terça-feira, 19 de agosto de 2014

Em Honra de Augusto César Octaviano


O declínio do poderio romano para mim tem início com o fim da liberdade que tem origem no momento em que Roma começa a ser serva dos imperadores. É verdade que Augusto e Traiano não foram completamente maus, e que ainda houve outros imperadores meritórios. Ainda assim, se alguém começar a passar em revista os homens excelentes caídos aquando da guerra de Júlio César, e mais tarde aqueles que o próprio Augusto trucidou no seu cruel triunvirato, se se levar em consideração a selvajaria de Tibério, a cólera de Calígula, a loucura de Cláudio, os crimes e a insânia do reinado de Nero, se ainda para mais se puser a contar esses Vitélios, Caracalas, Heliogabalos, Maximinos, e mais todos esses mostros e calamidades da raça humana, jamais poderá negar que o poderio romano começou a ruir a partir do momento em que o nome de César se apossou do estado como uma peste. A Liberdade teve que dar lugar ao Império, e após a Liberdade também a Virtude partiu. 

Isto porque antes o caminho para as honras públicas passava pela virtude, e aqueles conhecidos pela sua magnanimidade, virtude, e responsabilidade tinham o caminho facilitado para acederem aos consulatus às dictaturæ, e aos restantes cargos políticos. Porém, quando o Estado passou a ser pertença de um só, aqueles que detinham o poder começaram a suspeitar da virtude e da magnanimidade. Os imperadores só gostavam daqueles a quem faltava aquela força e aquele engenho que apenas o desejo de liberdade é capaz de estimular. O palácio imperial preferia os preguiçosos aos corajosos, os aduladores aos responsáveis, e assim que a governação do estado foi entregue aos piores, esses trataram de começar a arruinar o império por dentro. Mas encarando a desgraça de frente, porque é que nos deveríamos lamentar só pelo fim da virtude, quando na realidade estava em causa a destruição geral de todo Estado? Quantas luzes da república foram extintas por Júlio César! De quanta nobreza não foi o Estado privado! Sob Augusto, quer tenha sido por necessidade quer por maldade, quantos não foram proscritos e condenados à morte! Quantos não desapareceram, eliminados! De modo que que ao momento em que as mortes e o sangue cessaram não faz sentido que se chame clemência, mas sim crueldade cansada.


Leonardo Bruni. História do Povo Florentino I. Tradução minha.



Declinationem romani imperii ab eo fere tempore ponendam reor quo, amissa libertate, imperatoribus servire Roma incepit. Etsi enim non nihil profuisse Augustus et Trajanus, etsi qui fuerunt alii laude principes digni videantur, tamen, si quis excellentes viros primum a C. Julio Cæsare bello, deinde ab ipso Augusto triumviratu illo nefario crudelissime trucidatos; si postea Tiberii sævitiam, Caligulæ furorem, Claudii dementiam, Neronis scelera et rabiem ferro igneque bacchantem; si postea Vitellios, Caracallas, Heliogabalos, Maximinos et alia hujusmodi monstra et orbis terrarum portenta reputare voluerit, negare non poterit tunc romanum imperium ruere cœpisse, quum primo cæsareum nomen, tamquam clades aliqua, civitati incubuit. Cessit enim libertas imperatorio nomini, et post libertatem virtus abivit. Prius namque per virtutem ad honores via fuit, iisque ad consulatus dictaturas et ceteros amplissimos dignitatis gradus facillime patebat iter, qui magnitudine animi, virtute et industria ceteros anteibant.

Mox vero ut res publica in potestatem unius devenit, virtus et magnitudo animi suspecta dominantibus esse cœpit. Hique solum imperatoribus placebat quibus non ea vis ingenii esset quam libertatis cura stimulare posset. Ita pro fortibus ignavos, pro industriis adulatores imperatoria suscepit aula, et rerum gubernacula ad peiores delata ruinam imperii paulatim dedere. Quamquam quid virtutis repulsam quis deploret ac non potius communem civitatis interitum? Quot enim rei publicæ lumina sub Julio Caesare extincta sunt! Quantis princibus civitas oborta! Sub Augusto inde, sive id necessarium fuerit sive malignum, quanta proscriptio! Quot absumpti cives! Quot deleti! Ut merito, quum tandem a cædibus et cruore cessaret, non clementia illa sed fessa crudelitas putaretur.

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