Antoine Coypel, Estudo para o Funeral de Palante |
O último Boletim de Estudos Clássicos (Dezembro 2011: o próximo está no prelo, ao que me dizem), que, por um conjunto de vicissitudes, só agora me veio parar às mãos, traz a tradução de uma das quarenta e sete questões abordadas no De Floribus Philosophiae do jesuíta Francisco de Mendonça, a saber: serão os pigmeus verdadeiros homens? O autor procura perceber a verdade da coisa e concorda com as autoridades antigas. Entre os seus muitos argumentos, apresenta um que lembra, na lógica, o que está por detrás do raciocínio da personagem de Samuel L. Jackson no Protegido (2000), de Shyamalan: sabemos que existiram homens gigantes — é natural, portanto, que também tenha havido homens minúsculos (o que os antigos falharam em perceber é que, obviamente, se estavam a referir a uma espécie hoje bem estudada e de todos nós conhecida: os hobbits). Ora quando Francisco de Mendonça apresenta as provas da existência de gigantes, sai-se com isto a páginas tantas:
E, nas letras profanas, é conhecido de todos que Palante, aquele filho de Evandro que Turno matou, ultrapassava, com a sua cabeça, as muralhas da cidade de Roma; pois, quando no ano de 800 depois de Cristo, o seu corpo foi encontrado junto das muralhas da cidade e foi erguido, inteiro, em seus pés, ultrapassava com os ombros as ameias dos muros.
Aparentemente, explica uma nota da tradutora (Carlota Urbano), esta estória circulava, pois aparece até num livro de ideias para sermões. Ficaria muito contente se alguém me arranjasse mais testemunhos de tão prodigiosa descoberta, confessando que não fiz ainda grandes investigações sobre o assunto, que todavia cativou o meu interesse: não é todos os dias que, já em plena época cristã, se desenterra o corpo de um gigante e este é identificado - e as causas da identificação é o que maior curiosidade me suscita - com um herói da Eneida.
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