha sete tuttavia?
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.      
Ciascun apra ben gli orecchi,
di doman nessun si paschi;
oggi siàn, giovani e vecchi,
lieti ognun, femmine e maschi;
ogni tristo pensier caschi:
facciam festa tuttavia.
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.
        Donne e giovinetti amanti,
viva Bacco e viva Amore!
Ciascun suoni, balli e canti!
Arda di dolcezza il core!
Non fatica, non dolore!
Ciò ch'a esser convien sia.
Chi vuol esser lieto, sia:
di doman non c'è certezza.

Lorenzo de' Medici (detto Il Magnifico). Canti Carnacialeschi.

Workshop Medicina e Matemática na Antiguidade

Workshop Medicina e Matemática na Antiguidade

O objectivo do workshop é dar a conhecer conteúdos fundamentais de ciência antiga (medicina e matemática) a todos os interessados em tópicos de cultura clássica. Ao longo do workshop serão lidos, explicados e comentados alguns trechos de obras de Euclides e Hipócrates. 

Sessões
18 de Junho (10h-12h): Medicina 1. Hipócrates. As escolas de Cós e de Cnido.
19 de Junho (10h-12h): Medicina 2. Diagnóstico/Prognóstico.
20 de Junho (10h-12h): Medicina 3. Tratamento.
21 de Junho (10h-12h): Matemática 1. Introdução aos Elementos de Euclides.
22 de Junho (10h-12h): Matemática 2. Elementos (selecção de proposições).
25 de Junho (10h-12h): Matemática 3. Geometria, ciência e conhecimento.

Local: Edifício Central da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sala 6.1.
Destinatários: Público geral; todos os interessados no estudo do mundo antigo. Não são exigidos conhecimentos de Latim ou Grego.
Entrada livre: Pede-se aos interessados que se registem no Centro de Estudos Clássicos da FLUL até dia 7 de Junho

Responsáveis: Bernardo Mota e Maria José Mendes e Sousa (Investigadores do CEC)
Contactos: centro.classicos@fl.ul.pt; bernardomota@campus.ul.pt

A Uma Árvore no Vondelpark

Uma árvore de longas tranças verdes foi derribada.
Suspirou como uma criança, numa murmuração,
enquanto caía, cheia ainda de ventos do verão.
Eu vi a carreta em que era puxada.

Oh, como Heitor no carro de vitória, um jovem moço
cabelos arrastando e um perfume de juventude
que de belas feridas lhe escorria,
a jovem cabeça ainda sadia,
o tronco indomado ainda, garboso.

[Er is een boom geveld met lange groene lokken.
Hij zuchtte ruisend als een kind
terwijl hij viel, nog vol van zomerwind.
Ik heb de kar gezien, die hem heeft weggetrokken.


O, als een jonge man, als Hector aan de zegewagen,
met slepend haar en met de geur van jeugd
stromende uit zijn schone wonden,
het jonge hoofd nog ongeschonden,
De trotse romp nog onverslagen.]



M. Vasalis in Uma Migalha na Saia do Universo - 
Antologia da Poesia Neerlandesa do Século XX
Assírio, Lisboa: 1996 (trad.: Fernanda Venâncio).

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Phaethon in Tuscany


It was Phaethon who drove them to Fiesole that memorable day, a youth all irresponsibility and fire, recklessly urging his master's horses up the stony hill. Mr. Bee recognized him at once. Neither the Ages of Faith nor the Age of Doubt had touched him; he was Phaethon in Tuscany driving a cab.

E.M. Emerson. A Room with a View. Project Gutenberg (2001).

Novidades Editoriais Classica Digitalia

(informação recebida pela Origem da Comédia)
O Conselho Editorial dos Classica Digitalia – braço editorial do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da UC  tem o gosto de anunciar 3 novas publicações, elevando para 110 o número de volumes disponíveis, no momento em que este projeto editorial celebra 3 anos de existência.

Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente (cujo endereço direto é dado nesta mensagem) encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso.

NOVIDADE EDITORIAL

Série “Humanitas Supplementum” (Estudos)
- José Augusto Ramos, Maria Cristina de Sousa Pimentel, Maria do Céu Fialho, Nuno Simões Rodrigues (coords.), Paulo de Tarso: grego e romano, judeu e cristão(Coimbra, Classica Digitalia/CECH, CHUL, CEC, 2012). 306 p.
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/129
PVP: 25 € / Estudantes: 20 € [capa dura]
 
- Carlos A. Martins de Jesus, Claudio Castro Filho, José Ribeiro Ferreira (coords.), Hipólito e Fedra - nos caminhos de um mito (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2012). 228 p.
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/127
PVP: 20 € / Estudantes: 16 € [capa dura]

Série “Monografias” (Estudos)

Sofia de Carvalho, Representações e hermenêutica do Eu em Safo - Análise de quatro poemas (Coimbra, CECH, 2012). 142 p. 
Hiperligação: https://bdigital.sib.uc.pt/jspui/handle/123456789/128
PVP: 11 € / Estudantes: 8 €

domingo, 3 de junho de 2012

Sobre a Dívida Grega



Em grego dívida diz-se de duas maneiras: ὀφείλημα [opheilêma] e χρέος [chreos]. Ambas as palavras persistem no Grego moderno. O verbo temporal associado directamente a ὀφείλημα é o verbo ὀφείλω/ὀφέλλω que significa por sua vez dever, convir, muito próximo ao nosso sentido de "dever [fazer algo]", que por sua vez é derivado do latino debêre. Isto é, exactamente da mesma maneira em que nas línguas neo-românicas dizemos "devo-lhe €10" com a mesma palavra de "devo trabalhar", assim também o latim diz "debeo operam dare" e o grego utiliza o impessoal ὅφελον εργάζεσθαι [óphelon ergázesthai] (ou ὀφείλω ἐργάζεσθαι).

Uma porém deveras curiosa nota é a evolução semântica paralela dum outro derivado de ὀφείλω, semelhante a ὀφείλημα mas não idêntico, ὠφέλεια (ôphéleia), que por sua vez significa ajuda e que dá origem a outras palavras derivadas como ὀφελής [ophelês] ou ὀφέλλιμος [ophéllimos] - 'útil'. Aquilo que alguém nos deve é uma ajuda para nós, na medida em que contribuirá para o acrescento do nosso património (é esta a acepção etymológica apontada pelo Chantraine [Vol2. 841-2]). Nisto já não encontra paralelo em latim, onde o debêo está necessariamente associado à restituição de algo anteriormente concedido (donde temos as subtis variações de sentido entre debeo, opus/necesse est mihi, oportet, e os gerundivos).

A outra palavra, χρέος [chréos], deriva também ela por sua vez da expressão de etymologia incerta χρή [chrê], que significa também ela é preciso, sendo que a dívida é aquilo que é preciso [pagar].

A agradecer ao João o acrescento da seguinte nota, curioso seria pesquisar de que modo os entendimentos duplos da palavra em grego ("aquilo que beneficia o outro" & "aquilo que é preciso fazer") se contrastam com a palavra alemã para dívida, Schuld, palavra de conotações religiosas (Olá Weber, estamos aqui!) que significa em linguagem corrente culpa. Os gregos, portanto, são culpados.