sábado, 19 de novembro de 2011

Notas Sobre O Destino da "Terra do Poente"


Que me adiantará, aliás, a tua benevolência se tenho já aqui algo impossível de dizer em latim, facto que originou a minha ira contra a nossa língua? Maior será a tua condenação da pobreza vocabular romana quando souberes que é uma única sílaba aquilo que eu não consigo traduzir. Queres saber qual é? Τὸ ὄν ("o ser"). Posso parecer-te homem de fraco engenho: há um recurso imediato, posso verter esse conceito por quod est ("aquilo que é"). Mas é evidente a diferença entre as duas: sou obrigado a usar um verbo em vez de um nome. A necessidade obriga, porém, a dizer "aquilo que é"! 

[Quid proderit facilitas tua, cum ecce id nullo modo Latine exprimere possim propter quod linguae nostrae convicium feci? Magis damnabis angustias Romanas, si scieris unam syllabam esse quam mutare non possum. Quae sit haec quaeris? 'to on'. Duri tibi videor ingenii: in medio positum, posse sic transferri ut dicam 'quod est'. Sed multum interesse video: cogor verbum pro vocabulo ponere; sed si ita necesse est, ponam 'quod est'.]

Séneca, Cartas a Lucílio VI.58.7 
Gulbenkian, Lisboa: 2009. (trad.: J. A. Segurado e Campos)

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