quarta-feira, 6 de julho de 2011

Possível Epígrafe da Tese


...ὡς οὐδ' ἄρξαι καλῶς τοὺς μὴ πρότερον ὀρθῶς δουλεύσαντας, ᾗ φησιν ὁ Πλάτων, δυναμένους.
...pois como diz Platão: não têm capacidade para governar em beleza os que primeiro não serviram cor-rectamente* como escravos.     

Plutarco, Preceitos Políticos 806f4-6

* o significado primeiro de ὀρθῶς é direito (tradução possível, se bem que mais fácil em português do Brasil, onde direito funciona também como advérbio, no sentido metafórico [bem] que o grego ὀρθῶς adquiriria: servir direito guardaria assim a ambivalência do original), erecto, de pé. Plutarco-Platão poderia referir-se muito simplesmente à posição do escravo ao servir, posição essa que, porém, denuncia toda uma postura interior, de alguém que, na base da pirâmide social, mantém a sua dignidade, e a cabeça levantada, olhando frontalmente, não vergado, ou por consciência do valor próprio ou do do trabalho que desempenha (em última análise essencial ao funcionamento da cidade: que seria de Atenas sem a prata do Láurio?). A tradução como cor-rectamente, procura, no rectamente, guardar o sentido físico do termo, e, com o prefixo, apontar na direcção do significado metafórico (bem, correcto, justo). A separação da palavra chama a atenção para a presença dos dois sentidos, mas permite também uma leitura em jogo: com um coração [latim: cor] que é recto [recta], ou, se quisermos estender a brincadeira, com uma mente [mente] que é recta [recta] porque orientada(/corrigida?) pelo coração [cor] (cor-recta-mente).

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