O
declínio do poderio romano para mim tem início com o fim da
liberdade que tem origem no momento em que Roma começa a ser serva dos
imperadores. É verdade que Augusto e Traiano não foram
completamente maus, e que ainda houve outros imperadores meritórios.
Ainda assim, se alguém começar a passar em revista os homens
excelentes caídos aquando da guerra de Júlio César, e mais tarde
aqueles que o próprio Augusto trucidou no seu cruel triunvirato, se
se levar em consideração a selvajaria de Tibério, a cólera de
Calígula, a loucura de Cláudio, os crimes e a insânia do reinado de Nero, se ainda para mais se puser a contar esses
Vitélios, Caracalas, Heliogabalos, Maximinos, e mais todos esses
mostros e calamidades da raça humana, jamais poderá negar que o
poderio romano começou a ruir a partir do momento em que o nome de
César se apossou do estado como uma peste. A Liberdade teve que dar
lugar ao Império, e após a Liberdade também a Virtude
partiu.
Isto porque antes o caminho para as honras públicas passava
pela virtude, e aqueles conhecidos pela sua magnanimidade,
virtude, e responsabilidade tinham o caminho facilitado para
acederem aos consulatus
às
dictaturæ,
e aos restantes cargos políticos. Porém,
quando o Estado passou a ser pertença de um só, aqueles que
detinham o poder começaram a suspeitar da virtude e da
magnanimidade. Os imperadores só gostavam daqueles a quem faltava
aquela força e aquele engenho que apenas o desejo de liberdade é
capaz de estimular. O palácio imperial preferia os preguiçosos aos corajosos, os aduladores aos responsáveis, e
assim que a governação do estado foi entregue aos piores, esses
trataram de começar a arruinar o império por dentro. Mas encarando
a desgraça de frente, porque é que nos deveríamos lamentar só
pelo fim da virtude, quando na realidade estava em causa a destruição
geral de todo Estado? Quantas luzes da república foram extintas por
Júlio César! De quanta nobreza não foi o Estado privado! Sob
Augusto, quer tenha sido por necessidade quer por maldade, quantos
não foram proscritos e condenados à morte! Quantos não
desapareceram, eliminados! De modo que que ao momento em que as mortes e o sangue cessaram não faz sentido que
se chame clemência, mas sim
crueldade cansada.
Leonardo Bruni. História do Povo Florentino I. Tradução minha.
Declinationem
romani imperii ab eo fere tempore ponendam reor quo, amissa
libertate, imperatoribus servire Roma incepit. Etsi enim non nihil
profuisse Augustus et Trajanus, etsi qui fuerunt alii laude principes
digni videantur, tamen, si quis excellentes viros primum a C. Julio
Cæsare bello, deinde ab ipso Augusto triumviratu illo nefario
crudelissime trucidatos; si postea Tiberii sævitiam, Caligulæ
furorem, Claudii dementiam, Neronis scelera et rabiem ferro igneque
bacchantem; si postea Vitellios, Caracallas, Heliogabalos, Maximinos
et alia hujusmodi monstra et orbis terrarum portenta reputare
voluerit, negare non poterit tunc romanum imperium ruere cœpisse,
quum primo cæsareum nomen, tamquam clades aliqua, civitati incubuit.
Cessit enim libertas imperatorio nomini, et post libertatem virtus
abivit. Prius namque per virtutem ad honores via fuit, iisque ad
consulatus dictaturas et ceteros amplissimos dignitatis gradus
facillime patebat iter, qui magnitudine animi, virtute et industria
ceteros anteibant.
Mox vero ut res publica in
potestatem unius devenit, virtus et magnitudo animi suspecta
dominantibus esse cœpit. Hique solum imperatoribus placebat quibus
non ea vis ingenii esset quam libertatis cura stimulare posset. Ita
pro fortibus ignavos, pro industriis adulatores imperatoria suscepit
aula, et rerum gubernacula ad peiores delata ruinam imperii paulatim
dedere. Quamquam quid virtutis repulsam quis deploret ac non potius
communem civitatis interitum? Quot enim rei publicæ lumina sub Julio
Caesare extincta sunt! Quantis princibus civitas oborta! Sub Augusto
inde, sive id necessarium fuerit sive malignum, quanta proscriptio!
Quot absumpti cives! Quot deleti! Ut merito, quum tandem a cædibus
et cruore cessaret, non clementia illa sed fessa crudelitas
putaretur.
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