As lendas começam e acabam com a paisagem. Micenas não teria a sua epopeia sangrenta se não fosse decerto aquela escalvada e feroz amplidão onde se situam ainda os seus alicerces. Abre-se a Porta das Leoas para as pedregosas veredas coroadas, em tempos fantasticamente antigos, pelo palácio de Egisto; esse Egisto em que Macbeth parece decalcar-se, na turbulência dos seus crimes que são debilidades epilépticas, mais do que exigências de Estado. Do cômoro funesto, vêem-se as planícies que se estendem até Nauplion; vêem-se, na transparência do ar seco, os recortes das aves e das gentes. A distância assombra pelo rigor em que os podemos detalhar. E Micenas parece-nos ainda hoje inatingível de surpresa; não somos recém-chegados quando nos avizinhamos dela - somos mensageiros que de muito longe fomos reconhecidos.
Em todo o fabuloso Peloponeso, é Micenas um lugar que conserva intacta a sua atmosfera dramática.
Agustina Bessa-Luís, Conversações com Dmitri e Outras Fantasias, Relógio d'Água, 1992
Em todo o fabuloso Peloponeso, é Micenas um lugar que conserva intacta a sua atmosfera dramática.
Agustina Bessa-Luís, Conversações com Dmitri e Outras Fantasias, Relógio d'Água, 1992
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