sexta-feira, 22 de julho de 2011

Perdoemos ao Scarlatti: nunca nos olhará por dentro.


http://www.fotolog.com/josfelic37/28495584
“É Vénus e Vulcano, pensou o músico, perdoemos-lhe a óbvia comparação clássica, sabe ele lá como é o corpo de Blimunda debaixo das roupas grosseiras que veste, e Baltasar não é apenas o tição negro que parece, além de não ser coxo como foi Vulcano, maneta sim, mas isso também Deus é. Sem falar que a Vénus cantariam todos os galos do mundo se tivesse os olhos que Blimunda tem, veria facilmente nos corações amantes, em alguma coisa há-de um simples mortal prevalecer sobre as divindades. E sem contar que sobre Vulcano também Baltasar ganha, porque se o deus perdeu a deusa, este homem não perderá a mulher”
José Saramago, Memorial do Convento, 27ªed., Lisboa, Caminho, 1998.
(A propósito da segunda fase da Prova Escrita de Português, Exame Nacional do Ensino Secundário, a decorrer hoje).

1 comentário:

  1. Mais uma bela peça do Saramago. Li o romance e vi uma adaptação para o teatro aqui no Brasil, em Fortaleza. À época que li o romance, também estava na lista do vestibular. Agora não mais...

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