Toda a ideia de progresso é contrariada pela existência da Ilíada. A perfeição do primeiro excerto torna ridícula a pretensão de ascensão progressiva. Mas a Ilíada é, ao mesmo tempo, uma acção provocatória em relação às formas, desafia-as e envolve-as num leque que deve ainda abrir-se. E isso precisamente graças à nitidez imperiosa com que do seu interior é excluído, e quase expulso, o que depois, durante séculos, se articularia na palavra. Aquele início perfeito evoca obstáculos ausentes, Mallarmé.
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, pg. 108
Cotovia, Lisboa: 1990. (trad.: Maria Jorge Vilar de Figueiredo).
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