quinta-feira, 14 de julho de 2011

Gregos somos nós



Platão, Pitágoras, Dracon, Arquimedes, Aristóteles e Homero num governo de salvação grego. Vamos lá ver se a coisa assim resulta



"Reflito sobre o que nos aconteceu. Como num lançamento de dados, devemos, de acordo com o lote que nos toca, restabelecer os nossos assuntos pelos meios que a razão nos prescreve como sendo os melhores e, indo de encontro a qualquer coisa, não agir como as crianças, que, agarrando-se à parte magoada, perdem o tempo a gritar, mas, pelo contrário, lutar por habituar a nossa alma a ir o mais depressa possível tratar o ferimento, erguer o que está por terra e fazer calar os lamentos mediante a aplicação do remédio", foi este o discurso de Platão, pela voz do ministro dos Assuntos Parlamentares Sócrates, quando, levantando-se dos escombros, tomou posse do governo de salvação da Grécia, substituindo Papandreou, com o objetivo determinado de trocar tangas por togas. Todos os analistas concordaram que os sábios antigos seriam mais úteis ao Parlamento, e os modernos políticos também não ficariam mal empedrados nos pedestais que calçam a Acrópole.
Só estranharam o curioso facto de, no Conselho de Ministros, o platónico Platão fazer mais perguntas do que dar respostas, mas os seus assessores, sobretudo esse tal Glaucio, lá se habituaram ao estranho método de trabalho, que se revelou apesar de tudo eficaz. Importante foi a formação da equipa. Pitágoras foi chamado para ministro das Finanças para descobrir a hipotenusa dos mercados. Dracon só podia ficar com a Justiça, com o fim de inventar novas leis. A Péricles calharam as obras públicas, quem ergueu uma Acrópole pode agora erguer um admirável mundo novo. Heródoto com a pasta da Educação, Homero, naturalmente, com os Negócios Estrangeiros. Hipócrates, com a Saúde. Ninguém se opôs à criação de dois novos ministérios. Arquimedes foi nomeado Ministro das Grandes Ideias, enquanto Píndaro passou a chefiar o Ministério da Poesia, porque sem Poesia isto não vai a lado nenhum. Aristóteles a comandar os destinos do Ministério de Tudo e Mas Alguma Coisa. Ésquilo, Eurípedes e Sófocles foram chamados para conselheiros-mor do Estado, dado a sua facilidade em lidar com tragédias. Mas diga-se que nenhum destes nomes convenceu as agências de rating nem a senhora Merkel, que não sabia da existência de pensadores pré-Adam Smith. Foi então que Heraclito de Éfeso, o pai da dialética, se lembrou: "Por Zeus, isto só vai lá com a dupla Marx-Engels governar a Alemanha". E fez-se o milagre.



Manuel Halpern, In Visão Online

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