quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Novidades Editoriais dos Classica Digitalia

(informação recebida pela Origem da Comédia)
O Conselho Editorial dos Classica Digitalia – braço editorial do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da UC – tem o gosto de anunciar duas novas publicações, uma das quais em parceria com a Imprensa da Universidade de Coimbra. Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital. O eBook correspondente encontra-se disponível em acesso livre. O preço indicado diz respeito ao volume impresso. 

NOVIDADES EDITORAIS 

I. Série “Humanitas Supplementum” (Estudos) 

- José Ribeiro Ferreira, Delfim F. Leão, & Carlos A. Martins de Jesus (eds.): Nomos, Kosmos & Dike in Plutarch (Coimbra, Classica Digitalia/CECH, 2012). 277 p. 
PVP: 25 € / Estudantes: 20 € [capa dura] 

II. Série “Varia” (Estudos)

- Delfim F. Leão, A globalização no mundo antigo. Do polites ao kosmopolites (Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra / Classica Digitalia). 158 p. 
PVP: 11 € / Estudantes: 9 €

L'Anée Philologique

Agradecemos à Professora Paula Barata Dias o ter-nos feito chegar esta notícia. 

No ano passado a Anée Philologique denunciou o encerramento iminente da sua ala de publicação alemã. Prontamente houve quem falasse contra e alto. Dizem-nos agora que a angariação de 4500 assinaturas para a salvaguarda duma revista académica, aliás, para a salvaguarda duma ala duma revista académica, não poderia jamais ser tomada como de pequena monta; terá assim sido um factor de peso se não mesmo a pedra angular na manutenção perseverante da revista. A Anée Philologique alemã não se extinguirá, em vez disso será transplantada com mudança integral de equipa para a alçada da Universidade de Munique. Referem hoje à comunidade académica termos de agradecimento e de júbilo, que nós do mesmo modo acolhemos. Mais informações.
Cher(e)s collègues  et ami(e)s, Merci à tous. 
Vous êtes près de 4500 à avoir signé notre pétition de solidarité envers la rédaction allemande de l’Année Philologique (APh) depuis sa mise en ligne en avril dernier. Vous venez des quatre coins du monde, d’horizons, métiers et spécialités très différents. Vous n’êtes pas tous antiquisants, ce qui prouve le rayonnement de l’APh au delà de nos domaines spécialisés et son ancrage dans le monde de l’université et de la recherche en général. Plusieurs d’entre vous ne sont pas directement membres de la communauté académique. Parmi vous, de nombreux étudiants, ce qui est encourageant pour l’avenir : leur soutien prouve l’utilité de notre travail pour le développement des études classiques et pour la diffusion de l’information scientifique. Vos commentaires nous encouragent à poursuivre, mais ils soulignent aussi la grande responsabilité qui est la nôtre face à vos exigences de qualité et de pertinence scientifique. Vous êtes nombreux à souligner l’importance d’une bibliographie comme l’APh, sous tutelle d’institutions publiques universitaires et de recherche, à un moment où l’information scientifique tend à devenir un enjeu commercial. Votre mobilisation a permis à nos collègues allemands de continuer à travailler sans se décourager, dans des conditions de grande incertitude. Votre soutien rapide et massif a sans doute pesé dans la recherche de solution de la part des autorités académiques allemandes. Nous vous sommes tous reconnaissants. 

Des nouvelles de la situation actuelle. Une nouvelle rédaction de l’Année Philologique a été créée sous la tutelle de l’université de Munich. Elle prendra en janvier 2013 la suite de la Zweigstelle Heidelberg qui fermera ses portes fin décembre 2012. La disparition définitive de la partie allemande et de la langue allemande de l’APh a ainsi été évitée. Cette rédaction aura un financement pour trois ans et comportera moins de personnel que la précédente. Des procédures de transmission du savoir et des compétences de l’ancienne rédaction à la nouvelle sont en cours d’élaboration, dans le respect du cahier de charges dont la direction scientifique de l’APh a la responsabilité et qui a été envoyé à la nouvelle tutelle. Cette transmission est indispensable, car la nouvelle rédaction sera constituée de collègues entièrement nouveaux. 

Nous souhaitons que la nouvelle rédaction soit pérennisée et qu’elle ait les moyens d’accomplir sa tâche de la meilleure façon possible. Elle aura en tout cas notre appui comme toutes les rédactions. Nous vous tiendrons informés des évolutions à venir, mais nous comptons aussi sur votre vigilance. Grâce aux efforts de tous, l’APh continuera à avoir un rôle central dans le paysage scientifique au niveau international. 

Encore merci et à bientôt.
L’équipe éditoriale parisienne.
Dina Bacalexi, Julie Giovacchini (directrices)
Laurent Capron, Sébastien Grignon (éditeurs)

domingo, 28 de outubro de 2012


"Coisas belas talvez no seu modo de entender o mundo pela beleza que é talvez bela mas não é esta a minha hora de a aprender. (...)
Agora quero olhar-te no fresco de Pompeia, se não te aborreces. Está aqui numa parede do meu quarto (...) Eles que esperem todos, tenho tanto que estar só contigo. Com a tua imagem fictícia da minha idealidade vã. (...) - olho o fresco de Pompeia. Ou não bem de Pompeia, mas de Estábias que fica logo a seguir e ao Sul. Ou talvez não de Pompeia mas Pompeios que é um nome feio como um tombone (trombone?). Representa a Primavera, o fresco. Ou talvez a deusa Flora para ser mais corpórea contigo. Mas é um corpo transcendente até à sublimidade. Tu tinhas mais peso do que isso, querida. Mas eu preciso agora tanto de seres divina. Transcendente irreal. Dissolúvel e vã - deixa-me ser infantil. Mesmo o amor só começa a existir assim, é dos livros. Metafísico disparatado. Abaixo disso tem já outro nome que vem na fisiologia. Preciso ardentemente de irradiar o teu corpo a tudo quanto baste para ser divino. (...)
É uma deusa linda num instante do seu movimento leve, mas não se lhe vê a face. Porque a beleza não é dela mas da leveza do seu passar. (...)
E o imponderável de todo o seu ser de passagem. Mas era o que sobretudo eu gostaria de te dizer desta deusa grave e aérea. Não bem o seu corpo esbelto como um voo de ave, mas só esse voo. Não bem a sua juventude eterna mas a eternidade. Não o gracioso dela mas a graça. Olho-a infinitamente para tu lá estares e ouço-te rir porque não estarias nunca. Fito-o e filtro-o para ficar comigo o seu impossível até à morte. (...)
Olho-a ainda, olho-a sempre. Passa aérea e de costas. E assim a sua beleza é invisível, no anúncio do que jamais poderemos ver. Assim a sua beleza é a mais bela porque está perto e longe, na realidade tangível e intocável para sempre. Na face oblíqua de que jamais saberemos a face. No olhar que inunda todo o corpo como é próprio de todo o olhar mas de que jamais saberemos os olhos donde vem a torrente. No seu corpo de deusa e no enleio do seu movimento que jamais poderemos ter nas mãos porque a sua realidade é o passar. (...) Tenho de deixar de olhar esta deusa efémera no breve instante de ser deusa (...)
Mas tanto como me custa. Deixo de a olhar e ela passa, quando voltarei a vê-la?"

Vergílio Ferreira, Em nome da terra, Quetzal Editores, 2009, pp.113-114


Plato's Dialogues

Uma série de artigos no Guardian em jeito de introdução a Platão e aos diálogos. (Nota: a série maior em que esta se encontra inserida, How To Believe, tem outras tantas sobre filosofia & religião, algumas francamente interessantes).

Lexica Latina et Graeca

O público para a seguinte partilha será por necessidade algo reduzido, mas há quem tenha sofrido bastante com a inexistência dum qualquer dicionário ou programa substituto que fosse capaz de encontrar instantaneamente os paralelos latim-grego/grego-latim sem passar pelas meias-vias de dicionários vernáculos. Recentemente passaram-me a ligação da seguinte ligação, onde estão disponíveis os famosos dicionários Latinum-Graecum Hedericus e o Schrevelius (as referências do género, e ainda passíveis de ser encontradas em mercados de segunda-mão), de modo semelhante à utilíssima adaptação do dicionário Inglês-Grego Woodhouse. Vai a negrito para os marcadores.


sábado, 27 de outubro de 2012

Studia Humaniora

We have here a theory upon which the concept of humanitas is based, a concept that is often considered typically Roman rather than Greek. It is expressed in the famous saying of Terence: "I a a man: I consider nothing human to be foreign to me." And here we may also remember a famous passage of [Aulus] Gellius in which the two meanings of the Latin concept of humanitas are discussed. One is defined as benevolence toward all men and corresponds to the Greek concept of philanthropia (which is hence the source of the Latin humanitas). The other meaning deals with education in the human or liberal arts and corresponds to the Greek term paideia. Gellius, who emphasizes the second meaning of humanitas and treats the first nearly with scorn, does indicate that also the first one is derived from the Greek. I am inclined to think that the Terentian and Ciceronian concept of humanitas reflects a concept of Panaetius. The ambiguity of the term and the confusion of the two meaninsg were used by the humanists to give a moralistic and humanitarian color to what was their cultural ideal. In the hands of our contemporaries it has served to substitute for the culture of humanism a brand of sentimental philanthropy that is about to deprive humanistic culture of its traditional place in the schools and universities and to take over the institutions and resources originally established for it.

Paul Kristeller. Greek Philosophers of the Hellenistic Age. Columbia University Press (1993).

domingo, 21 de outubro de 2012

O Fio de Ariadne

[a partir dos 2'36'']

Tonino Guerra, que colaborava com Theo Angelopoulos no desenvolvimento dos argumentos dos  filmes deste, falou-lhe do hábito das mulheres dos sicilianos que partiam para a América lhes oferecerem alguma recordação para que se lembrassem delas. Muitas vezes, o memento era uma peça de roupa feita pela própria, como uma camisa de malha. Angelopoulos aproveitou poeticamente este pormenor histórico que Guerra partilhou com ele para a sequência em que Eleni, a protagonista de The Weeping Meadow [το λιβάδι που δακρύζει] (2004), se despede do marido, de partida para a América. Numa entrevista ao realizador, este chama a atenção para os ecos odisseicos da cena: Eleni uma nova Penélope, que oferece ao esposo um cachecol que confessa não ter tido o tempo de acabar, tal a rainha a sua teia — e, como a trama do mito, também o cachecol é desfeito porque a distância permanece (aqui: aumenta). Todavia, ao ver o filme, o primeiro paralelo que fiz não foi esse. Lembrei-me, sim, de Ariadne: era como se Eleni quisesse, como a filha de Minos, garantir ao amado o meio de saber o caminho de regresso, um regresso também ao amor dela (e daí o vermelho do fio). O facto deste se quebrar lança desde logo uma sombra sobre o resto do filme, fazendo-nos recear o fim.

Da Democracia


A luz da glória paterna não permite que nada permaneça escondido, pois de certa forma a expectativa de que a virtude hereditária venha a ser repetida concentra nesse povo os olhos de todos; de modo que se essa esperança vier a ser defraudada, a excelência da raça não trará tanto nobreza quanto vergonha.

Nichil enim sinit esse occultum paterne glorie lumen, convertitque omnium oculos expectatio et quasi repetitio hereditarie virtutis; que spes si fallat, ob claritatem quidem generis non tam nobiles illi fiunt quam noti.

Leonardo Bruni. Laudatio Florentine Urbis §43. Tradução minha.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Grego e Latim em Espanha [Addenda]

Continuando a partilha anterior, anotamos a chamada de atenção de Paula Barata Dias para as seguintes petições de protesto para a salvaguarda dos Estudos Clássicos do outro lado da península.



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Autumn Journal

IX
(…)
October comes with rain whipping around the ankles
     In waves of white at night
And filling the raw clay trenches (the parks of London
     Are a nasty sight).
In a week I return to work, lecturing, coaching,
     As impresario of the Ancient Greeks
Who wore the chiton and lived on fish and olives
     And talked philosophy or smut in cliques;
Who believed in youth and did not gloze the unpleasant
     Consequences of age;
What is life, one said, or what is pleasant
     Once you have turned the page
Of love? The days grow worse, the dice are loaded
     Against the living man who pays in tears for breath;
Never to be born was the best, call no man happy
     This side death.
Conscious — long before Engels — of necessity
     And therein free
They plotted out their life with truism and humour
     Between the jealous heaven and the callous sea.
And Pindar sang the garland of wild olive
     And Alcibiades lived from hand to mouth
Double-crossing Athens, Persia, Sparta,
     And many died in the city of plague, and many of drouth
In Sicilian quarries, and many by the spear and arrow
     And many more who told their lies too late
Caught in the eternal factions and reactions
     Of the city-state.
And free speech shivered on the pikes of Macedonia
     And later on the swords of Rome
And Athens became a mere university city
     And the goddess born of the foam
Became the kept hetæra, heroine of Menander,
     And the philosopher narrowed his focus, confined
His efforts to putting his own soul in order
     And keeping a quiet mind.
And for a thousand years they went on talking,
     Making such apt remarks,
A race no longer of heroes but of professors
     And crooked business men and secretaries and clerks,
Who turned out dapper little elegiac verses
     On the ironies of fate, the transience of all
Affections, carefully shunning an over-statement
     But working the dying fall.
The Glory that was Greece: put it in a syllabus, grade it
     Page by page
To train the mind or even to point a moral
     For the present age:
Models of logic and lucidity, dignity, sanity,
     The golden mean between opposing ills
Though there were exceptions of course but  only exceptions
     The bloody Bacchanals on the Thracian hills.
So the humanist in his room with Jacobean panels
     Chewing his pipe and looking on a lazy quad
Chops the Ancient World to turn a sermon
     To the greater glory of God.
But I can do nothing so useful or so simple;
     These dead are dead
And when I should remember the paragons of Hellas
     I think instead
Of the crooks, the adventurers, the opportunists,
     The careless athletes and the fancy boys,
The hair-splitters, the pedants, the hard-boiled sceptics
     And the Agora and the noise
Of the demagogues and the quacks; and the women pouring
     Libations over graves
And the trimmers at Delphi and the dummies at Sparta and lastly
     I think of the slaves.
And how one can imagine oneself among them
     I do not know;
It was all so unimaginably different
     And all so long ago.
Louis MacNeice,  in Collected Poems, Faber & Faber, 2007.

Grego e Latim em Espanha (et ubique)

(Gratiae agendae Laminario Vivarioque Novo)

Dentro do deserto em que vai tornando a Europa no que ao que Estudos Clássicos no ensino secundário diz respeito (onde a Alemanha é a única surpreendente excepção), a Espanha é conhecida pelo combate aberto de sucesso que há alguns anos tem vindo a travar, com o resultado positivo de a comunidade se ter conseguido manter indiscutivelmente dinâmica. Pertence a esse dinamismo o seguinte "Manifesto pela defesa das aulas de Grego e de Cultura Clássica", reacção às medidas de reforma do ensino secundário (semelhantes às actualmente em curso em Itália), que visam expulsar ou reduzir à insignificância a presença das cadeiras de tema clássico no currículo de acesso ao ensino superior. Sobre o recente sucesso legal no mesmo assunto em Portugal - mas cuja infelizmente aplicação prática, pelo que tenho testemunhado, fica bastante aquém da 'força da lei'- ver também o já-aqui-publicitado texto de Paula Barata Dias.
El catedrático Jesús de la Villa cree que lo más grave de la desaparición de Cultura Clásica es que es «la verdadera entrada» al Bachillerato de Humanidades. «Los alumnos se enganchan con esta asignatura», afirma. En su opinión, no se puede concebir un sistema educativo sin ense- ñanzas clásicas porque «es imposible entender el arte y la literatura occidental sin conocer el arte de Grecia y Roma». Además, la ausencia de esta asignatura podría afectar, a su parecer, al número de alumnos que se decantan por la modalidad de Humanidades, y posteriormente por el estudio de las Filologías en la universidad. Para María Ángeles Almela profesora de Griego en el Instituto de Educación Secundaria «Ágora» de Alcobendas, la desaparición de los estudios clásicos en la escuela sería «peor que una tragedia griega», sobre todo si tenemos en cuenta que somos un país «plagado de restos arqueológicos». «En quince años España sería un yermo cultural», advierte esta docente, que asegura que gracias a las clases de Cultura clásica, algunos «pisan un museo por primera vez».

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ars latine loquendi et scribendi - Horários

No seguimento do anúncio, e para quem tenha ficado de pé atrás pela ausência de horários, comunica-se que as aulas se realizarão nos seguintes moldes: duas turmas, uma de iniciação, outra avançada, com um bloco em conjunto e outro em separado.

Aula Geral. Terças-feira, das 18.00-19.30
Turma avançada. Quartas-feiras, das 16-17.30.
Turma de iniciação. Quinta-feira, das 18-19.30.

Tudo no Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra. Quem estiver interessado sinta-se à vontade de aparecer na próxima Terça-feira, mesmo que nunca antes tenha estudado Latim.

Estas aulas são uma iniciativa do CECH-UC e da APEC.

O Sítio

fotograma de Cesare Deve Morire (2012), dos irmãos Taviani
(roubado a um amigo)
Investigadores espanhóis declararam ter descoberto o local exato onde foi assassinado Júlio César, no ano 44 antes de Cristo (a.C.). "Sempre soubemos que Júlio César foi assassinado na Cúria de Pompeu, a 15 de março do ano 44 a.C., porque é o que nos dizem os textos clássicos", explica em comunicado Antonio Monterroso, do Centro Superior de Investigação Científica (CSIC) espanhol. "Mas até agora não tínhamos qualquer testemunho material deste acontecimento tantas vezes representado na pintura e no cinema". 

Monterroso e a sua equipa anunciaram ter descoberto uma estrutura de cimento com cerca de três metros de largura por dois de altura que foi erguido por ordem de Otávio Augusto, filho adotivo e sucessor de César, no local exato onde este foi apunhalado, em plena sessão do senado, por um um grupo de senadores. "Sabemos com exatidão qual o local onde Júlio César presidiu a essa sessão do senado e onde caiu, apunhalado, pois foi fechado por uma estrutura retangular formada por quatro paredes que delimitam uma laje de cimento", afirmou o investigador. Essa laje foi colocada por Augusto para marcar o local onde César presidiu à sua última sessão no senado romano, antes de ser aí assassinado, como forma de condenar o local, afirma o centro de pesquisas. 

Esta descoberta confirma, ainda segundo o CSIC, "que o general foi apunhalado mesmo no centro da parte inferior fundo da Cúria de Pompeu, enquanto presidia, sentado numa cadeira, à reunião do senado". A descoberta insere-se no quadro de trabalhos realizados por uma equipa de investigadores na zona arqueológica de Torre Argentina, no centro histórico de Roma, onde se encontra a Cúria de Pompeu. 

in Diário de Notícias, 10 de outubro de 2012

História, Rhetórica, e Tyrannia

A retórica socrática existe para ser um instrumento indispensável da filosofia. O seu propósito é conduzir potenciais filósofos até à filosofia quer treinando-os quer libertando-os dos encantos que obstruem o esforço filosófico, assim como para prevenir o acesso à filosofia àqueles que não são aptos. A retórica socrática é enfaticamente justa. É animada pelo espírito da responsabilidade social. É baseada na premissa de que existe uma desproporção entre a busca intransigente pela verdade e os requisitos da sociedade, ou que nem todas as verdades são sempre inócuas. A sociedade há-de sempre tentar tiranizar o pensamento. A retórica socrática é o meio clássico para frustrar sempre e para sempre essas investidas. Este mais elevado de todos os tipos de retórica não morreu com os pupilos imediatos de Sócrates. Há muitas monografias que testemunham o facto de os grandes pensadores de tempos posteriores terem usado um tipo de cuidado e de contenção ao comunicar o seu pensamento à posteridade, cuidado esse que deixou de ser apreciado: deixou de ser apreciado mais ou menos ao mesmo tempo da emergência do historicismo, no final do século XVIII.

A experiência da presente geração ensinou-nos a ler a grande literatura política do passado com outros olhos e com outras expectativas. Essa lição não pode deixar de ter importância para a nossa orientação política. Somos confrontados cara a cara com uma tirania que ameaça tornar-se, graças à "conquista da natureza" e em particular da natureza humana, naquilo que uma tirania prévia jamais se tornou: perpétua e universal. Confrontados com a alternativa tenebrosa de que o homem, ou o pensamento humano, possa ser colectivizado, seja dum só golpe e sem misericórdia, seja por processos lentos e cuidadosos, somos forçados a questionarmo-nos sobre como poderemos escapar a este dilema. Repensamos portanto quais as condições elementares e discretas da liberdade humana.

O facto de a reflexão aqui apresentada aparecer de forma histórica talvez não seja desapropriado. A colectivização ou coordenação manifesta e deliberada do pensamento está a ser preparada de maneira escondida, e muitas vezes até mesmo inconsciente, pela difusão do ensinamento de que todo o pensamento humano é colectivo, independentemente de qualquer esforço humano que tenha isso como objectivo, visto que todo o pensamento humano é histórico. Parece não haver maneira mais apropriada de combater esse ensinamento do que o estudo da história.

Leo Strauss. On Tyranny. Chicago University Press. 
Tradução minha.

domingo, 14 de outubro de 2012

σύμβολα τῆς εὐϕροσύνης

As Rosas de Heliogábalo (1888), de Alma-Tadema
Breve e triste é a nossa vida,
não há remédio algum quando chega a morte.
E também não se conhece ninguém
que tenha regressado do mundo dos mortos.
Foi por acaso que viemos à existência
e, depois, será como se não tivéssemos existido!
A respiração das nossas narinas é apenas fumo,
e o pensamento, uma centelha do bater do coração!
Quando ela se apaga, o nosso corpo voltará ao pó
e o nosso espírito se dissolverá como o ar subitl.
Com o tempo, o nosso nome cairá no esquecimento,
e ninguém se lembrará das nossas obras.
A nossa vida é como uma nuvem que passa sem deixar rasto,
há-de dissipar-se como bruma,
ferida pelos raios do sol
e abatida pelo seu calor.
O tempo da nossa vida é como sombra que passa,
e o nosso fim não se pode adiar,
pois a vida está selada e ninguém pode voltar atrás.
Vinde, pois! Gozemos dos bens presentes,
tiremos prazer das criaturas com o ardor da nossa juventude!
Inebriemo-nos do melhor vinho e de perfumes,
e não deixemos passar as primeiras flores da Primavera!
Coroemo-nos de botões de rosas, antes que murchem!
Nenhum de nós falte às nossas [festas];
deixemos em toda a parte sinais da nossa alegria,
pois esta é a nossa parte e a nossa herança.

Sb 2, 1-9, retirado da Nova Bíblia dos Capuchinhos
Difusora Bíblica, Lisboa/Fátima: 1998. (trad.: Eduardo Pereira da Silva)

[᾽Ολίγος ἐστὶν καὶ λυπηρὸς ὁ βίος ἡμῶν, καὶ οὐκ ἔστιν ἴασις ἐν τελευτῇ ἀνϑρώπου, καὶ οὐκ ἐγνώσϑη ὁ ἀναλύσας ἐξ ᾅδου. ὅτι αὐτοσχεδίως ἐγενήϑημεν καὶ μετὰ τοῦτο ἐσόμεϑα ὡς οὐχ ὑπάρξαντες· ὅτι καπνὸς ἡ πνοὴ ἐν ϱισὶν ἡμῶν, καὶ ὁ λόγος σπινϑὴρ ἐν κινήσει καρδίας ἡμῶν, οὗ σβεσϑέντος τέϕρα ἀποβήσεται τὸ σῶμα καὶ τὸ πνεῦμα διαχυϑήσεται ὡς χαῦνος ἀήρ. καὶ τὸ ὄνομα ἡμῶν ἐπιλησϑήσεται ἐν χρόνῳ, καὶ οὐϑεὶς μνημονεύσει τῶν ἔργων ἡμῶν· καὶ παρελεύσεται ὁ βίος ἡμῶν ὡς ἴχνη νεϕέλης καὶ ὡς ὁμίχλη διασκεδασϑήσεται διωχϑεῖσα ὑπὸ ἀκτίνων ἡλίου καὶ ὑπὸ ϑερμότητος αὐτοῦ βαρυνϑεῖσα. σκιᾶς γὰρ πάροδος ὁ καιρὸς ἡμῶν, καὶ οὐκ ἔστιν ἀναποδισμὸς τῆς τελευτῆς ἡμῶν, ὅτι κατεσϕραγίσϑη καὶ οὐδεὶς ἀναστρέϕει. δεῦτε οὖν καὶ ἀπολαύσωμεν τῶν ὄντων ἀγαϑῶν καὶ χρησώμεϑα τῇ κτίσει ὡς ἐν νεότητι σπουδαίως· οἴνου πολυτελοῦς καὶ μύρων πλησϑῶμεν, καὶ μὴ παροδευσάτω ἡμᾶς ἄνϑος ἔαρος· στεψώμεϑα ϱόδων κάλυξιν πρὶν ἢ μαρανϑῆναι· μηδεὶς ἡμῶν ἄμοιρος ἔστω τῆς ἡμετέρας ἀγερωχίας, πανταχῇ καταλίπωμεν σύμβολα τῆς εὐϕροσύνης, ὅτι αὕτη ἡ μερὶς ἡμῶν καὶ ὁ κλῆρος οὗτος.]

sábado, 13 de outubro de 2012

Uma Luz Demasiado Forte


HORTON: Can you say something about your new script?
ANGELOPOULOS: It concerns a filmmaker who has lost the will to make films. One day while he is visiting the sacred island of Delos, the birth-place of Apollo, from a crack in the ground a marble head of Apollo mysteriously rises from the ground and shatters into many pieces. The filmmaker tries to take a picture of this event, but when he develops it, he sees that nothing appears. You see, the head had emerged from the spot where Apollo, the god of light, had first appeared. The light at such a spot, the source of light, was too strong for the camera! (Angeloupoulos smiles.) This event leads him to think about the first film ever made in the Balkans and he learns that there was one film that was never developed. The film then becomes the filmmaker's search for this film and for his own need for inspiration, across the Balkans: Bulgaria, Greece, Skopje, Albania, Romania, Belgrade, and finally Sarajevo. (He details a few more plot turns.) Finally in Sarajevo in the bombed-out film archive as bombs go off around him, he is able to see this first film, which a film archivist in Sarajevo at last develops. It is a 1902 black-and-white silent film of an actor playing Odysseus, washed up on the shore of Ithaca at the end of the voyage. The actor-Odysseus looks out at the filmmaker and across the twentieth century: Ulysses' Gaze is completed!

entrevista a Angelopoulos em 1993, parcialmente publicada em 
Andrew Horton, The Films of Theo Angelopoulos. A Cinema of Contemplation.
Princeton University Press, Princeton: 1999 [2ª edição].  

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cybele


... Fritz Saxl drew attention to Mantegna's picture (in the National Gallery) of the cult of Cybele being introduced to Rome by Scipio as an early example of an attempt to paint a subject from ancient history in a historically correct manner...

Peter Burke. The Renaissance Sense of the Past (1969).

sábado, 6 de outubro de 2012

Aulas de Latim falado e escrito

NOTA BENE. Os horários, entretanto anunciados, encontram-se aqui.

Para dar os primeiros passos no uso activo do Latim, dito viva voce.

Estas aulas têm como objectivo auxiliar nos primeiros passos no uso activo da língua latina, tanto falada quanto escrita. A quem já estuda a parte receptiva do Latim — aprendendo principalmente a ler e a traduzir — o treino de fala e de escrita fornece a capacidade para interiorizar as estruturas gramaticais e vocabulares da língua, de maneira a conseguir lidar com os textos clássicos, medievais, modernos, de maneira muito menos mecânica. O objectivo é trabalhar o mais possível em Latim, reduzindo tanto quanto possível a presença do vernáculo no manuseamento dos autores.

São bem-vindos todos aqueles que começam a estudar Latim este ano ou que o já estudaram em anos passados. As aulas são gratuitas. Poderá haver uma ou duas turmas, dependendo do número e do nível prévio dos alunos, sendo que do horário constarão dois blocos semanais de 1h30 cada. Pede-se a todas as pessoas interessadas que compareçam no Instituto de Estudos Clássicos da FLUC pelas 14h do dia 15/10 para se encontrar um horário viável. Quem não tiver possibilidade de estar presente nessa primeira data, envie-me um email (ver abaixo) com a sua disponibilidade.

Uma iniciativa do Centro de Estudos Clássicos & Humanísticos da Universidade de Coimbra.

Para mais informações:
Miguel Monteiro (CECH): miguelsena em gmail.com
(ou perguntar no Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Política & Vida


Deixar a família, originalmente para abraçar alguma empresa aventureira e gloriosa, e mais tarde simplesmente para dedicar a vida aos negócios da cidade, exigia coragem, pois era só no lar que o homem se empenhava basicamente em defender a vida e a sobrevivência. Quem quer que ingressasse na esfera política deveria, em primeiro lugar, estar disposto a arriscar a própria vida; o excessivo amor à vida era um obstáculo à liberdade e sinal inconfundível de servilismo. A coragem, portanto, tornou-se a virtude política por excelência, e só aqueles que a possuíam podiam ser admitidos a uma associação dotada de conteúdo e finalidades políticos e que por isso mesmo transcendia o mero companheirismo imposto a todos — escravos, bárbaros e gregos — pelas exigências da vida. A vida «boa», como Aristóteles qualificava a vida da cidadão, era, portanto, não apenas melhor, mais livre de cuidados ou mais nobre que a vida ordinária, mas possuía qualidade inteiramente diferente. Era «boa» exactamente porque, tendo dominado as necessidades do mero viver, tendo-se libertado do labor e do trabalho, e tendo superado o anseio inato de sobrevivência comum a todas as criaturas vivas, deixava de ser limitada ao processo biológico da vida.

Hannah Arendt, A Condição Humana, pp. 45-46
Editora Forense-Universitária, Rio de Janeiro: 1981.(trad.: Roberto Raposo).